Um ano depois, Rio Paraopeba ainda não se recuperou da lama de Brumadinho


A água continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver

Por Giovana Girardi
Atualização:

BRUMADINHO - Um ano após o rompimento da barragem de rejeito de minério de ferro da Vale, em Brumadinho, o Rio Paraopeba, que foi atingido pela onda de lama, ainda não se recuperou. Com a ‘morte’ decretada depois de ter recebido uma enxurrada de rejeitos, o rio não foi capaz de depurar os contaminantes ao longo do ano. A água continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver.

Essas são as principais conclusões de uma análise feita por pesquisadores da Fundação SOS Mata Atlântica, que refez, entre os dias 8 e 17 deste mês, a mesma expedição que tinha sido feita no ano passado, uma semana após a tragédia. 

Em Brumadinho, a Vale criou uma estação de contenção e de tratamento da água para conter a contaminação do Rio Paraopeba, mas após um dia de fortes chuvas, como testemunhado pela reportagem em 17 de janeiro de 2020, os veios de lama voltaram a serperceptíveis na água. Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Na ocasião, uma parte do trabalho foi acompanhada pelo Estado. A reportagem testemunhou o tempo todo uma imagem marrom-avermelhada, densa, que em nada se parecia com um rio que pudesse suportar alguma vida.

A equipe da SOS voltou a presenciar um cenário muito parecido, principalmente no baixo Paraopeba. Os pesquisadores percorreram cerca de 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 23 pontos dos 356 km do rio.

“De certa forma, a qualidade da água do rio piorou. Houve um deslocamento das concentrações de metais pesados para o baixo Paraopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo. Os rejeitos estão ficando ali. Vimos uma curva inversa de comprometimento”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora do projeto.

Segundo ela, alguns pontos, que logo após a tragédia estavam ruins, neste ano apareceram como péssimos. E poucos tiveram alguma melhora. De acordo com o relatório, em 11 pontos, a presença de rejeitos e contaminantes não permite a presença de vida aquática.  Nos 23 analisados, nenhum apresentou qualidade da água boa ou ótima. Todos apresentam padrões em desconformidade com a legislação para o consumo. 

“O ecossistema da bacia foi alterado. Aves, mergulhões, por exemplo, a gente não viu. Em alguns pontos, o oxigênio na água estava em nível adequado à vida aquática, mas a vida não voltou porque os metais pesados estão muito intensos”, diz Malu.

Logo após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro do ano passado, expedição da Fundação SOS Mata Atlântica encontrou, uma semana depois,trechos do Rio Paraopeba tomados pela lama Foto: Gaspar Nóbrega/Fundação SOS Mata Atlântica

Outro indicador medidos foi o número de colônias de bactérias que têm capacidade de decompor matéria orgânica. “Elas foram encontradas em nível bem baixo. Sua presença indica a saúde do rio. O que indica que, mesmo com a volta do oxigênio, a vida não voltou”, explica.

A análise detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Para o cobre, a concentração foi 44 vezes superior; para o manganês, 14 vezes superior. E o ferro, que não deveria existir num rio de classe 2, como é o Paraopeba, a concentração encontrada chegou a 15 vezes a estabelecida pela legislação. 

Procurado pela reportagem, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que, com base no seu monitoramento, mantém a suspensão dos usos da água bruta do rio entre Brumadinho e Pompéu, “diante da não comprovação de ausência de risco à saúde humana devido à deposição dos rejeitos no leito”. 

A agência também confirma a presença de metais pesados. “Os resultados do último monitoramento, realizado neste mês de janeiro, mostraram aumento das concentrações de manganês, ferro, alumínio e da turbidez, comparativamente ao período de estiagem de 2019. O resultado já era esperado em função do período chuvoso e do revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo nas áreas próximas ao rompimento.”

Obras em Brumadinho

A Vale tem feito série de obras em Brumadinho para tentar resolver o problema. Foi criada uma estação de tratamento no encontro do córrego Ferro-Carvão com o Paraopeba – justamente por onde a lama atingiu o rio – e estão sendo feitas dragagens para a retirada o rejeito do leito.

Um dos pontos avaliados pela SOS foi este local. Segundo Malu, ali a turbidez diminuiu bastante, chegando ao limite legal, mas os níveis de metais pesados, não. Houve uma leve melhora no indicador total, passando de péssimo, no ano passado, para ruim neste ano. 

“Até agora, o que a Vale está fazendo são obras de remediação e, como tal, está dando certo. A tecnologia está se mostrando eficiente, o córrego Ferro-Carvão está melhor, mas ainda não impactou na qualidade do rio. Precisa de mais tempo. Com o trabalho de dragagem, o rio está sendo mexido o tempo todo, revirando os rejeitos que estão no fundo”, comenta.

Por meio de nota, a Vale disse que, após o desastre, ao longo do ano, analisou 40 mil amostras e afirmou que “os resultados obtidos até o momento não apontam efeitos tóxicos nas amostras de água devido a presença de rejeito no rio”.

Também na nota, a Vale afirmou que a atividade de dragagem conta com um plano de monitoramento ambiental da operação que permite adotar “medidas de mitigação de eventuais impactos, como aumento da turbidez da água e interferência na biota aquática”.

Segundo a empresa, “foram determinados gatilhos para a suspensão da atividade de dragagem em caso de qualquer parâmetro monitorado indicar alterações acima dos padrões determinados pelos órgãos competentes”.

BRUMADINHO - Um ano após o rompimento da barragem de rejeito de minério de ferro da Vale, em Brumadinho, o Rio Paraopeba, que foi atingido pela onda de lama, ainda não se recuperou. Com a ‘morte’ decretada depois de ter recebido uma enxurrada de rejeitos, o rio não foi capaz de depurar os contaminantes ao longo do ano. A água continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver.

Essas são as principais conclusões de uma análise feita por pesquisadores da Fundação SOS Mata Atlântica, que refez, entre os dias 8 e 17 deste mês, a mesma expedição que tinha sido feita no ano passado, uma semana após a tragédia. 

Em Brumadinho, a Vale criou uma estação de contenção e de tratamento da água para conter a contaminação do Rio Paraopeba, mas após um dia de fortes chuvas, como testemunhado pela reportagem em 17 de janeiro de 2020, os veios de lama voltaram a serperceptíveis na água. Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Na ocasião, uma parte do trabalho foi acompanhada pelo Estado. A reportagem testemunhou o tempo todo uma imagem marrom-avermelhada, densa, que em nada se parecia com um rio que pudesse suportar alguma vida.

A equipe da SOS voltou a presenciar um cenário muito parecido, principalmente no baixo Paraopeba. Os pesquisadores percorreram cerca de 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 23 pontos dos 356 km do rio.

“De certa forma, a qualidade da água do rio piorou. Houve um deslocamento das concentrações de metais pesados para o baixo Paraopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo. Os rejeitos estão ficando ali. Vimos uma curva inversa de comprometimento”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora do projeto.

Segundo ela, alguns pontos, que logo após a tragédia estavam ruins, neste ano apareceram como péssimos. E poucos tiveram alguma melhora. De acordo com o relatório, em 11 pontos, a presença de rejeitos e contaminantes não permite a presença de vida aquática.  Nos 23 analisados, nenhum apresentou qualidade da água boa ou ótima. Todos apresentam padrões em desconformidade com a legislação para o consumo. 

“O ecossistema da bacia foi alterado. Aves, mergulhões, por exemplo, a gente não viu. Em alguns pontos, o oxigênio na água estava em nível adequado à vida aquática, mas a vida não voltou porque os metais pesados estão muito intensos”, diz Malu.

Logo após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro do ano passado, expedição da Fundação SOS Mata Atlântica encontrou, uma semana depois,trechos do Rio Paraopeba tomados pela lama Foto: Gaspar Nóbrega/Fundação SOS Mata Atlântica

Outro indicador medidos foi o número de colônias de bactérias que têm capacidade de decompor matéria orgânica. “Elas foram encontradas em nível bem baixo. Sua presença indica a saúde do rio. O que indica que, mesmo com a volta do oxigênio, a vida não voltou”, explica.

A análise detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Para o cobre, a concentração foi 44 vezes superior; para o manganês, 14 vezes superior. E o ferro, que não deveria existir num rio de classe 2, como é o Paraopeba, a concentração encontrada chegou a 15 vezes a estabelecida pela legislação. 

Procurado pela reportagem, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que, com base no seu monitoramento, mantém a suspensão dos usos da água bruta do rio entre Brumadinho e Pompéu, “diante da não comprovação de ausência de risco à saúde humana devido à deposição dos rejeitos no leito”. 

A agência também confirma a presença de metais pesados. “Os resultados do último monitoramento, realizado neste mês de janeiro, mostraram aumento das concentrações de manganês, ferro, alumínio e da turbidez, comparativamente ao período de estiagem de 2019. O resultado já era esperado em função do período chuvoso e do revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo nas áreas próximas ao rompimento.”

Obras em Brumadinho

A Vale tem feito série de obras em Brumadinho para tentar resolver o problema. Foi criada uma estação de tratamento no encontro do córrego Ferro-Carvão com o Paraopeba – justamente por onde a lama atingiu o rio – e estão sendo feitas dragagens para a retirada o rejeito do leito.

Um dos pontos avaliados pela SOS foi este local. Segundo Malu, ali a turbidez diminuiu bastante, chegando ao limite legal, mas os níveis de metais pesados, não. Houve uma leve melhora no indicador total, passando de péssimo, no ano passado, para ruim neste ano. 

“Até agora, o que a Vale está fazendo são obras de remediação e, como tal, está dando certo. A tecnologia está se mostrando eficiente, o córrego Ferro-Carvão está melhor, mas ainda não impactou na qualidade do rio. Precisa de mais tempo. Com o trabalho de dragagem, o rio está sendo mexido o tempo todo, revirando os rejeitos que estão no fundo”, comenta.

Por meio de nota, a Vale disse que, após o desastre, ao longo do ano, analisou 40 mil amostras e afirmou que “os resultados obtidos até o momento não apontam efeitos tóxicos nas amostras de água devido a presença de rejeito no rio”.

Também na nota, a Vale afirmou que a atividade de dragagem conta com um plano de monitoramento ambiental da operação que permite adotar “medidas de mitigação de eventuais impactos, como aumento da turbidez da água e interferência na biota aquática”.

Segundo a empresa, “foram determinados gatilhos para a suspensão da atividade de dragagem em caso de qualquer parâmetro monitorado indicar alterações acima dos padrões determinados pelos órgãos competentes”.

BRUMADINHO - Um ano após o rompimento da barragem de rejeito de minério de ferro da Vale, em Brumadinho, o Rio Paraopeba, que foi atingido pela onda de lama, ainda não se recuperou. Com a ‘morte’ decretada depois de ter recebido uma enxurrada de rejeitos, o rio não foi capaz de depurar os contaminantes ao longo do ano. A água continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver.

Essas são as principais conclusões de uma análise feita por pesquisadores da Fundação SOS Mata Atlântica, que refez, entre os dias 8 e 17 deste mês, a mesma expedição que tinha sido feita no ano passado, uma semana após a tragédia. 

Em Brumadinho, a Vale criou uma estação de contenção e de tratamento da água para conter a contaminação do Rio Paraopeba, mas após um dia de fortes chuvas, como testemunhado pela reportagem em 17 de janeiro de 2020, os veios de lama voltaram a serperceptíveis na água. Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Na ocasião, uma parte do trabalho foi acompanhada pelo Estado. A reportagem testemunhou o tempo todo uma imagem marrom-avermelhada, densa, que em nada se parecia com um rio que pudesse suportar alguma vida.

A equipe da SOS voltou a presenciar um cenário muito parecido, principalmente no baixo Paraopeba. Os pesquisadores percorreram cerca de 2.000 km por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade da água em 23 pontos dos 356 km do rio.

“De certa forma, a qualidade da água do rio piorou. Houve um deslocamento das concentrações de metais pesados para o baixo Paraopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo. Os rejeitos estão ficando ali. Vimos uma curva inversa de comprometimento”, afirma Malu Ribeiro, coordenadora do projeto.

Segundo ela, alguns pontos, que logo após a tragédia estavam ruins, neste ano apareceram como péssimos. E poucos tiveram alguma melhora. De acordo com o relatório, em 11 pontos, a presença de rejeitos e contaminantes não permite a presença de vida aquática.  Nos 23 analisados, nenhum apresentou qualidade da água boa ou ótima. Todos apresentam padrões em desconformidade com a legislação para o consumo. 

“O ecossistema da bacia foi alterado. Aves, mergulhões, por exemplo, a gente não viu. Em alguns pontos, o oxigênio na água estava em nível adequado à vida aquática, mas a vida não voltou porque os metais pesados estão muito intensos”, diz Malu.

Logo após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro do ano passado, expedição da Fundação SOS Mata Atlântica encontrou, uma semana depois,trechos do Rio Paraopeba tomados pela lama Foto: Gaspar Nóbrega/Fundação SOS Mata Atlântica

Outro indicador medidos foi o número de colônias de bactérias que têm capacidade de decompor matéria orgânica. “Elas foram encontradas em nível bem baixo. Sua presença indica a saúde do rio. O que indica que, mesmo com a volta do oxigênio, a vida não voltou”, explica.

A análise detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Para o cobre, a concentração foi 44 vezes superior; para o manganês, 14 vezes superior. E o ferro, que não deveria existir num rio de classe 2, como é o Paraopeba, a concentração encontrada chegou a 15 vezes a estabelecida pela legislação. 

Procurado pela reportagem, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que, com base no seu monitoramento, mantém a suspensão dos usos da água bruta do rio entre Brumadinho e Pompéu, “diante da não comprovação de ausência de risco à saúde humana devido à deposição dos rejeitos no leito”. 

A agência também confirma a presença de metais pesados. “Os resultados do último monitoramento, realizado neste mês de janeiro, mostraram aumento das concentrações de manganês, ferro, alumínio e da turbidez, comparativamente ao período de estiagem de 2019. O resultado já era esperado em função do período chuvoso e do revolvimento do material que ainda se encontra depositado no leito do rio, sobretudo nas áreas próximas ao rompimento.”

Obras em Brumadinho

A Vale tem feito série de obras em Brumadinho para tentar resolver o problema. Foi criada uma estação de tratamento no encontro do córrego Ferro-Carvão com o Paraopeba – justamente por onde a lama atingiu o rio – e estão sendo feitas dragagens para a retirada o rejeito do leito.

Um dos pontos avaliados pela SOS foi este local. Segundo Malu, ali a turbidez diminuiu bastante, chegando ao limite legal, mas os níveis de metais pesados, não. Houve uma leve melhora no indicador total, passando de péssimo, no ano passado, para ruim neste ano. 

“Até agora, o que a Vale está fazendo são obras de remediação e, como tal, está dando certo. A tecnologia está se mostrando eficiente, o córrego Ferro-Carvão está melhor, mas ainda não impactou na qualidade do rio. Precisa de mais tempo. Com o trabalho de dragagem, o rio está sendo mexido o tempo todo, revirando os rejeitos que estão no fundo”, comenta.

Por meio de nota, a Vale disse que, após o desastre, ao longo do ano, analisou 40 mil amostras e afirmou que “os resultados obtidos até o momento não apontam efeitos tóxicos nas amostras de água devido a presença de rejeito no rio”.

Também na nota, a Vale afirmou que a atividade de dragagem conta com um plano de monitoramento ambiental da operação que permite adotar “medidas de mitigação de eventuais impactos, como aumento da turbidez da água e interferência na biota aquática”.

Segundo a empresa, “foram determinados gatilhos para a suspensão da atividade de dragagem em caso de qualquer parâmetro monitorado indicar alterações acima dos padrões determinados pelos órgãos competentes”.

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