Marrakech e Fes deslumbram com a história Árabe


Por Agencia Estado

Faça um esforço para se livrar do medo e do condicionamento de defesa contra a violência urbana. Você não está no Brasil. Um sujeito encostado em uma esquina escura não é necessariamente um assaltante, nem um garoto que corre na sua direção, um trombadinha. O lugar muitas vezes pode parecer o Brasil. Mas você não corre riscos. Não que o Marrocos seja um paraíso. Não é improvável descobrir que você foi vítima de um batedor de carteiras ? surpresa que pode ocorrer mesmo na civilizada Europa -, mas um assalto, definitivamente, é uma questão fora de propósito. Este é um princípio básico para iniciar o passeio pelas medinas de Marrakech e Fes, as mais encantadoras cidades imperiais do país. Medina é o nome que se dá à parte velha das cidades e nela está instalado o "souk", o mercado que funciona daquela forma desde a Idade Média. As medinas são protegidas por muralhas que, séculos atrás, tinham o propósito de conter invasores. A de Marrakech, por exemplo, tem quase um milênio. Portais dão acesso a elas. Muitos deles, chamados de "babs" na língua nativa, são autênticas obras-primas da arquitetura árabe. Quando você passa por um, parece que atravessou uma barreira que separa dimensões. Descortina-se um cenário de cinema: senhoras vestindo "djelabba" e cobrindo o rosto, deixando só os olhos à mostra, se espremem no labirinto de ruas estreitas junto a jovens mulheres que já perderam o hábito de usar este tipo de traje. De repente, um grito vem da multidão: "balak, balak". Um homem puxa um burro carregado com meia dúzia de botijões de gás e alerta, em árabe, para que as pessoas tenham cuidado. O burro e o cavalo são o principal meio de transporte dentro das medinas, em especial na de Fes. Algumas pessoas usam bicicletas e uns poucos motonetas. Uma desatenção ao som das buzinas ou ao "balak" pode significar um pneu ou um pisão no pé. Vida própria - As medinas se ancoram em cinco necessidades básicas do povo que vive ali: a fonte de água - para que as pessoas se lavem antes das orações - a mesquita, o banho turco, a escola e o forno comunitário no qual se faz o pão. Ali não há bebidas alcoólicas nem nos hotéis, que na verdade são pousadas; não há drogas como o haxixe, que é tolerado fora das muralhas; e não há mulheres nas tendas. A medina de Marrakech é a mais interessante das duas. Cercada por uma imponente muralha erguida no século 12 pelo sultão Ali ben Yussef, pode-se chegar a ela por uma das 14 portas. No centro da cidade antiga está a fantástica praça Djemaa El-Fna, cuja tradução literal é Assembléia dos Mortos. Ali, há alguns séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, no melhor estilo da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Hoje é palco de performances dos mais variados tipos. Encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, faquires, engolidores de espada, curandeiros, músicos de rua, dançarinos, ambulantes, contadores de histórias e até vendedores de água ? homens vestidos de vermelho da cabeça aos pés, que comercializam doses de água que carregam em bexigas de cabra e servem em conchas. A praça é um grande circo a céu aberto. Claro que a exibição deve sempre valer uma "bakchich", ou gorjeta, palavra que o turista ouve dezenas de vezes. Você pode tirar fotografias, seja de um encantador de cobras ou de uma senhora só com os olhos expostos. Mas não tenha dúvida que será assediado para pagar também pela foto que tirou. Barracas vendem comida típica, mulheres oferecem seu talento para tatuar mãos, ombros ou tornozelos com hena e não é incomum encontrar um dentista, na verdade um vendedor de dentaduras prontas com seu tabuleiro armado. O cliente chega, prova e leva. O som de gaitas, flautas e principalmente instrumentos de percussão, todos tocados ao mesmo tempo, às vezes, é perturbador. A Praça Djemaa El-Fna é uma babel e fica especialmente agitada à noite. Andar pela medina é uma oportunidade de ter contato com as lendas árabes. É muito comum observar ninhos de cegonhas espalhados pelos telhados das casas. Uma poética história explica a presença de tantas aves deste tipo ali. Conta que um sacerdote, certo dia, viu-se sem água para se lavar antes de orar ? os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. Como já passava do horário, o sacerdote decidiu lavar-se com leite. Foi imediatamente transformado em cegonha. Cidade Rosa - Marrakech tem 1 milhão de habitantes e é conhecida como a Cidade Rosa por conta da coloração de seus prédios. A maior parte das casas é pintada nesta cor por duas razões: para evitar o reflexo do sol impiedoso, que no mês de agosto chega a elevar a temperatura a 48 graus, e para disfarçar a poeira que vem do Saara, trazida por um vento típico da região, que impregna os prédios. O deserto está próximo, a 220 quilômetros. A cidade fundada pelo sultão Abu Bekr no século 10 foi capital do Marrocos várias vezes e embora tenha na Praça Djemaa El-Fna sua principal atração, tem outros encantos. É uma cidade de muitos jardins e árvores. Não queira compará-los aos jardins de Paris, mas as árvores, em especial, chamam bastante a atenção. O tipo de palmeira que dá tâmaras, por exemplo, pontilha a paisagem urbana. Estima-se que há na cidade mais de 450 mil delas - algumas das quais mais altas do que a maior parte dos edifícios -, que começam a dar frutos no mês de outubro. A palmeira, como a figueira e a oliveira, são árvores sagradas para os muçulmanos. Os Jardins de Menara mostram a importância da oliveira para o islamismo. Trata-se de um bosque de 12 mil árvores, muitas das quais plantadas no século 17. Entre elas, a piscina, como é chamado um enorme açude cavado no século 12, que recebe água de dezenas de poços artesianos com 300 metros de profundidade cada. Ainda hoje ele abastece parte da cidade. A estrutura atual é de meados do século 19, um projeto encomendado pelo sultão Adu r-Rahman. A mesquita da Koutoubia é uma visita que vale à pena por sua história e principalmente para quem conhece Sevilha. Ela foi construída em 1147 e demolida logo em seguida, quando se descobriu que não estava alinhada com Meca, a cidade sagrada do Islã, que fica na Arábia ? os muçulmanos oram voltados para Meca. Reconstruída pelo sultão Abdelmoumen, foi concluída apenas em 1199. O templo não pode ser visitado por dentro, mas de fora pode-se contemplar a escultura no alto do minarete de 77 metros. São três esferas empilhadas, de tamanhos diferentes, que consumiram oito quilos de ouro. As esferas significam três dos cinco pilares do islamismo. A obra dourada no alto do minarete da Koutoubia, que pode ser vista de praticamente qualquer lugar da cidade, serviu de modelo para a Giralda construída pelos árabes, durante o período de dominação na Andaluzia, na hoje Catedral de Sevilha. Ainda na medina há vários palácios cuja visitação é aberta ao público, entre os quais o de La Bahia, que tem um tradicional jardim andaluz, fontes e laranjeiras. Uma incursão por qualquer um deles pode mostrar o estilo árabe de vida. Centro religioso - Fes, a mais antiga das cidades imperiais, com seus 500 mil habitantes, não é menos encantadora. A primeira diferença com Marrakech é logo percebida. As ruas da medina são mais limpas, e como não há um palco natural para as apresentações de artistas, como na Praça Djemaa El-Fna, têm-se a impressão de que é um lugar mais tranqüilo. A cidade, fundada no ano 789 pelo imperador Idris II, transformou-se ao longo dos anos em pólo de atração de intelectuais e artistas de todo o tipo, especialmente artesãos. A intensa atividade deles é um destaque do lugar. Fes, que tem a maior medina do país, respira o Alcorão. A cidade é coalhada de madrassas, como são chamadas as escolas religiosas que ensinam o livro sagrado do islamismo. Existem aqui 410 mesquitas, 320 das quais dentro da cidade antiga, um labirinto formado por 15 mil ruas. O trabalho dos artistas pode ser observado nas madrassas. A entrada é permitida apenas no hall de algumas delas, mas a arquitetura de certos prédios é belíssima, e não menos belas são suas portas, esculpidas quase sempre em bronze e madeira. A Madrassa Seffarine, localizada na medina, é a mais antiga, construída em 1271. A Madrassa Bou Inania, de 1355, é uma jóia da arte árabe: é toda recoberta com mosaicos esculpidos em madeira. A Madrassa de Attarin é uma das mais famosas e permite a entrada de visitantes. Construída no século 14, tem uma belíssima porta de bronze. O pátio interno oferece vários exemplos do cuidadoso e delicado trabalho de artesãos marroquinos em mármore, alabastro e cedro. Uma curiosidade nas proximidades da Madrassa de Attarin é o prédio da Quaraouyine, que os marroquinos consideram a primeira universidade do mundo. O prédio abrigou originalmente uma mesquita, mas no ano 859 a filha do sultão Mohamed bem Abdellah, Fatima El Fihria, fundou ali uma universidade. Hoje outra vez uma mesquita, a Quaraouyine continua sendo um centro de aprendizado do islamismo. Não é possível entrar nela, mas algumas das portas estão sempre abertas e assim é possível admirar a beleza do pátio externo. Em toda a cidade antiga de Fes a tradicional arquitetura árabe se destaca. Quase todas as casas são projetadas de forma a não oferecer a quem passa pela rua detalhes da qualidade de vida do morador. Os árabes não ostentam. Preferem ser, que parecer. Muitos vivem ainda como há séculos. Um passeio impressionante, dentro da medina, é até Suuq Dabbaghin, como é chamado o curtume que funciona, ainda hoje, da mesma forma como na Idade Média. O curtimento, basicamente de peles de cabra, é artesanal. O lugar tem o cheiro da morte. Produtos químicos como a cal e corantes são colocados em dezenas de tanques pelos quais as peles vão passando no processo de tratamento. A desenvoltura dos homens descalços e sem camisa que trabalham ali podem chocar o turista, que certamente não conseguiria chegar até o lugar sem segurar, espremendo, folhas de hortelã no nariz. O cheiro é insuportável, apesar de o curtume ser um registro vivo da história.

Faça um esforço para se livrar do medo e do condicionamento de defesa contra a violência urbana. Você não está no Brasil. Um sujeito encostado em uma esquina escura não é necessariamente um assaltante, nem um garoto que corre na sua direção, um trombadinha. O lugar muitas vezes pode parecer o Brasil. Mas você não corre riscos. Não que o Marrocos seja um paraíso. Não é improvável descobrir que você foi vítima de um batedor de carteiras ? surpresa que pode ocorrer mesmo na civilizada Europa -, mas um assalto, definitivamente, é uma questão fora de propósito. Este é um princípio básico para iniciar o passeio pelas medinas de Marrakech e Fes, as mais encantadoras cidades imperiais do país. Medina é o nome que se dá à parte velha das cidades e nela está instalado o "souk", o mercado que funciona daquela forma desde a Idade Média. As medinas são protegidas por muralhas que, séculos atrás, tinham o propósito de conter invasores. A de Marrakech, por exemplo, tem quase um milênio. Portais dão acesso a elas. Muitos deles, chamados de "babs" na língua nativa, são autênticas obras-primas da arquitetura árabe. Quando você passa por um, parece que atravessou uma barreira que separa dimensões. Descortina-se um cenário de cinema: senhoras vestindo "djelabba" e cobrindo o rosto, deixando só os olhos à mostra, se espremem no labirinto de ruas estreitas junto a jovens mulheres que já perderam o hábito de usar este tipo de traje. De repente, um grito vem da multidão: "balak, balak". Um homem puxa um burro carregado com meia dúzia de botijões de gás e alerta, em árabe, para que as pessoas tenham cuidado. O burro e o cavalo são o principal meio de transporte dentro das medinas, em especial na de Fes. Algumas pessoas usam bicicletas e uns poucos motonetas. Uma desatenção ao som das buzinas ou ao "balak" pode significar um pneu ou um pisão no pé. Vida própria - As medinas se ancoram em cinco necessidades básicas do povo que vive ali: a fonte de água - para que as pessoas se lavem antes das orações - a mesquita, o banho turco, a escola e o forno comunitário no qual se faz o pão. Ali não há bebidas alcoólicas nem nos hotéis, que na verdade são pousadas; não há drogas como o haxixe, que é tolerado fora das muralhas; e não há mulheres nas tendas. A medina de Marrakech é a mais interessante das duas. Cercada por uma imponente muralha erguida no século 12 pelo sultão Ali ben Yussef, pode-se chegar a ela por uma das 14 portas. No centro da cidade antiga está a fantástica praça Djemaa El-Fna, cuja tradução literal é Assembléia dos Mortos. Ali, há alguns séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, no melhor estilo da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Hoje é palco de performances dos mais variados tipos. Encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, faquires, engolidores de espada, curandeiros, músicos de rua, dançarinos, ambulantes, contadores de histórias e até vendedores de água ? homens vestidos de vermelho da cabeça aos pés, que comercializam doses de água que carregam em bexigas de cabra e servem em conchas. A praça é um grande circo a céu aberto. Claro que a exibição deve sempre valer uma "bakchich", ou gorjeta, palavra que o turista ouve dezenas de vezes. Você pode tirar fotografias, seja de um encantador de cobras ou de uma senhora só com os olhos expostos. Mas não tenha dúvida que será assediado para pagar também pela foto que tirou. Barracas vendem comida típica, mulheres oferecem seu talento para tatuar mãos, ombros ou tornozelos com hena e não é incomum encontrar um dentista, na verdade um vendedor de dentaduras prontas com seu tabuleiro armado. O cliente chega, prova e leva. O som de gaitas, flautas e principalmente instrumentos de percussão, todos tocados ao mesmo tempo, às vezes, é perturbador. A Praça Djemaa El-Fna é uma babel e fica especialmente agitada à noite. Andar pela medina é uma oportunidade de ter contato com as lendas árabes. É muito comum observar ninhos de cegonhas espalhados pelos telhados das casas. Uma poética história explica a presença de tantas aves deste tipo ali. Conta que um sacerdote, certo dia, viu-se sem água para se lavar antes de orar ? os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. Como já passava do horário, o sacerdote decidiu lavar-se com leite. Foi imediatamente transformado em cegonha. Cidade Rosa - Marrakech tem 1 milhão de habitantes e é conhecida como a Cidade Rosa por conta da coloração de seus prédios. A maior parte das casas é pintada nesta cor por duas razões: para evitar o reflexo do sol impiedoso, que no mês de agosto chega a elevar a temperatura a 48 graus, e para disfarçar a poeira que vem do Saara, trazida por um vento típico da região, que impregna os prédios. O deserto está próximo, a 220 quilômetros. A cidade fundada pelo sultão Abu Bekr no século 10 foi capital do Marrocos várias vezes e embora tenha na Praça Djemaa El-Fna sua principal atração, tem outros encantos. É uma cidade de muitos jardins e árvores. Não queira compará-los aos jardins de Paris, mas as árvores, em especial, chamam bastante a atenção. O tipo de palmeira que dá tâmaras, por exemplo, pontilha a paisagem urbana. Estima-se que há na cidade mais de 450 mil delas - algumas das quais mais altas do que a maior parte dos edifícios -, que começam a dar frutos no mês de outubro. A palmeira, como a figueira e a oliveira, são árvores sagradas para os muçulmanos. Os Jardins de Menara mostram a importância da oliveira para o islamismo. Trata-se de um bosque de 12 mil árvores, muitas das quais plantadas no século 17. Entre elas, a piscina, como é chamado um enorme açude cavado no século 12, que recebe água de dezenas de poços artesianos com 300 metros de profundidade cada. Ainda hoje ele abastece parte da cidade. A estrutura atual é de meados do século 19, um projeto encomendado pelo sultão Adu r-Rahman. A mesquita da Koutoubia é uma visita que vale à pena por sua história e principalmente para quem conhece Sevilha. Ela foi construída em 1147 e demolida logo em seguida, quando se descobriu que não estava alinhada com Meca, a cidade sagrada do Islã, que fica na Arábia ? os muçulmanos oram voltados para Meca. Reconstruída pelo sultão Abdelmoumen, foi concluída apenas em 1199. O templo não pode ser visitado por dentro, mas de fora pode-se contemplar a escultura no alto do minarete de 77 metros. São três esferas empilhadas, de tamanhos diferentes, que consumiram oito quilos de ouro. As esferas significam três dos cinco pilares do islamismo. A obra dourada no alto do minarete da Koutoubia, que pode ser vista de praticamente qualquer lugar da cidade, serviu de modelo para a Giralda construída pelos árabes, durante o período de dominação na Andaluzia, na hoje Catedral de Sevilha. Ainda na medina há vários palácios cuja visitação é aberta ao público, entre os quais o de La Bahia, que tem um tradicional jardim andaluz, fontes e laranjeiras. Uma incursão por qualquer um deles pode mostrar o estilo árabe de vida. Centro religioso - Fes, a mais antiga das cidades imperiais, com seus 500 mil habitantes, não é menos encantadora. A primeira diferença com Marrakech é logo percebida. As ruas da medina são mais limpas, e como não há um palco natural para as apresentações de artistas, como na Praça Djemaa El-Fna, têm-se a impressão de que é um lugar mais tranqüilo. A cidade, fundada no ano 789 pelo imperador Idris II, transformou-se ao longo dos anos em pólo de atração de intelectuais e artistas de todo o tipo, especialmente artesãos. A intensa atividade deles é um destaque do lugar. Fes, que tem a maior medina do país, respira o Alcorão. A cidade é coalhada de madrassas, como são chamadas as escolas religiosas que ensinam o livro sagrado do islamismo. Existem aqui 410 mesquitas, 320 das quais dentro da cidade antiga, um labirinto formado por 15 mil ruas. O trabalho dos artistas pode ser observado nas madrassas. A entrada é permitida apenas no hall de algumas delas, mas a arquitetura de certos prédios é belíssima, e não menos belas são suas portas, esculpidas quase sempre em bronze e madeira. A Madrassa Seffarine, localizada na medina, é a mais antiga, construída em 1271. A Madrassa Bou Inania, de 1355, é uma jóia da arte árabe: é toda recoberta com mosaicos esculpidos em madeira. A Madrassa de Attarin é uma das mais famosas e permite a entrada de visitantes. Construída no século 14, tem uma belíssima porta de bronze. O pátio interno oferece vários exemplos do cuidadoso e delicado trabalho de artesãos marroquinos em mármore, alabastro e cedro. Uma curiosidade nas proximidades da Madrassa de Attarin é o prédio da Quaraouyine, que os marroquinos consideram a primeira universidade do mundo. O prédio abrigou originalmente uma mesquita, mas no ano 859 a filha do sultão Mohamed bem Abdellah, Fatima El Fihria, fundou ali uma universidade. Hoje outra vez uma mesquita, a Quaraouyine continua sendo um centro de aprendizado do islamismo. Não é possível entrar nela, mas algumas das portas estão sempre abertas e assim é possível admirar a beleza do pátio externo. Em toda a cidade antiga de Fes a tradicional arquitetura árabe se destaca. Quase todas as casas são projetadas de forma a não oferecer a quem passa pela rua detalhes da qualidade de vida do morador. Os árabes não ostentam. Preferem ser, que parecer. Muitos vivem ainda como há séculos. Um passeio impressionante, dentro da medina, é até Suuq Dabbaghin, como é chamado o curtume que funciona, ainda hoje, da mesma forma como na Idade Média. O curtimento, basicamente de peles de cabra, é artesanal. O lugar tem o cheiro da morte. Produtos químicos como a cal e corantes são colocados em dezenas de tanques pelos quais as peles vão passando no processo de tratamento. A desenvoltura dos homens descalços e sem camisa que trabalham ali podem chocar o turista, que certamente não conseguiria chegar até o lugar sem segurar, espremendo, folhas de hortelã no nariz. O cheiro é insuportável, apesar de o curtume ser um registro vivo da história.

Faça um esforço para se livrar do medo e do condicionamento de defesa contra a violência urbana. Você não está no Brasil. Um sujeito encostado em uma esquina escura não é necessariamente um assaltante, nem um garoto que corre na sua direção, um trombadinha. O lugar muitas vezes pode parecer o Brasil. Mas você não corre riscos. Não que o Marrocos seja um paraíso. Não é improvável descobrir que você foi vítima de um batedor de carteiras ? surpresa que pode ocorrer mesmo na civilizada Europa -, mas um assalto, definitivamente, é uma questão fora de propósito. Este é um princípio básico para iniciar o passeio pelas medinas de Marrakech e Fes, as mais encantadoras cidades imperiais do país. Medina é o nome que se dá à parte velha das cidades e nela está instalado o "souk", o mercado que funciona daquela forma desde a Idade Média. As medinas são protegidas por muralhas que, séculos atrás, tinham o propósito de conter invasores. A de Marrakech, por exemplo, tem quase um milênio. Portais dão acesso a elas. Muitos deles, chamados de "babs" na língua nativa, são autênticas obras-primas da arquitetura árabe. Quando você passa por um, parece que atravessou uma barreira que separa dimensões. Descortina-se um cenário de cinema: senhoras vestindo "djelabba" e cobrindo o rosto, deixando só os olhos à mostra, se espremem no labirinto de ruas estreitas junto a jovens mulheres que já perderam o hábito de usar este tipo de traje. De repente, um grito vem da multidão: "balak, balak". Um homem puxa um burro carregado com meia dúzia de botijões de gás e alerta, em árabe, para que as pessoas tenham cuidado. O burro e o cavalo são o principal meio de transporte dentro das medinas, em especial na de Fes. Algumas pessoas usam bicicletas e uns poucos motonetas. Uma desatenção ao som das buzinas ou ao "balak" pode significar um pneu ou um pisão no pé. Vida própria - As medinas se ancoram em cinco necessidades básicas do povo que vive ali: a fonte de água - para que as pessoas se lavem antes das orações - a mesquita, o banho turco, a escola e o forno comunitário no qual se faz o pão. Ali não há bebidas alcoólicas nem nos hotéis, que na verdade são pousadas; não há drogas como o haxixe, que é tolerado fora das muralhas; e não há mulheres nas tendas. A medina de Marrakech é a mais interessante das duas. Cercada por uma imponente muralha erguida no século 12 pelo sultão Ali ben Yussef, pode-se chegar a ela por uma das 14 portas. No centro da cidade antiga está a fantástica praça Djemaa El-Fna, cuja tradução literal é Assembléia dos Mortos. Ali, há alguns séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, no melhor estilo da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Hoje é palco de performances dos mais variados tipos. Encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, faquires, engolidores de espada, curandeiros, músicos de rua, dançarinos, ambulantes, contadores de histórias e até vendedores de água ? homens vestidos de vermelho da cabeça aos pés, que comercializam doses de água que carregam em bexigas de cabra e servem em conchas. A praça é um grande circo a céu aberto. Claro que a exibição deve sempre valer uma "bakchich", ou gorjeta, palavra que o turista ouve dezenas de vezes. Você pode tirar fotografias, seja de um encantador de cobras ou de uma senhora só com os olhos expostos. Mas não tenha dúvida que será assediado para pagar também pela foto que tirou. Barracas vendem comida típica, mulheres oferecem seu talento para tatuar mãos, ombros ou tornozelos com hena e não é incomum encontrar um dentista, na verdade um vendedor de dentaduras prontas com seu tabuleiro armado. O cliente chega, prova e leva. O som de gaitas, flautas e principalmente instrumentos de percussão, todos tocados ao mesmo tempo, às vezes, é perturbador. A Praça Djemaa El-Fna é uma babel e fica especialmente agitada à noite. Andar pela medina é uma oportunidade de ter contato com as lendas árabes. É muito comum observar ninhos de cegonhas espalhados pelos telhados das casas. Uma poética história explica a presença de tantas aves deste tipo ali. Conta que um sacerdote, certo dia, viu-se sem água para se lavar antes de orar ? os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. Como já passava do horário, o sacerdote decidiu lavar-se com leite. Foi imediatamente transformado em cegonha. Cidade Rosa - Marrakech tem 1 milhão de habitantes e é conhecida como a Cidade Rosa por conta da coloração de seus prédios. A maior parte das casas é pintada nesta cor por duas razões: para evitar o reflexo do sol impiedoso, que no mês de agosto chega a elevar a temperatura a 48 graus, e para disfarçar a poeira que vem do Saara, trazida por um vento típico da região, que impregna os prédios. O deserto está próximo, a 220 quilômetros. A cidade fundada pelo sultão Abu Bekr no século 10 foi capital do Marrocos várias vezes e embora tenha na Praça Djemaa El-Fna sua principal atração, tem outros encantos. É uma cidade de muitos jardins e árvores. Não queira compará-los aos jardins de Paris, mas as árvores, em especial, chamam bastante a atenção. O tipo de palmeira que dá tâmaras, por exemplo, pontilha a paisagem urbana. Estima-se que há na cidade mais de 450 mil delas - algumas das quais mais altas do que a maior parte dos edifícios -, que começam a dar frutos no mês de outubro. A palmeira, como a figueira e a oliveira, são árvores sagradas para os muçulmanos. Os Jardins de Menara mostram a importância da oliveira para o islamismo. Trata-se de um bosque de 12 mil árvores, muitas das quais plantadas no século 17. Entre elas, a piscina, como é chamado um enorme açude cavado no século 12, que recebe água de dezenas de poços artesianos com 300 metros de profundidade cada. Ainda hoje ele abastece parte da cidade. A estrutura atual é de meados do século 19, um projeto encomendado pelo sultão Adu r-Rahman. A mesquita da Koutoubia é uma visita que vale à pena por sua história e principalmente para quem conhece Sevilha. Ela foi construída em 1147 e demolida logo em seguida, quando se descobriu que não estava alinhada com Meca, a cidade sagrada do Islã, que fica na Arábia ? os muçulmanos oram voltados para Meca. Reconstruída pelo sultão Abdelmoumen, foi concluída apenas em 1199. O templo não pode ser visitado por dentro, mas de fora pode-se contemplar a escultura no alto do minarete de 77 metros. São três esferas empilhadas, de tamanhos diferentes, que consumiram oito quilos de ouro. As esferas significam três dos cinco pilares do islamismo. A obra dourada no alto do minarete da Koutoubia, que pode ser vista de praticamente qualquer lugar da cidade, serviu de modelo para a Giralda construída pelos árabes, durante o período de dominação na Andaluzia, na hoje Catedral de Sevilha. Ainda na medina há vários palácios cuja visitação é aberta ao público, entre os quais o de La Bahia, que tem um tradicional jardim andaluz, fontes e laranjeiras. Uma incursão por qualquer um deles pode mostrar o estilo árabe de vida. Centro religioso - Fes, a mais antiga das cidades imperiais, com seus 500 mil habitantes, não é menos encantadora. A primeira diferença com Marrakech é logo percebida. As ruas da medina são mais limpas, e como não há um palco natural para as apresentações de artistas, como na Praça Djemaa El-Fna, têm-se a impressão de que é um lugar mais tranqüilo. A cidade, fundada no ano 789 pelo imperador Idris II, transformou-se ao longo dos anos em pólo de atração de intelectuais e artistas de todo o tipo, especialmente artesãos. A intensa atividade deles é um destaque do lugar. Fes, que tem a maior medina do país, respira o Alcorão. A cidade é coalhada de madrassas, como são chamadas as escolas religiosas que ensinam o livro sagrado do islamismo. Existem aqui 410 mesquitas, 320 das quais dentro da cidade antiga, um labirinto formado por 15 mil ruas. O trabalho dos artistas pode ser observado nas madrassas. A entrada é permitida apenas no hall de algumas delas, mas a arquitetura de certos prédios é belíssima, e não menos belas são suas portas, esculpidas quase sempre em bronze e madeira. A Madrassa Seffarine, localizada na medina, é a mais antiga, construída em 1271. A Madrassa Bou Inania, de 1355, é uma jóia da arte árabe: é toda recoberta com mosaicos esculpidos em madeira. A Madrassa de Attarin é uma das mais famosas e permite a entrada de visitantes. Construída no século 14, tem uma belíssima porta de bronze. O pátio interno oferece vários exemplos do cuidadoso e delicado trabalho de artesãos marroquinos em mármore, alabastro e cedro. Uma curiosidade nas proximidades da Madrassa de Attarin é o prédio da Quaraouyine, que os marroquinos consideram a primeira universidade do mundo. O prédio abrigou originalmente uma mesquita, mas no ano 859 a filha do sultão Mohamed bem Abdellah, Fatima El Fihria, fundou ali uma universidade. Hoje outra vez uma mesquita, a Quaraouyine continua sendo um centro de aprendizado do islamismo. Não é possível entrar nela, mas algumas das portas estão sempre abertas e assim é possível admirar a beleza do pátio externo. Em toda a cidade antiga de Fes a tradicional arquitetura árabe se destaca. Quase todas as casas são projetadas de forma a não oferecer a quem passa pela rua detalhes da qualidade de vida do morador. Os árabes não ostentam. Preferem ser, que parecer. Muitos vivem ainda como há séculos. Um passeio impressionante, dentro da medina, é até Suuq Dabbaghin, como é chamado o curtume que funciona, ainda hoje, da mesma forma como na Idade Média. O curtimento, basicamente de peles de cabra, é artesanal. O lugar tem o cheiro da morte. Produtos químicos como a cal e corantes são colocados em dezenas de tanques pelos quais as peles vão passando no processo de tratamento. A desenvoltura dos homens descalços e sem camisa que trabalham ali podem chocar o turista, que certamente não conseguiria chegar até o lugar sem segurar, espremendo, folhas de hortelã no nariz. O cheiro é insuportável, apesar de o curtume ser um registro vivo da história.

Faça um esforço para se livrar do medo e do condicionamento de defesa contra a violência urbana. Você não está no Brasil. Um sujeito encostado em uma esquina escura não é necessariamente um assaltante, nem um garoto que corre na sua direção, um trombadinha. O lugar muitas vezes pode parecer o Brasil. Mas você não corre riscos. Não que o Marrocos seja um paraíso. Não é improvável descobrir que você foi vítima de um batedor de carteiras ? surpresa que pode ocorrer mesmo na civilizada Europa -, mas um assalto, definitivamente, é uma questão fora de propósito. Este é um princípio básico para iniciar o passeio pelas medinas de Marrakech e Fes, as mais encantadoras cidades imperiais do país. Medina é o nome que se dá à parte velha das cidades e nela está instalado o "souk", o mercado que funciona daquela forma desde a Idade Média. As medinas são protegidas por muralhas que, séculos atrás, tinham o propósito de conter invasores. A de Marrakech, por exemplo, tem quase um milênio. Portais dão acesso a elas. Muitos deles, chamados de "babs" na língua nativa, são autênticas obras-primas da arquitetura árabe. Quando você passa por um, parece que atravessou uma barreira que separa dimensões. Descortina-se um cenário de cinema: senhoras vestindo "djelabba" e cobrindo o rosto, deixando só os olhos à mostra, se espremem no labirinto de ruas estreitas junto a jovens mulheres que já perderam o hábito de usar este tipo de traje. De repente, um grito vem da multidão: "balak, balak". Um homem puxa um burro carregado com meia dúzia de botijões de gás e alerta, em árabe, para que as pessoas tenham cuidado. O burro e o cavalo são o principal meio de transporte dentro das medinas, em especial na de Fes. Algumas pessoas usam bicicletas e uns poucos motonetas. Uma desatenção ao som das buzinas ou ao "balak" pode significar um pneu ou um pisão no pé. Vida própria - As medinas se ancoram em cinco necessidades básicas do povo que vive ali: a fonte de água - para que as pessoas se lavem antes das orações - a mesquita, o banho turco, a escola e o forno comunitário no qual se faz o pão. Ali não há bebidas alcoólicas nem nos hotéis, que na verdade são pousadas; não há drogas como o haxixe, que é tolerado fora das muralhas; e não há mulheres nas tendas. A medina de Marrakech é a mais interessante das duas. Cercada por uma imponente muralha erguida no século 12 pelo sultão Ali ben Yussef, pode-se chegar a ela por uma das 14 portas. No centro da cidade antiga está a fantástica praça Djemaa El-Fna, cuja tradução literal é Assembléia dos Mortos. Ali, há alguns séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, no melhor estilo da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Hoje é palco de performances dos mais variados tipos. Encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, faquires, engolidores de espada, curandeiros, músicos de rua, dançarinos, ambulantes, contadores de histórias e até vendedores de água ? homens vestidos de vermelho da cabeça aos pés, que comercializam doses de água que carregam em bexigas de cabra e servem em conchas. A praça é um grande circo a céu aberto. Claro que a exibição deve sempre valer uma "bakchich", ou gorjeta, palavra que o turista ouve dezenas de vezes. Você pode tirar fotografias, seja de um encantador de cobras ou de uma senhora só com os olhos expostos. Mas não tenha dúvida que será assediado para pagar também pela foto que tirou. Barracas vendem comida típica, mulheres oferecem seu talento para tatuar mãos, ombros ou tornozelos com hena e não é incomum encontrar um dentista, na verdade um vendedor de dentaduras prontas com seu tabuleiro armado. O cliente chega, prova e leva. O som de gaitas, flautas e principalmente instrumentos de percussão, todos tocados ao mesmo tempo, às vezes, é perturbador. A Praça Djemaa El-Fna é uma babel e fica especialmente agitada à noite. Andar pela medina é uma oportunidade de ter contato com as lendas árabes. É muito comum observar ninhos de cegonhas espalhados pelos telhados das casas. Uma poética história explica a presença de tantas aves deste tipo ali. Conta que um sacerdote, certo dia, viu-se sem água para se lavar antes de orar ? os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. Como já passava do horário, o sacerdote decidiu lavar-se com leite. Foi imediatamente transformado em cegonha. Cidade Rosa - Marrakech tem 1 milhão de habitantes e é conhecida como a Cidade Rosa por conta da coloração de seus prédios. A maior parte das casas é pintada nesta cor por duas razões: para evitar o reflexo do sol impiedoso, que no mês de agosto chega a elevar a temperatura a 48 graus, e para disfarçar a poeira que vem do Saara, trazida por um vento típico da região, que impregna os prédios. O deserto está próximo, a 220 quilômetros. A cidade fundada pelo sultão Abu Bekr no século 10 foi capital do Marrocos várias vezes e embora tenha na Praça Djemaa El-Fna sua principal atração, tem outros encantos. É uma cidade de muitos jardins e árvores. Não queira compará-los aos jardins de Paris, mas as árvores, em especial, chamam bastante a atenção. O tipo de palmeira que dá tâmaras, por exemplo, pontilha a paisagem urbana. Estima-se que há na cidade mais de 450 mil delas - algumas das quais mais altas do que a maior parte dos edifícios -, que começam a dar frutos no mês de outubro. A palmeira, como a figueira e a oliveira, são árvores sagradas para os muçulmanos. Os Jardins de Menara mostram a importância da oliveira para o islamismo. Trata-se de um bosque de 12 mil árvores, muitas das quais plantadas no século 17. Entre elas, a piscina, como é chamado um enorme açude cavado no século 12, que recebe água de dezenas de poços artesianos com 300 metros de profundidade cada. Ainda hoje ele abastece parte da cidade. A estrutura atual é de meados do século 19, um projeto encomendado pelo sultão Adu r-Rahman. A mesquita da Koutoubia é uma visita que vale à pena por sua história e principalmente para quem conhece Sevilha. Ela foi construída em 1147 e demolida logo em seguida, quando se descobriu que não estava alinhada com Meca, a cidade sagrada do Islã, que fica na Arábia ? os muçulmanos oram voltados para Meca. Reconstruída pelo sultão Abdelmoumen, foi concluída apenas em 1199. O templo não pode ser visitado por dentro, mas de fora pode-se contemplar a escultura no alto do minarete de 77 metros. São três esferas empilhadas, de tamanhos diferentes, que consumiram oito quilos de ouro. As esferas significam três dos cinco pilares do islamismo. A obra dourada no alto do minarete da Koutoubia, que pode ser vista de praticamente qualquer lugar da cidade, serviu de modelo para a Giralda construída pelos árabes, durante o período de dominação na Andaluzia, na hoje Catedral de Sevilha. Ainda na medina há vários palácios cuja visitação é aberta ao público, entre os quais o de La Bahia, que tem um tradicional jardim andaluz, fontes e laranjeiras. Uma incursão por qualquer um deles pode mostrar o estilo árabe de vida. Centro religioso - Fes, a mais antiga das cidades imperiais, com seus 500 mil habitantes, não é menos encantadora. A primeira diferença com Marrakech é logo percebida. As ruas da medina são mais limpas, e como não há um palco natural para as apresentações de artistas, como na Praça Djemaa El-Fna, têm-se a impressão de que é um lugar mais tranqüilo. A cidade, fundada no ano 789 pelo imperador Idris II, transformou-se ao longo dos anos em pólo de atração de intelectuais e artistas de todo o tipo, especialmente artesãos. A intensa atividade deles é um destaque do lugar. Fes, que tem a maior medina do país, respira o Alcorão. A cidade é coalhada de madrassas, como são chamadas as escolas religiosas que ensinam o livro sagrado do islamismo. Existem aqui 410 mesquitas, 320 das quais dentro da cidade antiga, um labirinto formado por 15 mil ruas. O trabalho dos artistas pode ser observado nas madrassas. A entrada é permitida apenas no hall de algumas delas, mas a arquitetura de certos prédios é belíssima, e não menos belas são suas portas, esculpidas quase sempre em bronze e madeira. A Madrassa Seffarine, localizada na medina, é a mais antiga, construída em 1271. A Madrassa Bou Inania, de 1355, é uma jóia da arte árabe: é toda recoberta com mosaicos esculpidos em madeira. A Madrassa de Attarin é uma das mais famosas e permite a entrada de visitantes. Construída no século 14, tem uma belíssima porta de bronze. O pátio interno oferece vários exemplos do cuidadoso e delicado trabalho de artesãos marroquinos em mármore, alabastro e cedro. Uma curiosidade nas proximidades da Madrassa de Attarin é o prédio da Quaraouyine, que os marroquinos consideram a primeira universidade do mundo. O prédio abrigou originalmente uma mesquita, mas no ano 859 a filha do sultão Mohamed bem Abdellah, Fatima El Fihria, fundou ali uma universidade. Hoje outra vez uma mesquita, a Quaraouyine continua sendo um centro de aprendizado do islamismo. Não é possível entrar nela, mas algumas das portas estão sempre abertas e assim é possível admirar a beleza do pátio externo. Em toda a cidade antiga de Fes a tradicional arquitetura árabe se destaca. Quase todas as casas são projetadas de forma a não oferecer a quem passa pela rua detalhes da qualidade de vida do morador. Os árabes não ostentam. Preferem ser, que parecer. Muitos vivem ainda como há séculos. Um passeio impressionante, dentro da medina, é até Suuq Dabbaghin, como é chamado o curtume que funciona, ainda hoje, da mesma forma como na Idade Média. O curtimento, basicamente de peles de cabra, é artesanal. O lugar tem o cheiro da morte. Produtos químicos como a cal e corantes são colocados em dezenas de tanques pelos quais as peles vão passando no processo de tratamento. A desenvoltura dos homens descalços e sem camisa que trabalham ali podem chocar o turista, que certamente não conseguiria chegar até o lugar sem segurar, espremendo, folhas de hortelã no nariz. O cheiro é insuportável, apesar de o curtume ser um registro vivo da história.

Faça um esforço para se livrar do medo e do condicionamento de defesa contra a violência urbana. Você não está no Brasil. Um sujeito encostado em uma esquina escura não é necessariamente um assaltante, nem um garoto que corre na sua direção, um trombadinha. O lugar muitas vezes pode parecer o Brasil. Mas você não corre riscos. Não que o Marrocos seja um paraíso. Não é improvável descobrir que você foi vítima de um batedor de carteiras ? surpresa que pode ocorrer mesmo na civilizada Europa -, mas um assalto, definitivamente, é uma questão fora de propósito. Este é um princípio básico para iniciar o passeio pelas medinas de Marrakech e Fes, as mais encantadoras cidades imperiais do país. Medina é o nome que se dá à parte velha das cidades e nela está instalado o "souk", o mercado que funciona daquela forma desde a Idade Média. As medinas são protegidas por muralhas que, séculos atrás, tinham o propósito de conter invasores. A de Marrakech, por exemplo, tem quase um milênio. Portais dão acesso a elas. Muitos deles, chamados de "babs" na língua nativa, são autênticas obras-primas da arquitetura árabe. Quando você passa por um, parece que atravessou uma barreira que separa dimensões. Descortina-se um cenário de cinema: senhoras vestindo "djelabba" e cobrindo o rosto, deixando só os olhos à mostra, se espremem no labirinto de ruas estreitas junto a jovens mulheres que já perderam o hábito de usar este tipo de traje. De repente, um grito vem da multidão: "balak, balak". Um homem puxa um burro carregado com meia dúzia de botijões de gás e alerta, em árabe, para que as pessoas tenham cuidado. O burro e o cavalo são o principal meio de transporte dentro das medinas, em especial na de Fes. Algumas pessoas usam bicicletas e uns poucos motonetas. Uma desatenção ao som das buzinas ou ao "balak" pode significar um pneu ou um pisão no pé. Vida própria - As medinas se ancoram em cinco necessidades básicas do povo que vive ali: a fonte de água - para que as pessoas se lavem antes das orações - a mesquita, o banho turco, a escola e o forno comunitário no qual se faz o pão. Ali não há bebidas alcoólicas nem nos hotéis, que na verdade são pousadas; não há drogas como o haxixe, que é tolerado fora das muralhas; e não há mulheres nas tendas. A medina de Marrakech é a mais interessante das duas. Cercada por uma imponente muralha erguida no século 12 pelo sultão Ali ben Yussef, pode-se chegar a ela por uma das 14 portas. No centro da cidade antiga está a fantástica praça Djemaa El-Fna, cuja tradução literal é Assembléia dos Mortos. Ali, há alguns séculos, criminosos eram executados e a cabeça deles exposta para servir de exemplo, no melhor estilo da Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Hoje é palco de performances dos mais variados tipos. Encantadores de serpentes, mágicos, acrobatas, faquires, engolidores de espada, curandeiros, músicos de rua, dançarinos, ambulantes, contadores de histórias e até vendedores de água ? homens vestidos de vermelho da cabeça aos pés, que comercializam doses de água que carregam em bexigas de cabra e servem em conchas. A praça é um grande circo a céu aberto. Claro que a exibição deve sempre valer uma "bakchich", ou gorjeta, palavra que o turista ouve dezenas de vezes. Você pode tirar fotografias, seja de um encantador de cobras ou de uma senhora só com os olhos expostos. Mas não tenha dúvida que será assediado para pagar também pela foto que tirou. Barracas vendem comida típica, mulheres oferecem seu talento para tatuar mãos, ombros ou tornozelos com hena e não é incomum encontrar um dentista, na verdade um vendedor de dentaduras prontas com seu tabuleiro armado. O cliente chega, prova e leva. O som de gaitas, flautas e principalmente instrumentos de percussão, todos tocados ao mesmo tempo, às vezes, é perturbador. A Praça Djemaa El-Fna é uma babel e fica especialmente agitada à noite. Andar pela medina é uma oportunidade de ter contato com as lendas árabes. É muito comum observar ninhos de cegonhas espalhados pelos telhados das casas. Uma poética história explica a presença de tantas aves deste tipo ali. Conta que um sacerdote, certo dia, viu-se sem água para se lavar antes de orar ? os muçulmanos rezam cinco vezes por dia. Como já passava do horário, o sacerdote decidiu lavar-se com leite. Foi imediatamente transformado em cegonha. Cidade Rosa - Marrakech tem 1 milhão de habitantes e é conhecida como a Cidade Rosa por conta da coloração de seus prédios. A maior parte das casas é pintada nesta cor por duas razões: para evitar o reflexo do sol impiedoso, que no mês de agosto chega a elevar a temperatura a 48 graus, e para disfarçar a poeira que vem do Saara, trazida por um vento típico da região, que impregna os prédios. O deserto está próximo, a 220 quilômetros. A cidade fundada pelo sultão Abu Bekr no século 10 foi capital do Marrocos várias vezes e embora tenha na Praça Djemaa El-Fna sua principal atração, tem outros encantos. É uma cidade de muitos jardins e árvores. Não queira compará-los aos jardins de Paris, mas as árvores, em especial, chamam bastante a atenção. O tipo de palmeira que dá tâmaras, por exemplo, pontilha a paisagem urbana. Estima-se que há na cidade mais de 450 mil delas - algumas das quais mais altas do que a maior parte dos edifícios -, que começam a dar frutos no mês de outubro. A palmeira, como a figueira e a oliveira, são árvores sagradas para os muçulmanos. Os Jardins de Menara mostram a importância da oliveira para o islamismo. Trata-se de um bosque de 12 mil árvores, muitas das quais plantadas no século 17. Entre elas, a piscina, como é chamado um enorme açude cavado no século 12, que recebe água de dezenas de poços artesianos com 300 metros de profundidade cada. Ainda hoje ele abastece parte da cidade. A estrutura atual é de meados do século 19, um projeto encomendado pelo sultão Adu r-Rahman. A mesquita da Koutoubia é uma visita que vale à pena por sua história e principalmente para quem conhece Sevilha. Ela foi construída em 1147 e demolida logo em seguida, quando se descobriu que não estava alinhada com Meca, a cidade sagrada do Islã, que fica na Arábia ? os muçulmanos oram voltados para Meca. Reconstruída pelo sultão Abdelmoumen, foi concluída apenas em 1199. O templo não pode ser visitado por dentro, mas de fora pode-se contemplar a escultura no alto do minarete de 77 metros. São três esferas empilhadas, de tamanhos diferentes, que consumiram oito quilos de ouro. As esferas significam três dos cinco pilares do islamismo. A obra dourada no alto do minarete da Koutoubia, que pode ser vista de praticamente qualquer lugar da cidade, serviu de modelo para a Giralda construída pelos árabes, durante o período de dominação na Andaluzia, na hoje Catedral de Sevilha. Ainda na medina há vários palácios cuja visitação é aberta ao público, entre os quais o de La Bahia, que tem um tradicional jardim andaluz, fontes e laranjeiras. Uma incursão por qualquer um deles pode mostrar o estilo árabe de vida. Centro religioso - Fes, a mais antiga das cidades imperiais, com seus 500 mil habitantes, não é menos encantadora. A primeira diferença com Marrakech é logo percebida. As ruas da medina são mais limpas, e como não há um palco natural para as apresentações de artistas, como na Praça Djemaa El-Fna, têm-se a impressão de que é um lugar mais tranqüilo. A cidade, fundada no ano 789 pelo imperador Idris II, transformou-se ao longo dos anos em pólo de atração de intelectuais e artistas de todo o tipo, especialmente artesãos. A intensa atividade deles é um destaque do lugar. Fes, que tem a maior medina do país, respira o Alcorão. A cidade é coalhada de madrassas, como são chamadas as escolas religiosas que ensinam o livro sagrado do islamismo. Existem aqui 410 mesquitas, 320 das quais dentro da cidade antiga, um labirinto formado por 15 mil ruas. O trabalho dos artistas pode ser observado nas madrassas. A entrada é permitida apenas no hall de algumas delas, mas a arquitetura de certos prédios é belíssima, e não menos belas são suas portas, esculpidas quase sempre em bronze e madeira. A Madrassa Seffarine, localizada na medina, é a mais antiga, construída em 1271. A Madrassa Bou Inania, de 1355, é uma jóia da arte árabe: é toda recoberta com mosaicos esculpidos em madeira. A Madrassa de Attarin é uma das mais famosas e permite a entrada de visitantes. Construída no século 14, tem uma belíssima porta de bronze. O pátio interno oferece vários exemplos do cuidadoso e delicado trabalho de artesãos marroquinos em mármore, alabastro e cedro. Uma curiosidade nas proximidades da Madrassa de Attarin é o prédio da Quaraouyine, que os marroquinos consideram a primeira universidade do mundo. O prédio abrigou originalmente uma mesquita, mas no ano 859 a filha do sultão Mohamed bem Abdellah, Fatima El Fihria, fundou ali uma universidade. Hoje outra vez uma mesquita, a Quaraouyine continua sendo um centro de aprendizado do islamismo. Não é possível entrar nela, mas algumas das portas estão sempre abertas e assim é possível admirar a beleza do pátio externo. Em toda a cidade antiga de Fes a tradicional arquitetura árabe se destaca. Quase todas as casas são projetadas de forma a não oferecer a quem passa pela rua detalhes da qualidade de vida do morador. Os árabes não ostentam. Preferem ser, que parecer. Muitos vivem ainda como há séculos. Um passeio impressionante, dentro da medina, é até Suuq Dabbaghin, como é chamado o curtume que funciona, ainda hoje, da mesma forma como na Idade Média. O curtimento, basicamente de peles de cabra, é artesanal. O lugar tem o cheiro da morte. Produtos químicos como a cal e corantes são colocados em dezenas de tanques pelos quais as peles vão passando no processo de tratamento. A desenvoltura dos homens descalços e sem camisa que trabalham ali podem chocar o turista, que certamente não conseguiria chegar até o lugar sem segurar, espremendo, folhas de hortelã no nariz. O cheiro é insuportável, apesar de o curtume ser um registro vivo da história.

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