Risco de catástrofe climática é alto, mas ainda dá para salvar o planeta; painel da ONU cita medidas


Parte das mudanças climáticas futuras é inevitável ou irreversível, mas pode ser limitada por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais de gases estufa, diz IPCC

Por Emilio Sant'Anna
Atualização:

Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Modelos climáticos apontam para uma elevação da temperatura em todo o globo. Em um cenário pessimista, o Brasil pode enfrentar aumento de 7ºC até o final do século. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020. Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida. O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

Seu navegador não suporta esse video.

Estadão preparou videográficos para mostrar como o planeta chegou nessa encruzilhada – e os sinais de que o aquecimento global é cada vez mais visível.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento - esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países. Esse documento será o “estado da arte” até 2030, prazo para o corte de emissões globais pela metade, e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.. “Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil. O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Usina termoelétrica a carvão na província deShanxi, em foto de 2015; China tenta reduzir dependência de combustíveis fósseis. Foto: Greg Baker/AFP

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. “Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz.

“Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. “(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais”, diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. “Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis”, afirma. “Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro.”

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Modelos climáticos apontam para uma elevação da temperatura em todo o globo. Em um cenário pessimista, o Brasil pode enfrentar aumento de 7ºC até o final do século. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020. Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida. O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

Seu navegador não suporta esse video.

Estadão preparou videográficos para mostrar como o planeta chegou nessa encruzilhada – e os sinais de que o aquecimento global é cada vez mais visível.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento - esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países. Esse documento será o “estado da arte” até 2030, prazo para o corte de emissões globais pela metade, e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.. “Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil. O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Usina termoelétrica a carvão na província deShanxi, em foto de 2015; China tenta reduzir dependência de combustíveis fósseis. Foto: Greg Baker/AFP

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. “Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz.

“Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. “(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais”, diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. “Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis”, afirma. “Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro.”

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Modelos climáticos apontam para uma elevação da temperatura em todo o globo. Em um cenário pessimista, o Brasil pode enfrentar aumento de 7ºC até o final do século. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020. Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida. O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

Seu navegador não suporta esse video.

Estadão preparou videográficos para mostrar como o planeta chegou nessa encruzilhada – e os sinais de que o aquecimento global é cada vez mais visível.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento - esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países. Esse documento será o “estado da arte” até 2030, prazo para o corte de emissões globais pela metade, e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.. “Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil. O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Usina termoelétrica a carvão na província deShanxi, em foto de 2015; China tenta reduzir dependência de combustíveis fósseis. Foto: Greg Baker/AFP

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. “Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz.

“Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. “(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais”, diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. “Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis”, afirma. “Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro.”

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Modelos climáticos apontam para uma elevação da temperatura em todo o globo. Em um cenário pessimista, o Brasil pode enfrentar aumento de 7ºC até o final do século. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020. Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida. O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

Seu navegador não suporta esse video.

Estadão preparou videográficos para mostrar como o planeta chegou nessa encruzilhada – e os sinais de que o aquecimento global é cada vez mais visível.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento - esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países. Esse documento será o “estado da arte” até 2030, prazo para o corte de emissões globais pela metade, e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.. “Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil. O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Usina termoelétrica a carvão na província deShanxi, em foto de 2015; China tenta reduzir dependência de combustíveis fósseis. Foto: Greg Baker/AFP

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. “Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz.

“Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. “(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais”, diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. “Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis”, afirma. “Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro.”

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

Modelos climáticos apontam para uma elevação da temperatura em todo o globo. Em um cenário pessimista, o Brasil pode enfrentar aumento de 7ºC até o final do século. Foto: Marcos de Paula/Estadão

Os relatórios que dão base ao documento atual também indicam que há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020. Nesse período, a judicialização dos litígios climáticos também cresceram.

No entanto, apesar do progresso na implantação de medidas de adaptação em todos os setores e regiões, com benefícios documentados e eficácia variável, há lacunas nesse processo que irão continuar a crescer se a rota não for corrigida. O relatório aponta que alguns ecossistemas e regiões atingiram seus limites.

Seu navegador não suporta esse video.

Estadão preparou videográficos para mostrar como o planeta chegou nessa encruzilhada – e os sinais de que o aquecimento global é cada vez mais visível.

O documento também ressalta que os atuais fluxos financeiros globais para adaptação são insuficientes e restringem a implementação de opções de adaptação, especialmente em países em desenvolvimento - esse foi um dos temas que exigiram os maiores esforços para a construção de um acordo na última COP, a Conferência do Clima, da ONU, no Egito.

Relatório é o último da década

O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC é uma síntese dos principais pontos revistos das conclusões prévias de 278 cientistas de 65 países. Esse documento será o “estado da arte” até 2030, prazo para o corte de emissões globais pela metade, e deve servir de guia para a tomada de decisões das nações desenvolvidas e em desenvolvimento.

“A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos para a natureza e as pessoas, também proporcionará benefícios mais amplos”, afirma o presidente do IPCC, Hoesung Lee, em comunicado.. “Esse Relatório de Síntese ressalta a urgência de ações mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos.”

Manter o aquecimento global limitado a 1,5° acima dos níveis pré-industriais, como prevê o Acordo de Paris, se torna um desafio cada vez maior na medida em que as emissões de gases estufa continuam a apresentar aumento contínuo, como no caso do Brasil. O relatório destaca que o ritmo e a escala do que foi feito até agora e os planos atuais, são insuficientes para enfrentar as mudanças climáticas.

Usina termoelétrica a carvão na província deShanxi, em foto de 2015; China tenta reduzir dependência de combustíveis fósseis. Foto: Greg Baker/AFP

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos – como a tragédia do litoral norte de São Paulo – o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

“A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente”, disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos – eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. “Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora”, diz.

“Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência”, afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. “(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais”, diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. “Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis”, afirma. “Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro.”

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.  Foto: Wilton Junior/Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

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