Ainda que eu esteja numa zona rural bastante remota de Uganda, cruzo diariamente com gente vestindo roupas de marcas europeias e norte-americanas. Camisetas de times de futebol e basquete, moletons com slogans de universidades e vestidinhos de personagens como Hello Kitty e Ben-10 são uma constante.
No fim de semana, visitando o mercado mais próximo daqui -- a exatos 7km do Amasiko, no vilarejo de Muko --, pude constatar que o comércio de roupas usadas é um dos grandes motores da economia local. Praticamente a metade do mercado é composta de barracas em que itens de verão e de inverno, infantis e para adultos, misturam-se pelo chão.
Daí surge a pergunta: qual a origem dessas roupas? A resposta, bastante triste, é a seguinte: muitos desses itens foram entregues por europeus e norte-americanos a instituições de caridade que prometem doá-los a países africanos. Porém, ao aqui chegarem em grandes contêineres, as mercadorias são vendidas a comerciantes a preços de banana. E, em seguida, revendidas nos open markets. (Apenas como exemplo, uma camiseta adulto pode ser comprada por 2.000 até 20.000 shillings -- algo entre R$ 2 e R$ 20)
Sim, quem paga o pato é o povo, que acaba comprando as roupas que poderiam ter recebido como doações.
Mas nem todas as vestimentas em exposição nos mercados têm essa procedência. Algumas delas são novas, importadas da China a preços bastante convidativos. Vi essa mesma realidade em Gana, e ela se repete África afora.
Aqui em Uganda, algumas estatísticas assuntam. Estima-se, por exemplo, que 80% das roupas de todo o país se enquadrem nestas duas categorias. Um dado também bastante triste, já que isso desestimula a indústria local, que não consegue praticar preços competitivos. E estamos falando de um país que tem a produção de algodão como um de seus principais pilares econômicos.