Decretos de emergência por queimadas disparam e áreas onde vivem 4,4 milhões são afetadas


Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios aponta 118 medidas deste tipo somente em agosto, 52 delas em São Paulo, onde o fogo avançou desde o fim da semana passada

Por Redação
Atualização:

A quantidade de municípios que decretaram situação de emergência em função do avanço das queimadas florestais saltou durante agosto no País. Foram 118 decretos dessa natureza desde o início do mês, 51 deles no Estado de São Paulo, que viu o fogo avançar com grande intensidade a partir do fim da semana passada. As ocorrências vêm se avolumando também na Amazônia e no Pantanal nos últimos meses.

O balanço foi feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com base em dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Além de São Paulo, aparecem em destaque no levantamento os Estados do Mato Grosso (35 decretos), e Acre (22). Na noite desta terça-feira, 27, o Pará decretou emergência pela mesma razão.

O decreto de emergência autoriza ao poder público local, por exemplo, a dispensa de licitação para contratações, o que pode ser necessário em situações de desastre climático. Segundo especialistas, eventos extremos ficarão mais graves e frequentes nos próximos anos por causa do aquecimento global.

  • 167 decretos de incêndios florestais de janeiro a agosto de 2024, sendo 118 deles só no mês de agosto;
  • Em 2023, o número de janeiro a agosto havia sido de 57, sendo 26 em agosto daquele ano.

“Nesse contexto, já são mais de 4,4 milhões de pessoas afetadas de janeiro até agosto, sendo que desse total, 4 milhões foram afetadas apenas em agosto”, destaca a entidade.“Os impactos ambientais são incalculáveis e se traduzem na perda da biodiversidade do País. Já os danos e prejuízos ainda estão sendo mensurados pelos gestores municipais, mas fato é que os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimentos, bem como prejudicam o abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos.”

Brigadista atua contra incêndio próximo ao aeroporto de Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A CNM estima prejuízo que supera os R$ 37 milhões, entre efeitos sobre a agropecuária e gastos com assistência médica emergencial. As cifras, no entanto, podem ser bem mais elevadas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta semana que é difícil estimar os prejuízos neste momento, mas a perda seguramente vai superar R$ 1 bilhão.

Foram contabilizados até terça-feira, 28, 44.600 hectares de área queimada, resultando na destruição de muitas instalações, perda de animais e lavouras.

O governador lamentou especialmente o impacto sobre os produtores de cana-de-açúcar, ressaltando a importância dessa cultura para a balança comercial de São Paulo.

O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado de São Paulo foi o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Até o dia 23, quando o número de focos disparou, haviam sido registradas 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).

Um número tão elevado de focos não era visto em São Paulo desde agosto de 2021, quando houve 2.277 casos. Antes da marca de 2024, a quantidade mais expressiva em agosto tinha sido vista em 2010, com 2.444 focos.

Na Amazônia, mesmo com o desmate em queda, mais de 43 mil focos de fogo já foram detectados, pior taxa desde 2007 no bioma para o período de 1º de janeiro a 20 de agosto, segundo o Inpe. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido cobrada para dar resposta mais efetiva de prevenção e combate às chamas. O Ministério do Meio Ambiente diz ter no momento 1.489 brigadistas na região.

A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo foi sancionada no último dia 31 de julho. A política regula o uso do fogo no meio rural, definindo diretrizes para queimadas controladas (para fins agropecuários) e prescritas (para fins de conservação), mediante autorização prévia dos órgãos competentes, entre outras medidas de prevenção.

Temporada de seca segue até outubro

As condições climáticas para a propagação do fogo em São Paulo devem voltar até sexta-feira, 30, segundo especialistas. Entre os fatores, estão a baixa umidade, o calor excessivo e ventos acima de 30km/h.

Bombeiro atua contra queimada em Humaitá, no Amazonas Foto: Mauro Neto/Secom - 18/4/2024

Com o afastamento da frente fria, a expectativa é de que a temperatura volte a subir. Governo federal e cientistas preveem que a temporada seca se estenda até outubro, o que eleva o risco de fogo.

Dadas as condições climáticas favoráveis, o fogo se espalhou rapidamente. “Temos uma ferramenta para informar à Defesa Civil, que leva em conta temperatura, umidade, seca e vento”, diz o coordenador de operações do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi.

“São muitos dias consecutivos de seca, sem chuva, por isso esta época do ano é particularmente crítica, temperatura acima de 30ºC, umidade abaixo dos 30% e ventos acima de 30km/h”, acrescenta ele.

Conforme Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, a frente fria que passou pelo Centro-Sul do País desde o fim da semana passada ajuda a carregar a fumaça por tantos quilômetros. “O ar das queimadas é quente e, por isso, mais leve. Já o ar da frente fria é mais denso, pesado. A frente fria ajuda a compactar a fumaça, a impedindo de se dissipar e a arrastando para outros Estados”, diz.

O que fazer? Exemplos internacionais oferecem caminhos

Incêndios florestais têm se tornado mais intensos e atingido mais áreas no Brasil e em outras partes do mundo. Estados Unidos, Canadá e Chile bateram recordes em suas temporadas de fogo em anos recentes.

Para Osvaldo Barassi Gajardo, especialista de conservação e coordenador do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, os incêndios em São Paulo nos últimos dias têm semelhanças com os que atingiram a região de Valparaíso, no Chile, no início de 2024. Assim como muitas áreas que queimaram no interior paulista eram de plantações de cana, no país andino foram plantações de pínus e eucalipto.

Na Corporação Nacional Florestal do Chile, órgão responsável pela gestão dos parques nacionais e pelo controle dos incêndios florestais, há um efetivo mínimo de brigadistas contratados permanentemente, que é ampliado por contratações temporárias nas épocas mais críticas. Eles realizam ações de prevenção e planejamento de manejo do fogo durante todo o ano.

No Brasil, as brigadas federais são contratadas temporariamente para atuar na temporada de fogo, e as funções do órgão florestal do Chile estão distribuídas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o PrevFogo, Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama. Esses dois órgãos federais atuam muitas vezes em colaboração, como nas queimas prescritas realizadas em unidades de conservação. /COLABORARAM CAIO POSSATI, GIOVANNA CASTRO, JULIANA DOMINGOS DE LIMA, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, ROBERTA JANSEN

A quantidade de municípios que decretaram situação de emergência em função do avanço das queimadas florestais saltou durante agosto no País. Foram 118 decretos dessa natureza desde o início do mês, 51 deles no Estado de São Paulo, que viu o fogo avançar com grande intensidade a partir do fim da semana passada. As ocorrências vêm se avolumando também na Amazônia e no Pantanal nos últimos meses.

O balanço foi feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com base em dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Além de São Paulo, aparecem em destaque no levantamento os Estados do Mato Grosso (35 decretos), e Acre (22). Na noite desta terça-feira, 27, o Pará decretou emergência pela mesma razão.

O decreto de emergência autoriza ao poder público local, por exemplo, a dispensa de licitação para contratações, o que pode ser necessário em situações de desastre climático. Segundo especialistas, eventos extremos ficarão mais graves e frequentes nos próximos anos por causa do aquecimento global.

  • 167 decretos de incêndios florestais de janeiro a agosto de 2024, sendo 118 deles só no mês de agosto;
  • Em 2023, o número de janeiro a agosto havia sido de 57, sendo 26 em agosto daquele ano.

“Nesse contexto, já são mais de 4,4 milhões de pessoas afetadas de janeiro até agosto, sendo que desse total, 4 milhões foram afetadas apenas em agosto”, destaca a entidade.“Os impactos ambientais são incalculáveis e se traduzem na perda da biodiversidade do País. Já os danos e prejuízos ainda estão sendo mensurados pelos gestores municipais, mas fato é que os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimentos, bem como prejudicam o abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos.”

Brigadista atua contra incêndio próximo ao aeroporto de Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A CNM estima prejuízo que supera os R$ 37 milhões, entre efeitos sobre a agropecuária e gastos com assistência médica emergencial. As cifras, no entanto, podem ser bem mais elevadas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta semana que é difícil estimar os prejuízos neste momento, mas a perda seguramente vai superar R$ 1 bilhão.

Foram contabilizados até terça-feira, 28, 44.600 hectares de área queimada, resultando na destruição de muitas instalações, perda de animais e lavouras.

O governador lamentou especialmente o impacto sobre os produtores de cana-de-açúcar, ressaltando a importância dessa cultura para a balança comercial de São Paulo.

O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado de São Paulo foi o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Até o dia 23, quando o número de focos disparou, haviam sido registradas 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).

Um número tão elevado de focos não era visto em São Paulo desde agosto de 2021, quando houve 2.277 casos. Antes da marca de 2024, a quantidade mais expressiva em agosto tinha sido vista em 2010, com 2.444 focos.

Na Amazônia, mesmo com o desmate em queda, mais de 43 mil focos de fogo já foram detectados, pior taxa desde 2007 no bioma para o período de 1º de janeiro a 20 de agosto, segundo o Inpe. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido cobrada para dar resposta mais efetiva de prevenção e combate às chamas. O Ministério do Meio Ambiente diz ter no momento 1.489 brigadistas na região.

A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo foi sancionada no último dia 31 de julho. A política regula o uso do fogo no meio rural, definindo diretrizes para queimadas controladas (para fins agropecuários) e prescritas (para fins de conservação), mediante autorização prévia dos órgãos competentes, entre outras medidas de prevenção.

Temporada de seca segue até outubro

As condições climáticas para a propagação do fogo em São Paulo devem voltar até sexta-feira, 30, segundo especialistas. Entre os fatores, estão a baixa umidade, o calor excessivo e ventos acima de 30km/h.

Bombeiro atua contra queimada em Humaitá, no Amazonas Foto: Mauro Neto/Secom - 18/4/2024

Com o afastamento da frente fria, a expectativa é de que a temperatura volte a subir. Governo federal e cientistas preveem que a temporada seca se estenda até outubro, o que eleva o risco de fogo.

Dadas as condições climáticas favoráveis, o fogo se espalhou rapidamente. “Temos uma ferramenta para informar à Defesa Civil, que leva em conta temperatura, umidade, seca e vento”, diz o coordenador de operações do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi.

“São muitos dias consecutivos de seca, sem chuva, por isso esta época do ano é particularmente crítica, temperatura acima de 30ºC, umidade abaixo dos 30% e ventos acima de 30km/h”, acrescenta ele.

Conforme Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, a frente fria que passou pelo Centro-Sul do País desde o fim da semana passada ajuda a carregar a fumaça por tantos quilômetros. “O ar das queimadas é quente e, por isso, mais leve. Já o ar da frente fria é mais denso, pesado. A frente fria ajuda a compactar a fumaça, a impedindo de se dissipar e a arrastando para outros Estados”, diz.

O que fazer? Exemplos internacionais oferecem caminhos

Incêndios florestais têm se tornado mais intensos e atingido mais áreas no Brasil e em outras partes do mundo. Estados Unidos, Canadá e Chile bateram recordes em suas temporadas de fogo em anos recentes.

Para Osvaldo Barassi Gajardo, especialista de conservação e coordenador do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, os incêndios em São Paulo nos últimos dias têm semelhanças com os que atingiram a região de Valparaíso, no Chile, no início de 2024. Assim como muitas áreas que queimaram no interior paulista eram de plantações de cana, no país andino foram plantações de pínus e eucalipto.

Na Corporação Nacional Florestal do Chile, órgão responsável pela gestão dos parques nacionais e pelo controle dos incêndios florestais, há um efetivo mínimo de brigadistas contratados permanentemente, que é ampliado por contratações temporárias nas épocas mais críticas. Eles realizam ações de prevenção e planejamento de manejo do fogo durante todo o ano.

No Brasil, as brigadas federais são contratadas temporariamente para atuar na temporada de fogo, e as funções do órgão florestal do Chile estão distribuídas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o PrevFogo, Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama. Esses dois órgãos federais atuam muitas vezes em colaboração, como nas queimas prescritas realizadas em unidades de conservação. /COLABORARAM CAIO POSSATI, GIOVANNA CASTRO, JULIANA DOMINGOS DE LIMA, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, ROBERTA JANSEN

A quantidade de municípios que decretaram situação de emergência em função do avanço das queimadas florestais saltou durante agosto no País. Foram 118 decretos dessa natureza desde o início do mês, 51 deles no Estado de São Paulo, que viu o fogo avançar com grande intensidade a partir do fim da semana passada. As ocorrências vêm se avolumando também na Amazônia e no Pantanal nos últimos meses.

O balanço foi feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com base em dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Além de São Paulo, aparecem em destaque no levantamento os Estados do Mato Grosso (35 decretos), e Acre (22). Na noite desta terça-feira, 27, o Pará decretou emergência pela mesma razão.

O decreto de emergência autoriza ao poder público local, por exemplo, a dispensa de licitação para contratações, o que pode ser necessário em situações de desastre climático. Segundo especialistas, eventos extremos ficarão mais graves e frequentes nos próximos anos por causa do aquecimento global.

  • 167 decretos de incêndios florestais de janeiro a agosto de 2024, sendo 118 deles só no mês de agosto;
  • Em 2023, o número de janeiro a agosto havia sido de 57, sendo 26 em agosto daquele ano.

“Nesse contexto, já são mais de 4,4 milhões de pessoas afetadas de janeiro até agosto, sendo que desse total, 4 milhões foram afetadas apenas em agosto”, destaca a entidade.“Os impactos ambientais são incalculáveis e se traduzem na perda da biodiversidade do País. Já os danos e prejuízos ainda estão sendo mensurados pelos gestores municipais, mas fato é que os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimentos, bem como prejudicam o abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos.”

Brigadista atua contra incêndio próximo ao aeroporto de Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A CNM estima prejuízo que supera os R$ 37 milhões, entre efeitos sobre a agropecuária e gastos com assistência médica emergencial. As cifras, no entanto, podem ser bem mais elevadas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta semana que é difícil estimar os prejuízos neste momento, mas a perda seguramente vai superar R$ 1 bilhão.

Foram contabilizados até terça-feira, 28, 44.600 hectares de área queimada, resultando na destruição de muitas instalações, perda de animais e lavouras.

O governador lamentou especialmente o impacto sobre os produtores de cana-de-açúcar, ressaltando a importância dessa cultura para a balança comercial de São Paulo.

O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado de São Paulo foi o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Até o dia 23, quando o número de focos disparou, haviam sido registradas 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).

Um número tão elevado de focos não era visto em São Paulo desde agosto de 2021, quando houve 2.277 casos. Antes da marca de 2024, a quantidade mais expressiva em agosto tinha sido vista em 2010, com 2.444 focos.

Na Amazônia, mesmo com o desmate em queda, mais de 43 mil focos de fogo já foram detectados, pior taxa desde 2007 no bioma para o período de 1º de janeiro a 20 de agosto, segundo o Inpe. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido cobrada para dar resposta mais efetiva de prevenção e combate às chamas. O Ministério do Meio Ambiente diz ter no momento 1.489 brigadistas na região.

A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo foi sancionada no último dia 31 de julho. A política regula o uso do fogo no meio rural, definindo diretrizes para queimadas controladas (para fins agropecuários) e prescritas (para fins de conservação), mediante autorização prévia dos órgãos competentes, entre outras medidas de prevenção.

Temporada de seca segue até outubro

As condições climáticas para a propagação do fogo em São Paulo devem voltar até sexta-feira, 30, segundo especialistas. Entre os fatores, estão a baixa umidade, o calor excessivo e ventos acima de 30km/h.

Bombeiro atua contra queimada em Humaitá, no Amazonas Foto: Mauro Neto/Secom - 18/4/2024

Com o afastamento da frente fria, a expectativa é de que a temperatura volte a subir. Governo federal e cientistas preveem que a temporada seca se estenda até outubro, o que eleva o risco de fogo.

Dadas as condições climáticas favoráveis, o fogo se espalhou rapidamente. “Temos uma ferramenta para informar à Defesa Civil, que leva em conta temperatura, umidade, seca e vento”, diz o coordenador de operações do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi.

“São muitos dias consecutivos de seca, sem chuva, por isso esta época do ano é particularmente crítica, temperatura acima de 30ºC, umidade abaixo dos 30% e ventos acima de 30km/h”, acrescenta ele.

Conforme Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, a frente fria que passou pelo Centro-Sul do País desde o fim da semana passada ajuda a carregar a fumaça por tantos quilômetros. “O ar das queimadas é quente e, por isso, mais leve. Já o ar da frente fria é mais denso, pesado. A frente fria ajuda a compactar a fumaça, a impedindo de se dissipar e a arrastando para outros Estados”, diz.

O que fazer? Exemplos internacionais oferecem caminhos

Incêndios florestais têm se tornado mais intensos e atingido mais áreas no Brasil e em outras partes do mundo. Estados Unidos, Canadá e Chile bateram recordes em suas temporadas de fogo em anos recentes.

Para Osvaldo Barassi Gajardo, especialista de conservação e coordenador do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, os incêndios em São Paulo nos últimos dias têm semelhanças com os que atingiram a região de Valparaíso, no Chile, no início de 2024. Assim como muitas áreas que queimaram no interior paulista eram de plantações de cana, no país andino foram plantações de pínus e eucalipto.

Na Corporação Nacional Florestal do Chile, órgão responsável pela gestão dos parques nacionais e pelo controle dos incêndios florestais, há um efetivo mínimo de brigadistas contratados permanentemente, que é ampliado por contratações temporárias nas épocas mais críticas. Eles realizam ações de prevenção e planejamento de manejo do fogo durante todo o ano.

No Brasil, as brigadas federais são contratadas temporariamente para atuar na temporada de fogo, e as funções do órgão florestal do Chile estão distribuídas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o PrevFogo, Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama. Esses dois órgãos federais atuam muitas vezes em colaboração, como nas queimas prescritas realizadas em unidades de conservação. /COLABORARAM CAIO POSSATI, GIOVANNA CASTRO, JULIANA DOMINGOS DE LIMA, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, ROBERTA JANSEN

A quantidade de municípios que decretaram situação de emergência em função do avanço das queimadas florestais saltou durante agosto no País. Foram 118 decretos dessa natureza desde o início do mês, 51 deles no Estado de São Paulo, que viu o fogo avançar com grande intensidade a partir do fim da semana passada. As ocorrências vêm se avolumando também na Amazônia e no Pantanal nos últimos meses.

O balanço foi feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) com base em dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Além de São Paulo, aparecem em destaque no levantamento os Estados do Mato Grosso (35 decretos), e Acre (22). Na noite desta terça-feira, 27, o Pará decretou emergência pela mesma razão.

O decreto de emergência autoriza ao poder público local, por exemplo, a dispensa de licitação para contratações, o que pode ser necessário em situações de desastre climático. Segundo especialistas, eventos extremos ficarão mais graves e frequentes nos próximos anos por causa do aquecimento global.

  • 167 decretos de incêndios florestais de janeiro a agosto de 2024, sendo 118 deles só no mês de agosto;
  • Em 2023, o número de janeiro a agosto havia sido de 57, sendo 26 em agosto daquele ano.

“Nesse contexto, já são mais de 4,4 milhões de pessoas afetadas de janeiro até agosto, sendo que desse total, 4 milhões foram afetadas apenas em agosto”, destaca a entidade.“Os impactos ambientais são incalculáveis e se traduzem na perda da biodiversidade do País. Já os danos e prejuízos ainda estão sendo mensurados pelos gestores municipais, mas fato é que os incêndios florestais impactam diretamente o sistema municipal de saúde com sobrecarga de atendimentos, bem como prejudicam o abastecimento de água potável, suspensão de aulas e outros impactos.”

Brigadista atua contra incêndio próximo ao aeroporto de Brasília Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A CNM estima prejuízo que supera os R$ 37 milhões, entre efeitos sobre a agropecuária e gastos com assistência médica emergencial. As cifras, no entanto, podem ser bem mais elevadas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta semana que é difícil estimar os prejuízos neste momento, mas a perda seguramente vai superar R$ 1 bilhão.

Foram contabilizados até terça-feira, 28, 44.600 hectares de área queimada, resultando na destruição de muitas instalações, perda de animais e lavouras.

O governador lamentou especialmente o impacto sobre os produtores de cana-de-açúcar, ressaltando a importância dessa cultura para a balança comercial de São Paulo.

O número de focos de incêndio registrados em agosto no Estado de São Paulo foi o maior para qualquer mês nas cidades paulistas desde 1998, quando os registros começaram a ser computados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

Até o dia 23, quando o número de focos disparou, haviam sido registradas 3.175 ocorrências, o que é quase o dobro do que foi registrado ao longo dos 12 meses do ano passado no Estado (1.666).

Um número tão elevado de focos não era visto em São Paulo desde agosto de 2021, quando houve 2.277 casos. Antes da marca de 2024, a quantidade mais expressiva em agosto tinha sido vista em 2010, com 2.444 focos.

Na Amazônia, mesmo com o desmate em queda, mais de 43 mil focos de fogo já foram detectados, pior taxa desde 2007 no bioma para o período de 1º de janeiro a 20 de agosto, segundo o Inpe. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem sido cobrada para dar resposta mais efetiva de prevenção e combate às chamas. O Ministério do Meio Ambiente diz ter no momento 1.489 brigadistas na região.

A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo foi sancionada no último dia 31 de julho. A política regula o uso do fogo no meio rural, definindo diretrizes para queimadas controladas (para fins agropecuários) e prescritas (para fins de conservação), mediante autorização prévia dos órgãos competentes, entre outras medidas de prevenção.

Temporada de seca segue até outubro

As condições climáticas para a propagação do fogo em São Paulo devem voltar até sexta-feira, 30, segundo especialistas. Entre os fatores, estão a baixa umidade, o calor excessivo e ventos acima de 30km/h.

Bombeiro atua contra queimada em Humaitá, no Amazonas Foto: Mauro Neto/Secom - 18/4/2024

Com o afastamento da frente fria, a expectativa é de que a temperatura volte a subir. Governo federal e cientistas preveem que a temporada seca se estenda até outubro, o que eleva o risco de fogo.

Dadas as condições climáticas favoráveis, o fogo se espalhou rapidamente. “Temos uma ferramenta para informar à Defesa Civil, que leva em conta temperatura, umidade, seca e vento”, diz o coordenador de operações do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi.

“São muitos dias consecutivos de seca, sem chuva, por isso esta época do ano é particularmente crítica, temperatura acima de 30ºC, umidade abaixo dos 30% e ventos acima de 30km/h”, acrescenta ele.

Conforme Guilherme Borges, meteorologista do Climatempo, a frente fria que passou pelo Centro-Sul do País desde o fim da semana passada ajuda a carregar a fumaça por tantos quilômetros. “O ar das queimadas é quente e, por isso, mais leve. Já o ar da frente fria é mais denso, pesado. A frente fria ajuda a compactar a fumaça, a impedindo de se dissipar e a arrastando para outros Estados”, diz.

O que fazer? Exemplos internacionais oferecem caminhos

Incêndios florestais têm se tornado mais intensos e atingido mais áreas no Brasil e em outras partes do mundo. Estados Unidos, Canadá e Chile bateram recordes em suas temporadas de fogo em anos recentes.

Para Osvaldo Barassi Gajardo, especialista de conservação e coordenador do núcleo de respostas emergenciais do WWF-Brasil, os incêndios em São Paulo nos últimos dias têm semelhanças com os que atingiram a região de Valparaíso, no Chile, no início de 2024. Assim como muitas áreas que queimaram no interior paulista eram de plantações de cana, no país andino foram plantações de pínus e eucalipto.

Na Corporação Nacional Florestal do Chile, órgão responsável pela gestão dos parques nacionais e pelo controle dos incêndios florestais, há um efetivo mínimo de brigadistas contratados permanentemente, que é ampliado por contratações temporárias nas épocas mais críticas. Eles realizam ações de prevenção e planejamento de manejo do fogo durante todo o ano.

No Brasil, as brigadas federais são contratadas temporariamente para atuar na temporada de fogo, e as funções do órgão florestal do Chile estão distribuídas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o PrevFogo, Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Ibama. Esses dois órgãos federais atuam muitas vezes em colaboração, como nas queimas prescritas realizadas em unidades de conservação. /COLABORARAM CAIO POSSATI, GIOVANNA CASTRO, JULIANA DOMINGOS DE LIMA, MARCO ANTÔNIO CARVALHO, ROBERTA JANSEN

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