Rio Pinheiros está despoluído? Vai dar para nadar? E quando sai o ‘Puerto Madero’ de SP?


Limpeza da água avança, mas ainda é preciso investimentos em infraestrutura e manutenção; Usina São Paulo fica para o primeiro semestre de 2027

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

Para olhos e narizes mais atentos a melhora está lá. Mas, ter os sentidos apurados também pode revelar que mau cheiro e sujeira boiando, vez por outra, ainda aparecem por ali. Principalmente no inverno, surgem reclamações sobre o odor e a aparência do (antes mais) combalido Rio Pinheiros, o que levanta a dúvida se o projeto de mais de R$ 1 bilhão para revivê-lo está dando certo.

Promessa do governo João Doria, a despoluição dos 25 quilômetros do Pinheiros passou neste ano pela troca de gestão estadual com o compromisso assumido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de seguir seu curso. Apesar de bem menos divulgada pelo atual mandatário do Executivo paulista, as obras e intervenções no que há décadas se transformou em paisagem morta de São Paulo continuam e nenhum contrato foi alterado, diz a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

De acordo com o governo paulista, desde o final do ano passado a qualidade da água melhorou, as obras estão dentro do cronograma inicial e o projeto passou a fazer parte do Integra Tietê, programa que promete utilizar parte das iniciativas bem-sucedidas do Pinheiros na despoluição do maior rio do Estado. Mesmo o projeto de transformação da antiga Usina de Traição em uma espécie de Puerto Madero - tradicional região revitalizada em Buenos Aires na década de 1990 e, desde então, polo turístico e gastronômico portenho- segue dentro do prazo e deve ser entregue no primeiro semestre de 2027.

Assim como no início do projeto, com investimento previsto de R$ 1,7 bilhão e financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Mundial, a meta continua não sendo transformar o rio em um local em que se possa, por exemplo, nadar. O objetivo é trazer de volta condições mínimas para a vida aquática e melhorar a situação ambiental para os frequentadores do Parque Bruno Covas, da Ciclovia do Pinheiros e para quem passa às suas margens.

O projeto foi entregue ao governo atual com o mínimo necessário para isso, 30 mg/l de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) na água. Antes mesmo disso, acima do futuro Puerto Madero paulistano, por exemplo, a presença de peixes foi motivo de surpresa ainda em 2021. Em 2019, o Rio Pinheiros tinha uma média de 60 mg/l a 75 mg/l.

Ao Estadão, a subsecretária de Recursos Hídricos, Samanta Tavares, afirma que o rio chegou neste mês a 19 mg/l de DBO (quanto menor, melhor) e que R$ 130 milhões foram investidos no programa no primeiro semestre deste ano. “A melhora é resultado de 25 mil novas ligações de esgoto que foram feitas a partir da investigação de ligações clandestinas”, afirma.

Ao todo mais de 650 mil ligações de esgoto foram feitas “Hoje o rio está vivo. Mas, como rio urbano, ele não tem essa funcionalidade (nadar).”

Ainda doente

Vivo, melhor do que antes, mas ainda não vendendo saúde. De acordo com o último relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, o Pinheiros tinha em março condições ainda piores do que o Tietê na capital paulista. O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Nesta época do ano, a situação tende a piorar. Não por acaso é quando começaram a aparecer reclamações sobre a aparência e o odor do rio, apesar da melhora em relação aos anos anteriores. “A melhora é visível. Em 2020 era insuportável. Antes pedalar ali só de máscara, mas ainda tem espaço para melhorar e muito”, diz Rosanne Brancatelli, publicitária e uma das fundadoras do movimento Pró-Pinheiros.

Ela lembra que a verticalização do bairro e de outros às margens do Pinheiros também tem reflexos no rio, com mais lixo sendo carregado para ele. “Esses prédios todos que estão sendo feitos na Rebouças, quando chove para onde vai o lixo? Para o rio”, afirma.

Vista da Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O odor do Pinheiros, e de qualquer outro rio poluído, tende a ser maior no inverno, época de estiagem. Apesar deste ano, com a ação do El Ninõ, a estação estar mais úmida, o volume de água que chega ao rio é menor do que no verão. “Como continua a ter esgoto, principalmente de áreas periféricas sendo despejado, e menos água para diluir, a ação de fermentação é maior”, explica César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica.

Moradora do Butantã, a advogada e bióloga Renata Esteves diz não ter notado nenhuma melhora no odor e na aparência do rio. “Eu que estou colada ao rio não notei melhora nenhuma. E ainda temos os problemas com os pernilongos que dependendo da época do ano melhora ou piora”, afirma ela que faz parte do Movimento Defenda São Paulo.

Rosanne discorda dela em apenas um ponto sobre os pernilongos. “Isso não só no inverno, mas o ano todo”, diz.

Para o engenheiro e funcionário público Vinícius Sybilla, é um balanço claro que determina a experiência do frequentador das margens do Pinheiros. “Se chover tem mais sujeira boiando. Se estiver calor cheira mais”, afirma. Ele diz acreditar que ainda há moradias irregulares que devem lançar seus esgotos diretamente nas águas do rio.

A subsecretária afirma que além das obras de desassoreamento, que custam cerca de R$ 4 milhões por mês, a limpeza do espelho d´água do Pinheiros continua a ser feita. “Temos um contrato e a limpeza é feita diariamente, mas é importante que a população se conscientize das consequências de jogar lixo”, afirma.

Concedida à iniciativa privada, a Usina de Traição, que passará a se chamar Usina São Paulo, teve sua reforma iniciada há cerca de um mês. A primeira etapa, de requalificação da fachada, deve ser entregue em junho de 2024. A segunda fase, com a instalação de cafés, cinema, restaurante e um mirante, tem prazo de ser concluída no final de 2026, afirma a subsecretária.

As margens do rio também começaram a passar por obras. Estão recebendo gabiões -estrutura formada por pedras- para a contenção e para impedir que terra e detritos sejam carregadas para o leito. Ao todo, serão 11 quilômetros que receberão a intervenção. “Não só entregar é um grande feito, manter é um grande desafio”, afirma a subsecretária.

A medida, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para Renata Esteves, não há justificativa para essa intervenção. “Em grandes cidades do mundo o que estão fazendo é a revitalização das margens naturais dos rios e aqui estão construindo um muro”, afirma. “Enquanto muitos especialistas falam que seria preciso alargar as margens dos rios de forma natural, porque o que segura a assoreamento são as plantas, aqui estamos fazendo o contrário.”

Integra Tietê

A gestão atual reconhece que o programa teve êxito e promete levar o modelo para os 1.136 quilômetros do rio Tietê. Em março, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, adiantou ao Estadão o novo projeto batizado de Integra Tietê. “Vamos dar continuidade às práticas exitosas do Pinheiros”, disse à época.

Símbolo de degradação, o maior rio de São Paulo irá receber R$5,6 bilhões em obras de recuperação e saneamento até 2026. O projeto prevê intervenções de desassoreamento do Tietê e de seus principais afluentes, instalação de troncos e redes coletoras, estações de tratamento de esgoto e o monitoramento da qualidade da água na entrada e na saída dos 39 municípios da região metropolitana da capital, onde vivem 22 milhões de pessoas.

Gabiões já instalados nas margens do Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

No Novo Pinheiros, o governo do Estado contratou a construção de cinco Unidades Recuperadoras, que tratam a água dos córregos (Jaguaré, Pirajussara, Cachoeira, Antonico e Água Espraiada) que desaguam no Pinheiros. Elas foram instaladas pelas Sabesp nos afluentes que passam por áreas com ocupações informais e locais onde não há viabilidade de implantação da rede convencional de coleta de esgoto devido à ocupação de imóveis.

A estimativa do governo é que do início do programa até o final do ano passado, o equivalente a mais de 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros A remuneração é feita de acordo com a produtividade.

De acordo com Samanta, esse modelo pode servir para alguns trechos do Tietê, mas não para todos. “O governo entende que (o Novo Rio Pinheiros) teve resultados importantes e resolveu ampliar para os 1.136 quilômetros do Tietê”, afirma a subsecretária Samanta Tavares. “O programa Integra Tietê terá robustez maior e em cada trecho do rio (alto, médio e baixo) será definido de acordo com suas características.”

Para César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, a iniciativa é positiva. No entanto, ele afirma que não apenas o rio deve ser alvo de uma programa específico, mas toda a bacia do Pinheiros. “Os córregos também precisam ser limpos, nas periferias. Veja o Pirajussara é uma fedentina de ponta a ponta aí chega na UR é limpo e vai para o Pinheiros”, afirma. “Não há justiça ambiental nisso.”

Ele lembra também que é um projeto que não irá se esgotar em um ou dois mandatos, assim como a própria limpeza do Pinheiros. “Não deve ser uma política de governo, mas uma política pública”, afirma. “Veja o Sena que foi notícia nesta semana, vai ser permitido nadar depois de cem anos. Recuperar um rio leva décadas.”

Para olhos e narizes mais atentos a melhora está lá. Mas, ter os sentidos apurados também pode revelar que mau cheiro e sujeira boiando, vez por outra, ainda aparecem por ali. Principalmente no inverno, surgem reclamações sobre o odor e a aparência do (antes mais) combalido Rio Pinheiros, o que levanta a dúvida se o projeto de mais de R$ 1 bilhão para revivê-lo está dando certo.

Promessa do governo João Doria, a despoluição dos 25 quilômetros do Pinheiros passou neste ano pela troca de gestão estadual com o compromisso assumido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de seguir seu curso. Apesar de bem menos divulgada pelo atual mandatário do Executivo paulista, as obras e intervenções no que há décadas se transformou em paisagem morta de São Paulo continuam e nenhum contrato foi alterado, diz a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

De acordo com o governo paulista, desde o final do ano passado a qualidade da água melhorou, as obras estão dentro do cronograma inicial e o projeto passou a fazer parte do Integra Tietê, programa que promete utilizar parte das iniciativas bem-sucedidas do Pinheiros na despoluição do maior rio do Estado. Mesmo o projeto de transformação da antiga Usina de Traição em uma espécie de Puerto Madero - tradicional região revitalizada em Buenos Aires na década de 1990 e, desde então, polo turístico e gastronômico portenho- segue dentro do prazo e deve ser entregue no primeiro semestre de 2027.

Assim como no início do projeto, com investimento previsto de R$ 1,7 bilhão e financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Mundial, a meta continua não sendo transformar o rio em um local em que se possa, por exemplo, nadar. O objetivo é trazer de volta condições mínimas para a vida aquática e melhorar a situação ambiental para os frequentadores do Parque Bruno Covas, da Ciclovia do Pinheiros e para quem passa às suas margens.

O projeto foi entregue ao governo atual com o mínimo necessário para isso, 30 mg/l de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) na água. Antes mesmo disso, acima do futuro Puerto Madero paulistano, por exemplo, a presença de peixes foi motivo de surpresa ainda em 2021. Em 2019, o Rio Pinheiros tinha uma média de 60 mg/l a 75 mg/l.

Ao Estadão, a subsecretária de Recursos Hídricos, Samanta Tavares, afirma que o rio chegou neste mês a 19 mg/l de DBO (quanto menor, melhor) e que R$ 130 milhões foram investidos no programa no primeiro semestre deste ano. “A melhora é resultado de 25 mil novas ligações de esgoto que foram feitas a partir da investigação de ligações clandestinas”, afirma.

Ao todo mais de 650 mil ligações de esgoto foram feitas “Hoje o rio está vivo. Mas, como rio urbano, ele não tem essa funcionalidade (nadar).”

Ainda doente

Vivo, melhor do que antes, mas ainda não vendendo saúde. De acordo com o último relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, o Pinheiros tinha em março condições ainda piores do que o Tietê na capital paulista. O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Nesta época do ano, a situação tende a piorar. Não por acaso é quando começaram a aparecer reclamações sobre a aparência e o odor do rio, apesar da melhora em relação aos anos anteriores. “A melhora é visível. Em 2020 era insuportável. Antes pedalar ali só de máscara, mas ainda tem espaço para melhorar e muito”, diz Rosanne Brancatelli, publicitária e uma das fundadoras do movimento Pró-Pinheiros.

Ela lembra que a verticalização do bairro e de outros às margens do Pinheiros também tem reflexos no rio, com mais lixo sendo carregado para ele. “Esses prédios todos que estão sendo feitos na Rebouças, quando chove para onde vai o lixo? Para o rio”, afirma.

Vista da Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O odor do Pinheiros, e de qualquer outro rio poluído, tende a ser maior no inverno, época de estiagem. Apesar deste ano, com a ação do El Ninõ, a estação estar mais úmida, o volume de água que chega ao rio é menor do que no verão. “Como continua a ter esgoto, principalmente de áreas periféricas sendo despejado, e menos água para diluir, a ação de fermentação é maior”, explica César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica.

Moradora do Butantã, a advogada e bióloga Renata Esteves diz não ter notado nenhuma melhora no odor e na aparência do rio. “Eu que estou colada ao rio não notei melhora nenhuma. E ainda temos os problemas com os pernilongos que dependendo da época do ano melhora ou piora”, afirma ela que faz parte do Movimento Defenda São Paulo.

Rosanne discorda dela em apenas um ponto sobre os pernilongos. “Isso não só no inverno, mas o ano todo”, diz.

Para o engenheiro e funcionário público Vinícius Sybilla, é um balanço claro que determina a experiência do frequentador das margens do Pinheiros. “Se chover tem mais sujeira boiando. Se estiver calor cheira mais”, afirma. Ele diz acreditar que ainda há moradias irregulares que devem lançar seus esgotos diretamente nas águas do rio.

A subsecretária afirma que além das obras de desassoreamento, que custam cerca de R$ 4 milhões por mês, a limpeza do espelho d´água do Pinheiros continua a ser feita. “Temos um contrato e a limpeza é feita diariamente, mas é importante que a população se conscientize das consequências de jogar lixo”, afirma.

Concedida à iniciativa privada, a Usina de Traição, que passará a se chamar Usina São Paulo, teve sua reforma iniciada há cerca de um mês. A primeira etapa, de requalificação da fachada, deve ser entregue em junho de 2024. A segunda fase, com a instalação de cafés, cinema, restaurante e um mirante, tem prazo de ser concluída no final de 2026, afirma a subsecretária.

As margens do rio também começaram a passar por obras. Estão recebendo gabiões -estrutura formada por pedras- para a contenção e para impedir que terra e detritos sejam carregadas para o leito. Ao todo, serão 11 quilômetros que receberão a intervenção. “Não só entregar é um grande feito, manter é um grande desafio”, afirma a subsecretária.

A medida, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para Renata Esteves, não há justificativa para essa intervenção. “Em grandes cidades do mundo o que estão fazendo é a revitalização das margens naturais dos rios e aqui estão construindo um muro”, afirma. “Enquanto muitos especialistas falam que seria preciso alargar as margens dos rios de forma natural, porque o que segura a assoreamento são as plantas, aqui estamos fazendo o contrário.”

Integra Tietê

A gestão atual reconhece que o programa teve êxito e promete levar o modelo para os 1.136 quilômetros do rio Tietê. Em março, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, adiantou ao Estadão o novo projeto batizado de Integra Tietê. “Vamos dar continuidade às práticas exitosas do Pinheiros”, disse à época.

Símbolo de degradação, o maior rio de São Paulo irá receber R$5,6 bilhões em obras de recuperação e saneamento até 2026. O projeto prevê intervenções de desassoreamento do Tietê e de seus principais afluentes, instalação de troncos e redes coletoras, estações de tratamento de esgoto e o monitoramento da qualidade da água na entrada e na saída dos 39 municípios da região metropolitana da capital, onde vivem 22 milhões de pessoas.

Gabiões já instalados nas margens do Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

No Novo Pinheiros, o governo do Estado contratou a construção de cinco Unidades Recuperadoras, que tratam a água dos córregos (Jaguaré, Pirajussara, Cachoeira, Antonico e Água Espraiada) que desaguam no Pinheiros. Elas foram instaladas pelas Sabesp nos afluentes que passam por áreas com ocupações informais e locais onde não há viabilidade de implantação da rede convencional de coleta de esgoto devido à ocupação de imóveis.

A estimativa do governo é que do início do programa até o final do ano passado, o equivalente a mais de 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros A remuneração é feita de acordo com a produtividade.

De acordo com Samanta, esse modelo pode servir para alguns trechos do Tietê, mas não para todos. “O governo entende que (o Novo Rio Pinheiros) teve resultados importantes e resolveu ampliar para os 1.136 quilômetros do Tietê”, afirma a subsecretária Samanta Tavares. “O programa Integra Tietê terá robustez maior e em cada trecho do rio (alto, médio e baixo) será definido de acordo com suas características.”

Para César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, a iniciativa é positiva. No entanto, ele afirma que não apenas o rio deve ser alvo de uma programa específico, mas toda a bacia do Pinheiros. “Os córregos também precisam ser limpos, nas periferias. Veja o Pirajussara é uma fedentina de ponta a ponta aí chega na UR é limpo e vai para o Pinheiros”, afirma. “Não há justiça ambiental nisso.”

Ele lembra também que é um projeto que não irá se esgotar em um ou dois mandatos, assim como a própria limpeza do Pinheiros. “Não deve ser uma política de governo, mas uma política pública”, afirma. “Veja o Sena que foi notícia nesta semana, vai ser permitido nadar depois de cem anos. Recuperar um rio leva décadas.”

Para olhos e narizes mais atentos a melhora está lá. Mas, ter os sentidos apurados também pode revelar que mau cheiro e sujeira boiando, vez por outra, ainda aparecem por ali. Principalmente no inverno, surgem reclamações sobre o odor e a aparência do (antes mais) combalido Rio Pinheiros, o que levanta a dúvida se o projeto de mais de R$ 1 bilhão para revivê-lo está dando certo.

Promessa do governo João Doria, a despoluição dos 25 quilômetros do Pinheiros passou neste ano pela troca de gestão estadual com o compromisso assumido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de seguir seu curso. Apesar de bem menos divulgada pelo atual mandatário do Executivo paulista, as obras e intervenções no que há décadas se transformou em paisagem morta de São Paulo continuam e nenhum contrato foi alterado, diz a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

De acordo com o governo paulista, desde o final do ano passado a qualidade da água melhorou, as obras estão dentro do cronograma inicial e o projeto passou a fazer parte do Integra Tietê, programa que promete utilizar parte das iniciativas bem-sucedidas do Pinheiros na despoluição do maior rio do Estado. Mesmo o projeto de transformação da antiga Usina de Traição em uma espécie de Puerto Madero - tradicional região revitalizada em Buenos Aires na década de 1990 e, desde então, polo turístico e gastronômico portenho- segue dentro do prazo e deve ser entregue no primeiro semestre de 2027.

Assim como no início do projeto, com investimento previsto de R$ 1,7 bilhão e financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Mundial, a meta continua não sendo transformar o rio em um local em que se possa, por exemplo, nadar. O objetivo é trazer de volta condições mínimas para a vida aquática e melhorar a situação ambiental para os frequentadores do Parque Bruno Covas, da Ciclovia do Pinheiros e para quem passa às suas margens.

O projeto foi entregue ao governo atual com o mínimo necessário para isso, 30 mg/l de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) na água. Antes mesmo disso, acima do futuro Puerto Madero paulistano, por exemplo, a presença de peixes foi motivo de surpresa ainda em 2021. Em 2019, o Rio Pinheiros tinha uma média de 60 mg/l a 75 mg/l.

Ao Estadão, a subsecretária de Recursos Hídricos, Samanta Tavares, afirma que o rio chegou neste mês a 19 mg/l de DBO (quanto menor, melhor) e que R$ 130 milhões foram investidos no programa no primeiro semestre deste ano. “A melhora é resultado de 25 mil novas ligações de esgoto que foram feitas a partir da investigação de ligações clandestinas”, afirma.

Ao todo mais de 650 mil ligações de esgoto foram feitas “Hoje o rio está vivo. Mas, como rio urbano, ele não tem essa funcionalidade (nadar).”

Ainda doente

Vivo, melhor do que antes, mas ainda não vendendo saúde. De acordo com o último relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, o Pinheiros tinha em março condições ainda piores do que o Tietê na capital paulista. O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Nesta época do ano, a situação tende a piorar. Não por acaso é quando começaram a aparecer reclamações sobre a aparência e o odor do rio, apesar da melhora em relação aos anos anteriores. “A melhora é visível. Em 2020 era insuportável. Antes pedalar ali só de máscara, mas ainda tem espaço para melhorar e muito”, diz Rosanne Brancatelli, publicitária e uma das fundadoras do movimento Pró-Pinheiros.

Ela lembra que a verticalização do bairro e de outros às margens do Pinheiros também tem reflexos no rio, com mais lixo sendo carregado para ele. “Esses prédios todos que estão sendo feitos na Rebouças, quando chove para onde vai o lixo? Para o rio”, afirma.

Vista da Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O odor do Pinheiros, e de qualquer outro rio poluído, tende a ser maior no inverno, época de estiagem. Apesar deste ano, com a ação do El Ninõ, a estação estar mais úmida, o volume de água que chega ao rio é menor do que no verão. “Como continua a ter esgoto, principalmente de áreas periféricas sendo despejado, e menos água para diluir, a ação de fermentação é maior”, explica César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica.

Moradora do Butantã, a advogada e bióloga Renata Esteves diz não ter notado nenhuma melhora no odor e na aparência do rio. “Eu que estou colada ao rio não notei melhora nenhuma. E ainda temos os problemas com os pernilongos que dependendo da época do ano melhora ou piora”, afirma ela que faz parte do Movimento Defenda São Paulo.

Rosanne discorda dela em apenas um ponto sobre os pernilongos. “Isso não só no inverno, mas o ano todo”, diz.

Para o engenheiro e funcionário público Vinícius Sybilla, é um balanço claro que determina a experiência do frequentador das margens do Pinheiros. “Se chover tem mais sujeira boiando. Se estiver calor cheira mais”, afirma. Ele diz acreditar que ainda há moradias irregulares que devem lançar seus esgotos diretamente nas águas do rio.

A subsecretária afirma que além das obras de desassoreamento, que custam cerca de R$ 4 milhões por mês, a limpeza do espelho d´água do Pinheiros continua a ser feita. “Temos um contrato e a limpeza é feita diariamente, mas é importante que a população se conscientize das consequências de jogar lixo”, afirma.

Concedida à iniciativa privada, a Usina de Traição, que passará a se chamar Usina São Paulo, teve sua reforma iniciada há cerca de um mês. A primeira etapa, de requalificação da fachada, deve ser entregue em junho de 2024. A segunda fase, com a instalação de cafés, cinema, restaurante e um mirante, tem prazo de ser concluída no final de 2026, afirma a subsecretária.

As margens do rio também começaram a passar por obras. Estão recebendo gabiões -estrutura formada por pedras- para a contenção e para impedir que terra e detritos sejam carregadas para o leito. Ao todo, serão 11 quilômetros que receberão a intervenção. “Não só entregar é um grande feito, manter é um grande desafio”, afirma a subsecretária.

A medida, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para Renata Esteves, não há justificativa para essa intervenção. “Em grandes cidades do mundo o que estão fazendo é a revitalização das margens naturais dos rios e aqui estão construindo um muro”, afirma. “Enquanto muitos especialistas falam que seria preciso alargar as margens dos rios de forma natural, porque o que segura a assoreamento são as plantas, aqui estamos fazendo o contrário.”

Integra Tietê

A gestão atual reconhece que o programa teve êxito e promete levar o modelo para os 1.136 quilômetros do rio Tietê. Em março, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, adiantou ao Estadão o novo projeto batizado de Integra Tietê. “Vamos dar continuidade às práticas exitosas do Pinheiros”, disse à época.

Símbolo de degradação, o maior rio de São Paulo irá receber R$5,6 bilhões em obras de recuperação e saneamento até 2026. O projeto prevê intervenções de desassoreamento do Tietê e de seus principais afluentes, instalação de troncos e redes coletoras, estações de tratamento de esgoto e o monitoramento da qualidade da água na entrada e na saída dos 39 municípios da região metropolitana da capital, onde vivem 22 milhões de pessoas.

Gabiões já instalados nas margens do Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

No Novo Pinheiros, o governo do Estado contratou a construção de cinco Unidades Recuperadoras, que tratam a água dos córregos (Jaguaré, Pirajussara, Cachoeira, Antonico e Água Espraiada) que desaguam no Pinheiros. Elas foram instaladas pelas Sabesp nos afluentes que passam por áreas com ocupações informais e locais onde não há viabilidade de implantação da rede convencional de coleta de esgoto devido à ocupação de imóveis.

A estimativa do governo é que do início do programa até o final do ano passado, o equivalente a mais de 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros A remuneração é feita de acordo com a produtividade.

De acordo com Samanta, esse modelo pode servir para alguns trechos do Tietê, mas não para todos. “O governo entende que (o Novo Rio Pinheiros) teve resultados importantes e resolveu ampliar para os 1.136 quilômetros do Tietê”, afirma a subsecretária Samanta Tavares. “O programa Integra Tietê terá robustez maior e em cada trecho do rio (alto, médio e baixo) será definido de acordo com suas características.”

Para César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, a iniciativa é positiva. No entanto, ele afirma que não apenas o rio deve ser alvo de uma programa específico, mas toda a bacia do Pinheiros. “Os córregos também precisam ser limpos, nas periferias. Veja o Pirajussara é uma fedentina de ponta a ponta aí chega na UR é limpo e vai para o Pinheiros”, afirma. “Não há justiça ambiental nisso.”

Ele lembra também que é um projeto que não irá se esgotar em um ou dois mandatos, assim como a própria limpeza do Pinheiros. “Não deve ser uma política de governo, mas uma política pública”, afirma. “Veja o Sena que foi notícia nesta semana, vai ser permitido nadar depois de cem anos. Recuperar um rio leva décadas.”

Para olhos e narizes mais atentos a melhora está lá. Mas, ter os sentidos apurados também pode revelar que mau cheiro e sujeira boiando, vez por outra, ainda aparecem por ali. Principalmente no inverno, surgem reclamações sobre o odor e a aparência do (antes mais) combalido Rio Pinheiros, o que levanta a dúvida se o projeto de mais de R$ 1 bilhão para revivê-lo está dando certo.

Promessa do governo João Doria, a despoluição dos 25 quilômetros do Pinheiros passou neste ano pela troca de gestão estadual com o compromisso assumido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de seguir seu curso. Apesar de bem menos divulgada pelo atual mandatário do Executivo paulista, as obras e intervenções no que há décadas se transformou em paisagem morta de São Paulo continuam e nenhum contrato foi alterado, diz a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

De acordo com o governo paulista, desde o final do ano passado a qualidade da água melhorou, as obras estão dentro do cronograma inicial e o projeto passou a fazer parte do Integra Tietê, programa que promete utilizar parte das iniciativas bem-sucedidas do Pinheiros na despoluição do maior rio do Estado. Mesmo o projeto de transformação da antiga Usina de Traição em uma espécie de Puerto Madero - tradicional região revitalizada em Buenos Aires na década de 1990 e, desde então, polo turístico e gastronômico portenho- segue dentro do prazo e deve ser entregue no primeiro semestre de 2027.

Assim como no início do projeto, com investimento previsto de R$ 1,7 bilhão e financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Mundial, a meta continua não sendo transformar o rio em um local em que se possa, por exemplo, nadar. O objetivo é trazer de volta condições mínimas para a vida aquática e melhorar a situação ambiental para os frequentadores do Parque Bruno Covas, da Ciclovia do Pinheiros e para quem passa às suas margens.

O projeto foi entregue ao governo atual com o mínimo necessário para isso, 30 mg/l de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) na água. Antes mesmo disso, acima do futuro Puerto Madero paulistano, por exemplo, a presença de peixes foi motivo de surpresa ainda em 2021. Em 2019, o Rio Pinheiros tinha uma média de 60 mg/l a 75 mg/l.

Ao Estadão, a subsecretária de Recursos Hídricos, Samanta Tavares, afirma que o rio chegou neste mês a 19 mg/l de DBO (quanto menor, melhor) e que R$ 130 milhões foram investidos no programa no primeiro semestre deste ano. “A melhora é resultado de 25 mil novas ligações de esgoto que foram feitas a partir da investigação de ligações clandestinas”, afirma.

Ao todo mais de 650 mil ligações de esgoto foram feitas “Hoje o rio está vivo. Mas, como rio urbano, ele não tem essa funcionalidade (nadar).”

Ainda doente

Vivo, melhor do que antes, mas ainda não vendendo saúde. De acordo com o último relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, o Pinheiros tinha em março condições ainda piores do que o Tietê na capital paulista. O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Nesta época do ano, a situação tende a piorar. Não por acaso é quando começaram a aparecer reclamações sobre a aparência e o odor do rio, apesar da melhora em relação aos anos anteriores. “A melhora é visível. Em 2020 era insuportável. Antes pedalar ali só de máscara, mas ainda tem espaço para melhorar e muito”, diz Rosanne Brancatelli, publicitária e uma das fundadoras do movimento Pró-Pinheiros.

Ela lembra que a verticalização do bairro e de outros às margens do Pinheiros também tem reflexos no rio, com mais lixo sendo carregado para ele. “Esses prédios todos que estão sendo feitos na Rebouças, quando chove para onde vai o lixo? Para o rio”, afirma.

Vista da Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O odor do Pinheiros, e de qualquer outro rio poluído, tende a ser maior no inverno, época de estiagem. Apesar deste ano, com a ação do El Ninõ, a estação estar mais úmida, o volume de água que chega ao rio é menor do que no verão. “Como continua a ter esgoto, principalmente de áreas periféricas sendo despejado, e menos água para diluir, a ação de fermentação é maior”, explica César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica.

Moradora do Butantã, a advogada e bióloga Renata Esteves diz não ter notado nenhuma melhora no odor e na aparência do rio. “Eu que estou colada ao rio não notei melhora nenhuma. E ainda temos os problemas com os pernilongos que dependendo da época do ano melhora ou piora”, afirma ela que faz parte do Movimento Defenda São Paulo.

Rosanne discorda dela em apenas um ponto sobre os pernilongos. “Isso não só no inverno, mas o ano todo”, diz.

Para o engenheiro e funcionário público Vinícius Sybilla, é um balanço claro que determina a experiência do frequentador das margens do Pinheiros. “Se chover tem mais sujeira boiando. Se estiver calor cheira mais”, afirma. Ele diz acreditar que ainda há moradias irregulares que devem lançar seus esgotos diretamente nas águas do rio.

A subsecretária afirma que além das obras de desassoreamento, que custam cerca de R$ 4 milhões por mês, a limpeza do espelho d´água do Pinheiros continua a ser feita. “Temos um contrato e a limpeza é feita diariamente, mas é importante que a população se conscientize das consequências de jogar lixo”, afirma.

Concedida à iniciativa privada, a Usina de Traição, que passará a se chamar Usina São Paulo, teve sua reforma iniciada há cerca de um mês. A primeira etapa, de requalificação da fachada, deve ser entregue em junho de 2024. A segunda fase, com a instalação de cafés, cinema, restaurante e um mirante, tem prazo de ser concluída no final de 2026, afirma a subsecretária.

As margens do rio também começaram a passar por obras. Estão recebendo gabiões -estrutura formada por pedras- para a contenção e para impedir que terra e detritos sejam carregadas para o leito. Ao todo, serão 11 quilômetros que receberão a intervenção. “Não só entregar é um grande feito, manter é um grande desafio”, afirma a subsecretária.

A medida, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para Renata Esteves, não há justificativa para essa intervenção. “Em grandes cidades do mundo o que estão fazendo é a revitalização das margens naturais dos rios e aqui estão construindo um muro”, afirma. “Enquanto muitos especialistas falam que seria preciso alargar as margens dos rios de forma natural, porque o que segura a assoreamento são as plantas, aqui estamos fazendo o contrário.”

Integra Tietê

A gestão atual reconhece que o programa teve êxito e promete levar o modelo para os 1.136 quilômetros do rio Tietê. Em março, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, adiantou ao Estadão o novo projeto batizado de Integra Tietê. “Vamos dar continuidade às práticas exitosas do Pinheiros”, disse à época.

Símbolo de degradação, o maior rio de São Paulo irá receber R$5,6 bilhões em obras de recuperação e saneamento até 2026. O projeto prevê intervenções de desassoreamento do Tietê e de seus principais afluentes, instalação de troncos e redes coletoras, estações de tratamento de esgoto e o monitoramento da qualidade da água na entrada e na saída dos 39 municípios da região metropolitana da capital, onde vivem 22 milhões de pessoas.

Gabiões já instalados nas margens do Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

No Novo Pinheiros, o governo do Estado contratou a construção de cinco Unidades Recuperadoras, que tratam a água dos córregos (Jaguaré, Pirajussara, Cachoeira, Antonico e Água Espraiada) que desaguam no Pinheiros. Elas foram instaladas pelas Sabesp nos afluentes que passam por áreas com ocupações informais e locais onde não há viabilidade de implantação da rede convencional de coleta de esgoto devido à ocupação de imóveis.

A estimativa do governo é que do início do programa até o final do ano passado, o equivalente a mais de 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros A remuneração é feita de acordo com a produtividade.

De acordo com Samanta, esse modelo pode servir para alguns trechos do Tietê, mas não para todos. “O governo entende que (o Novo Rio Pinheiros) teve resultados importantes e resolveu ampliar para os 1.136 quilômetros do Tietê”, afirma a subsecretária Samanta Tavares. “O programa Integra Tietê terá robustez maior e em cada trecho do rio (alto, médio e baixo) será definido de acordo com suas características.”

Para César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, a iniciativa é positiva. No entanto, ele afirma que não apenas o rio deve ser alvo de uma programa específico, mas toda a bacia do Pinheiros. “Os córregos também precisam ser limpos, nas periferias. Veja o Pirajussara é uma fedentina de ponta a ponta aí chega na UR é limpo e vai para o Pinheiros”, afirma. “Não há justiça ambiental nisso.”

Ele lembra também que é um projeto que não irá se esgotar em um ou dois mandatos, assim como a própria limpeza do Pinheiros. “Não deve ser uma política de governo, mas uma política pública”, afirma. “Veja o Sena que foi notícia nesta semana, vai ser permitido nadar depois de cem anos. Recuperar um rio leva décadas.”

Para olhos e narizes mais atentos a melhora está lá. Mas, ter os sentidos apurados também pode revelar que mau cheiro e sujeira boiando, vez por outra, ainda aparecem por ali. Principalmente no inverno, surgem reclamações sobre o odor e a aparência do (antes mais) combalido Rio Pinheiros, o que levanta a dúvida se o projeto de mais de R$ 1 bilhão para revivê-lo está dando certo.

Promessa do governo João Doria, a despoluição dos 25 quilômetros do Pinheiros passou neste ano pela troca de gestão estadual com o compromisso assumido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) de seguir seu curso. Apesar de bem menos divulgada pelo atual mandatário do Executivo paulista, as obras e intervenções no que há décadas se transformou em paisagem morta de São Paulo continuam e nenhum contrato foi alterado, diz a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).

De acordo com o governo paulista, desde o final do ano passado a qualidade da água melhorou, as obras estão dentro do cronograma inicial e o projeto passou a fazer parte do Integra Tietê, programa que promete utilizar parte das iniciativas bem-sucedidas do Pinheiros na despoluição do maior rio do Estado. Mesmo o projeto de transformação da antiga Usina de Traição em uma espécie de Puerto Madero - tradicional região revitalizada em Buenos Aires na década de 1990 e, desde então, polo turístico e gastronômico portenho- segue dentro do prazo e deve ser entregue no primeiro semestre de 2027.

Assim como no início do projeto, com investimento previsto de R$ 1,7 bilhão e financiamento de R$ 1 bilhão do Banco Mundial, a meta continua não sendo transformar o rio em um local em que se possa, por exemplo, nadar. O objetivo é trazer de volta condições mínimas para a vida aquática e melhorar a situação ambiental para os frequentadores do Parque Bruno Covas, da Ciclovia do Pinheiros e para quem passa às suas margens.

O projeto foi entregue ao governo atual com o mínimo necessário para isso, 30 mg/l de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) na água. Antes mesmo disso, acima do futuro Puerto Madero paulistano, por exemplo, a presença de peixes foi motivo de surpresa ainda em 2021. Em 2019, o Rio Pinheiros tinha uma média de 60 mg/l a 75 mg/l.

Ao Estadão, a subsecretária de Recursos Hídricos, Samanta Tavares, afirma que o rio chegou neste mês a 19 mg/l de DBO (quanto menor, melhor) e que R$ 130 milhões foram investidos no programa no primeiro semestre deste ano. “A melhora é resultado de 25 mil novas ligações de esgoto que foram feitas a partir da investigação de ligações clandestinas”, afirma.

Ao todo mais de 650 mil ligações de esgoto foram feitas “Hoje o rio está vivo. Mas, como rio urbano, ele não tem essa funcionalidade (nadar).”

Ainda doente

Vivo, melhor do que antes, mas ainda não vendendo saúde. De acordo com o último relatório Observando os Rios, da SOS Mata Atlântica, o Pinheiros tinha em março condições ainda piores do que o Tietê na capital paulista. O levantamento foi realizado por uma rede de 2.700 voluntários. Com base em coletas mensais entre janeiro e dezembro de 2022, foram realizadas 990 análises em 160 pontos de 120 rios e corpos d’água em 74 municípios de 16 estados da Mata Atlântica.

Nesta época do ano, a situação tende a piorar. Não por acaso é quando começaram a aparecer reclamações sobre a aparência e o odor do rio, apesar da melhora em relação aos anos anteriores. “A melhora é visível. Em 2020 era insuportável. Antes pedalar ali só de máscara, mas ainda tem espaço para melhorar e muito”, diz Rosanne Brancatelli, publicitária e uma das fundadoras do movimento Pró-Pinheiros.

Ela lembra que a verticalização do bairro e de outros às margens do Pinheiros também tem reflexos no rio, com mais lixo sendo carregado para ele. “Esses prédios todos que estão sendo feitos na Rebouças, quando chove para onde vai o lixo? Para o rio”, afirma.

Vista da Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O odor do Pinheiros, e de qualquer outro rio poluído, tende a ser maior no inverno, época de estiagem. Apesar deste ano, com a ação do El Ninõ, a estação estar mais úmida, o volume de água que chega ao rio é menor do que no verão. “Como continua a ter esgoto, principalmente de áreas periféricas sendo despejado, e menos água para diluir, a ação de fermentação é maior”, explica César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica.

Moradora do Butantã, a advogada e bióloga Renata Esteves diz não ter notado nenhuma melhora no odor e na aparência do rio. “Eu que estou colada ao rio não notei melhora nenhuma. E ainda temos os problemas com os pernilongos que dependendo da época do ano melhora ou piora”, afirma ela que faz parte do Movimento Defenda São Paulo.

Rosanne discorda dela em apenas um ponto sobre os pernilongos. “Isso não só no inverno, mas o ano todo”, diz.

Para o engenheiro e funcionário público Vinícius Sybilla, é um balanço claro que determina a experiência do frequentador das margens do Pinheiros. “Se chover tem mais sujeira boiando. Se estiver calor cheira mais”, afirma. Ele diz acreditar que ainda há moradias irregulares que devem lançar seus esgotos diretamente nas águas do rio.

A subsecretária afirma que além das obras de desassoreamento, que custam cerca de R$ 4 milhões por mês, a limpeza do espelho d´água do Pinheiros continua a ser feita. “Temos um contrato e a limpeza é feita diariamente, mas é importante que a população se conscientize das consequências de jogar lixo”, afirma.

Concedida à iniciativa privada, a Usina de Traição, que passará a se chamar Usina São Paulo, teve sua reforma iniciada há cerca de um mês. A primeira etapa, de requalificação da fachada, deve ser entregue em junho de 2024. A segunda fase, com a instalação de cafés, cinema, restaurante e um mirante, tem prazo de ser concluída no final de 2026, afirma a subsecretária.

As margens do rio também começaram a passar por obras. Estão recebendo gabiões -estrutura formada por pedras- para a contenção e para impedir que terra e detritos sejam carregadas para o leito. Ao todo, serão 11 quilômetros que receberão a intervenção. “Não só entregar é um grande feito, manter é um grande desafio”, afirma a subsecretária.

A medida, no entanto, está longe de ser unanimidade. Para Renata Esteves, não há justificativa para essa intervenção. “Em grandes cidades do mundo o que estão fazendo é a revitalização das margens naturais dos rios e aqui estão construindo um muro”, afirma. “Enquanto muitos especialistas falam que seria preciso alargar as margens dos rios de forma natural, porque o que segura a assoreamento são as plantas, aqui estamos fazendo o contrário.”

Integra Tietê

A gestão atual reconhece que o programa teve êxito e promete levar o modelo para os 1.136 quilômetros do rio Tietê. Em março, a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, adiantou ao Estadão o novo projeto batizado de Integra Tietê. “Vamos dar continuidade às práticas exitosas do Pinheiros”, disse à época.

Símbolo de degradação, o maior rio de São Paulo irá receber R$5,6 bilhões em obras de recuperação e saneamento até 2026. O projeto prevê intervenções de desassoreamento do Tietê e de seus principais afluentes, instalação de troncos e redes coletoras, estações de tratamento de esgoto e o monitoramento da qualidade da água na entrada e na saída dos 39 municípios da região metropolitana da capital, onde vivem 22 milhões de pessoas.

Gabiões já instalados nas margens do Pinheiros  Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

No Novo Pinheiros, o governo do Estado contratou a construção de cinco Unidades Recuperadoras, que tratam a água dos córregos (Jaguaré, Pirajussara, Cachoeira, Antonico e Água Espraiada) que desaguam no Pinheiros. Elas foram instaladas pelas Sabesp nos afluentes que passam por áreas com ocupações informais e locais onde não há viabilidade de implantação da rede convencional de coleta de esgoto devido à ocupação de imóveis.

A estimativa do governo é que do início do programa até o final do ano passado, o equivalente a mais de 23 mil piscinas olímpicas de esgoto deixou de chegar ao Pinheiros A remuneração é feita de acordo com a produtividade.

De acordo com Samanta, esse modelo pode servir para alguns trechos do Tietê, mas não para todos. “O governo entende que (o Novo Rio Pinheiros) teve resultados importantes e resolveu ampliar para os 1.136 quilômetros do Tietê”, afirma a subsecretária Samanta Tavares. “O programa Integra Tietê terá robustez maior e em cada trecho do rio (alto, médio e baixo) será definido de acordo com suas características.”

Para César Pegoraro, biólogo, mobilizador e da Equipe de Água da SOS Mata Atlântica, a iniciativa é positiva. No entanto, ele afirma que não apenas o rio deve ser alvo de uma programa específico, mas toda a bacia do Pinheiros. “Os córregos também precisam ser limpos, nas periferias. Veja o Pirajussara é uma fedentina de ponta a ponta aí chega na UR é limpo e vai para o Pinheiros”, afirma. “Não há justiça ambiental nisso.”

Ele lembra também que é um projeto que não irá se esgotar em um ou dois mandatos, assim como a própria limpeza do Pinheiros. “Não deve ser uma política de governo, mas uma política pública”, afirma. “Veja o Sena que foi notícia nesta semana, vai ser permitido nadar depois de cem anos. Recuperar um rio leva décadas.”

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