Ilhas, trilhas, cachoeiras e mar. Tudo praticamente deserto, repleto de mata virgem, fontes de água límpida e muitos caminhos a serem explorados. Assim é Picinguaba, um dos núcleos regionais do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado em Ubatuba, cidade do litoral norte de São Paulo. A praia de mesmo nome, uma das 24 de Ubatuba, fica de frente para algumas ilhas da região, que podem ser conhecidas a bordo de um dos barcos dos pescadores locais. O núcleo, um dos cinco que compõem o parque estadual, é um paraíso com 48 mil hectares, dos 300 mil da área protegida. É a única porção do parque que atinge o mar - vai da Praia da Almada até a Praia de Camburi, passando pelas das Conchas, da Fazenda, da Vila, das Couves e Brava do Camburi. O nome Picinguaba vem do tupi-guarani e significa refúgio de peixes. A vila de mesmo nome, habitada por pescadores, surgiu na metade do século 19 e é desde 1983 tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Até a década de 30, foi um importante ponto de pesca de tainha. Como área de preservação permanente, a pequena praia de areia "mole" e "água-espelho", sem ondas, mantém toda a rusticidade que se espera desses locais - das casas dos pescadores aos barcos e redes de pesca. Para o visitante, a vila reserva trilhas, passeios de barco às ilhas e bares para o agito noturno. Há ainda uma pousada no local, mas as casas de pescadores também fazem as vezes de hospedaria. Trilhas - Para conhecer o núcleo, a dica é aventurar-se (sempre com o acompanhamento de um guia) por uma de suas trilhas, como a do Corisco, do Cuscuzeiro e da Brava da Almada. Monitores no Núcleo Picinguaba oferecem, de sexta a domingo, passeios para grupos. A Trilha do Cuscuzeiro tem uma subida muito forte. Mesmo os guias não costumam fazê-la, sob o risco de perder o fôlego no meio do caminho. Portanto, caso o turista opte por segui-la, deve agendar um guia com certa antecedência. A Praia da Fazenda, cenário da minissérie global "A Muralha", abriga em seus seis quilômetros a sede administrativa do núcleo e uma antiga fábrica de farinha dos caiçaras. Tem como encantos naturais, cravados na areia dura em que batem as (muitas) ondas do mar, o Canto das Bicas (com uma pequena bica de água doce), a foz dos rios da Fazenda e Picinguaba, e o Canto da Paciência. A praia é ponto de partida para a Trilha da Brava da Almada, que dura cerca de 3h30 e, passando pela mata, leva à Praia das Cochas (Saco das Taquaras). O ponto final é a Praia Brava da Almada. Já a Trilha do Corisco é para escolados. É preciso espírito de aventura e muito preparo físico para enfrentar o caminho que, antigamente, levava os moradores locais a Parati, já no Rio de Janeiro. São cerca de 30 km, que podem ser percorridos em 9 horas. No percurso de aproximadamente oito horas, além de uma figueira centenária, cachoeira e o marco que divide os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, está a Fazenda da Caixa, conhecida como Casa da Farinha. Fica num dos chamados sertões de Ubatuba (locais de ocupação rural, próximas à serra) e foi construída por imigrantes italianos no final do século 19, com maquinário inglês. Ganhou o apelido depois que foi abandonada e sua roda d´água foi aproveitada para movimentar uma farinheira. As instalações também já foram ponto de produção de álcool, fubá, aguardente e açúcar. Ilhas - Uma rápida viagem mar adentro leva às ilha que ficam à frente do núcleo. Na Praia de Picinguaba, é possível alugar um barco dos pescadores locais. A Ilha das Couves fica a pouco mais de 2,5 km da costa. Faz parte do Arquipélago das Couves, que inclui ainda o Ilhote, Ilha Comprida, Ilha da Pesca, Ilha Rapada e Ilha Selinha, além de parcéis. É coberta pela Mata Atlântica e predomina a vegetação de restinga. Seu litoral é muito utilizado para mergulho, principalmente para iniciantes, pois tem pouca profundidade (de 6 a 13 metros) e possui locais "abrigados", mais seguros. O fundo rochoso é moradia para budiões, garoupas, arraias, frades e moréias. A Ilha Comprida, mais ao norte, assim como a das Couves, possui bons lugares para se ancorar. Como o nome faz supor, possui forma alongada. No lado oeste (de frente para a Enseada de Picinguaba), há algumas poucas famílias que vivem da pesca artesanal. Noite - Para o final do dia, a dica é recarregar as baterias (e o repelente) num dos bares da Praia de Picinguaba. O pioneiro é o Picimbar, que tem a melhor infra-estrutura e quase não dá conta dos turistas em feriados e alta temporada. O bar, que existe há 18 anos, foi aberto "quando só existiam aquelas bibocas que fechavam para o almoço", brinca o dono, Peter Rudolf Dinngral. Ele e a esposa, Mariângela, chegaram em Picinguaba há quase duas décadas para passar alguns dias e acabaram ficando. Hoje, mantêm a rotina de abrir o bar às 9 horas e fechá-lo somente após as 22 horas, todos os dias. Entre as especialidades do bar, estão a casquinha de siri na massa folhada, lula ao vinho, camarão e marisco ao alho. Oriente-se - O Núcleo de Picinguaba tem centro de visitantes e hospedaria para 40 pessoas. A diária custa a partir de R$ 10,50, para grupos escolares. A entrada fica no km 10 da BR-101 (Rio-Santos), em Ubatuba. Tel.: (0xx12) 9714-9062. Para agendar trilhas, pode-se também ligar para a Associação de Monitores de Ecoturismo de Ubatuba. Tel.: (12) 433-2333 / 9714-6623. A Serra do Mar Turismo Ecológico organiza visitas ao parque. Tel.: (12) 432-2949. Na própria Praia de Picinguaba, há a Pousada Porto do Engenho. Fica a aproximadamente 150 metros da areia e tem diárias a partir de R$ 70,00 a R$ 120,00. Tel.: (11) 6976-0972. O Picimbar fica na Praia de Picinguaba. Tel.: (12) 9714-9002 (a partir de 18 de maio, o número muda para 3832-9002).