Dentre os muitos termos do turismo que se popularizaram ao longo deste um ano de pandemia - turismo de isolamento, extended stays, buyout, staycation, workcation, revenge travel - , finalmente um dos termos mais importantes ligados à sustentabilidade no turismo começa muito timidamente a ganhar força por aqui: turismo regenerativo. Mas o que é turismo regenerativo, afinal?
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Já falei brevemente sobre isso em uma das primeiras colunas deste ano, justamente sobre como podemos tornar nossas viagens mais sustentáveis (de verdade) de 2021 em diante.O conceito de turismo regenerativo não é exatamente novo. O regenerative travel (ou regenerative tourism) na gringa teve sua raiz nas discussões e projetos em desenvolvimento regenerativo, economia circular, edifícios sustentáveis etc.
Mas, também lá fora, nos últimos dois anos ele ganhou corpo nas discussões turísticas, abocanhou o turismo de conservação, se popularizou durante pandemia (ganhando as páginas inclusive de grandes veículos como New York Times) e é hoje uma das principais bandeiras de quem luta por uma indústria turística realmente sustentável (ou, ao menos, o mais sustentável possível). Então está mais do que na hora de começarmos a discuti-lo seriamente aqui no Brasil também.
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O que é turismo regenerativo?
Vivemos hoje, provavelmente, o período mais duro da pandemia no Brasil (e olha que não foi por falta de aviso da ciência, não é mesmo?). Não é momento de viajar, mas é sempre momento de repensarmos nosso modo de viajar e nossos planos e sonhos para viagens futuras.
O turismo regenerativo prevê todas as boas práticas de sustentabilidade no turismo, com amplo envolvimento social, econômico e cultural, visando impactos positivos diversos. De maneira bem simples e resumida, é sermos capazes de, através de nossa própria atividade turística, promover melhorias em uma área, local ou destino. E isso se refere a todos os players do turismo, do viajante ao empreendedor.
O conceito de turismo regenerativo não é substituto de turismo sustentável e sim parte do próprio conceito de sustentabilidade e responsabilidade no turismo. Nesse sentido, concordo demais com alguns ambientalistas que condenam o aposto "além do sustentável" para falar de turismo regenerativo. É senso comum associar a expressão "turismo sustentável" a medidas de eficiência, como economia energética, reciclagem, reuso de água etc. Mas vale lembrar que todos esses efeitos e ações - ambientais, sociais, econômicos - estão enormemente interligados e não são de nenhuma forma excludentes. É tudo parte do mesmo "guarda-chuva".
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Bons exemplos de turismo regenerativo
Muitos hotéis têm praticado o turismo regenerativo há anos, se não décadas, mesmo que não usássemos esse termo ainda. Já trouxe aqui para a coluna diferentes exemplos de hotéis e empreendimentos que realmente levam isso a sério, que utilizam a atividade turística para promover melhorias ambientais, sociais e econômicas em destinos e comunidades locais.
Caso, por exemplo, do irretocável The Brando, na Polinésia Francesa, que continuamente inspira tecnologias e processos regenerativos em diversas outras propriedades hoteleiras mundo afora. Ou dos hotéis explora, presentes em diferentes destinos do Chile (e que agora chegou também a El Chaltén, na Argentina).
Há grandes exemplos na África nesse sentido, como os sempre excelentes Great Plains Conservation e Porini Camps. Duas empresas com lodges em diferentes destinos africanos que, através de suas propriedades, projetos e ações sociais, promoveram melhorias realmente louváveis nos destinos em que atuam - de recuperação ambiental e de vida selvagem à infraestrutura e economia das comunidades que empregam e auxiliam. Têm feito um trabalho primoroso inclusive durante toda a crise gerada pela pandemia.
CONHEÇA MAIS sobre a Great Plains Conservations aqui.
CONHEÇA MAIS sobre a Porini Camps aqui.
Tem até marca nova na hotelaria internacional focada em turismo regenerativo. No final do ano passado, a Preferred Hotels & Resorts lançou a marca Beyond Green, que promete manter em seu portfólio apenas hotéis, resorts e lodges que contribuam ativamente para o bem-estar social e econômico de comunidades locais, que colaborem com a preservação do patrimônio natural e cultural, e que respeitem os ODSs (Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável) das Nações Unidas.
VEJA TAMBÉM outros exemplos de sustentabilidade no turismo.
Das práticas de turismo regenerativo no Brasil, gosto muito do exemplo do Anavilhanas Lodge, sobre o qual também já falei aqui. Um lodge exemplar, que também é craque, desde sua construção, em usar sua própria atividade turística para promover melhorias ambientais, sociais e econômicas na região amazônica e em suas comunidades locais. Em um trabalho significativo e constante, inclusive nos duros tempos da pandemia, com respostas rápidas e certeiras.
Outro proposta interessante de turismo regenerativo no Brasil é a Comuna do Ibitipoca, um incrível projeto experimental, sócio-ambiental e turístico em Minas Gerais que hoje abrange mais de 5,000 hectares de uma área quejá foi anteriormente degradada (com 99% em processo de recuperação da flora e fauna nativas da Mata Atlântica).
VEJA TAMBÉM: Os desafios da hotelaria amazônica durante a pandemia
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É hora de praticar o turismo regenerativo
O turismo regenerativo não trata simplesmente de medidas gerais de preservação e conservação ambiental e cultural, mas também de promover inclusão social e econômica, educação, saúde.Promover responsabilidade de fato em toda a cadeia turística. Como turistas, não podemos jamais colocar destinos ou comunidades em risco. Empreendedores do turismo também não.
Nesta semana, muitos de vocês estão provavelmente acompanhando vários moradores e negócios turísticos de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, contrariarem o recuo da prefeitura local e decretarem lockdown voluntário de todas as suas atividades como forma de protegerem sua própria comunidade dos avanços da Covid-19 na região (potencializados pelo fluxo grande e constante de turistas nos últimos meses). Você pode ler mais detalhes sobre esse caso inspirador em minha matéria para o UOL desta semana.
LEIA MAIS sobre o lockdown voluntário para o turismo na Chapada dos Veadeiros.
A pandemia e o gap criado por ela em nossas viagens nos deu a chance de refletir sobre como e por que viajamos. E nos dá a chance de mudar, de viajarmos de maneira definitivamente melhor - e mais responsável - daqui pra frente. A própria indústria do turismo internacional vem discutindo com seriedade a possibilidade de promover novas e inéditas alianças para promover uma retomada das viagens pós-pandemia mais inteligente, consciente, responsável e sustentável.Agentes e consultores de viagem, como abordei na última coluna, podem ser incríveis curadores nesse sentido.
LEIA TAMBÉM: A curadoria fundamental dos agentes de viagem na pandemia.
Diversos destinos internacionais estão não apenas incluindo o conceito de turismo regenerativo em seus planos de recuperação econômica local e nacional como também cogitando rever a própria estrutura da sua indústria turística em geral.
O turismo regenerativo nos permite escolher e priorizar nas nossas viagens daqui pra frente os destinos, hotéis e prestadores de serviços turísticos que realmente se dediquem a gerar impactos sociais, econômicos e ambientais positivos. É preciso que nós, viajantes, assumamos a RESPONSABILIDADE de cada uma das nossas escolhas e decisões de viagem no pós-pandemia. Eu estou disposta; e você?
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