O Estado de São Paulo já registrou 311 focos de queimadas este mês, 37% a mais do que no mesmo período de agosto passado, quando houve 227. Apenas nessa quarta-feira, 23, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência, captaram 72 incêndios rurais em todo o Estado.
No acumulado do ano, são 1.080 queimadas em 2023 até agora, número muito próximo das 1.088 registradas em 2022. Conforme o pesquisador Alberto Setzer, do Inpe, mais de 90% das queimadas resultam de atividades humanas.
O número de incêndios em matas continua elevado no Estado, apesar das campanhas realizadas pela Defesa Civil, governo e prefeituras para evitar o uso de fogo na limpeza de mato e prevenir queimadas acidentais. Nesta quarta, um incêndio atingiu uma área verde na Estrada dos Jatobás, em Valinhos, e assustou os moradores de um condomínio devido à altura das labaredas.
O Corpo de Bombeiros, que mobilizou quatro equipes para combater as chamas, suspeita que o fogo foi causado pela queda de um balão, cuja soltura é proibida por lei e punida com prisão e multa.
Na noite anterior, um incêndio havia se propagado em uma área de mata próxima a condomínios no Jardim das Colinas, em Hortolândia. As chamas foram combatidas durante cinco horas pelos bombeiros. Moradores de prédios relataram terem passado mal depois que a fumaça invadiu os apartamentos.
Em Sorocaba, no último domingo, 20, os bombeiros foram acionados dez vezes para apagar fogo em mato. Só este ano, a cidade acumula 442 registros de queimadas.
Na terça-feira, 22, o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Defesa Civil estadual emitiu alerta para o aumento no risco de incêndios devido à massa de ar quente e seco que atingiu São Paulo, elevando as temperaturas para mais de 30 graus nas principais regiões do Estado.
“O Estado de São Paulo apresenta risco elevado (níveis alto e crítico) de queima de vegetação em quase toda a sua extensão”, disse Setzer.
No geral, segundo ele, as condições de estiagem e altas temperaturas, até 38 graus, deverão se reduzir com a entrada de uma frente fria com precipitação significativa a partir desta sexta-feira, 25. Setzer lembrou que o Estado está praticamente com o mesmo número de queimadas do ano passado, o que se deve às chuvas próximas ou acima da média nos meses anteriores.
A mecanização da colheita da cana-de-açúcar e a atuação da Polícia Ambiental nas queimadas ilegais, além das campanhas estaduais e municipais, ajudaram a evitar um aumento maior, segundo ele.
Mesmo assim, os números são elevados e causam prejuízo ao ambiente e à população, agravando as doenças respiratórias. Em mais de 90% dos casos, as queimadas e incêndios florestais são causadas por atividades humanas, segundo o pesquisador.
“Queimadas naturais resultam de raios, que são raros nesta época do ano. A cultura do fogo na agropecuária ainda permanece, apesar dos esforços em contrário”, disse. Nesta quinta à tarde, um incêndio atingia uma grande área de pastos e matas, no bairro rural de Anhumas, em Monte Alto. Casas de fazendas e moradias estavam cercadas por fogo e fumaça.
Campanha com onça-pintada
A preocupação com as queimadas chegou à capital do Estado. Quem passa pela Avenida Paulista, na região central de São Paulo, se depara com a figura de uma onça-pintada sobre um dos relógios da via, enfeitado com folhas verdes.
A réplica da espécie, ameaçada de extinção, chama a atenção para a Operação SP Sem Fogo, do governo estadual, que alerta para o risco de incêndios florestais e queimadas em todo o território paulista. Há outras referências à operação em 30 pontos da avenida, inclusive em painéis digitais.
O governo está intensificando a campanha, lançada no início de julho, devido ao maior risco de incêndios decorrente do tempo seco e das temperaturas elevadas incomuns nesta época. Os alertas estão sendo levados para áreas com grande circulação de pessoas, como terminais de transporte público, rodovias, postos do Poupatempo e pontos de ônibus, além de campanhas em meios de comunicação e na internet.
O governo pede que a população não queime lixo ou jogue bitucas de cigarro em vias públicas e terrenos para evitar o risco de iniciar um incêndio.
Europa e Havaí também sofrem com calor e incêndios
Temperaturas elevadas e incêndios também têm sido registrados em vários pontos da Europa e no Havaí nas últimas semanas. O serviço meteorológico francês apontou que o calor no país nesta segunda quinzena de agosto tem a média mais alta para o período desde 1947, quando começaram a ser feitos os registros.
Os alpes na Suíça, na França, na Itália e na Áustria têm apresentado degelo recorde, mas são os incêndios florestais que têm causado maiores danos no Velho Continente.
Na Grécia, pelo menos 20 pessoas morreram devido às queimadas, sendo que 18 corpos - provavelmente de imigrantes - foram encontrados carbonizados numa única floresta. Pelo menos 355 focos de incêndio foram identificados naquele país apenas nos últimos sete dias. A onda de calor e as queimadas também afetam Itália, Turquia e Espanha.
Na América do Norte, incêndios florestais na ilha de Maui, no Havaí, deixaram pelo menos 106 mortos na primeira semana deste mês. Na quarta-feira, 23, autoridades locais informaram que cerca de 1.100 pessoas permaneciam desaparecidas.
Alguns focos de incêndio ainda estão sendo registrados na região. Importantes vias foram fechadas e alguns serviços estão interrompidos. O fornecimento de água potável, por exemplo, não é confiável.