São 4,4 quilômetros quadrados de ruas, praças e jardins, menos de 0,5% da superfície de São Paulo, de 986 quilômetros quadrados. Mas essa área, o centro da cidade, que compreende os distritos Sé e República, é destino final de 22% de todas as viagens feitas entre os 39 municípios da região metropolitana - um movimento de 2 milhões de pessoas por dia, usando todos os meios de locomoção, dos pedestres aos passageiros de helicópteros. "Apesar disso, mais da metade da população não conhece o centro", informa o diretor-executivo do Viva o Centro, Marco Antônio Ramos de Almeida. Residente na Avenida Paulista, ele toma o metrô todas as manhãs para ir trabalhar na Rua Líbero Badaró, a dois quarteirões da Estação São Bento. Adora a arquitetura, a confusão e a gente desse pedaço da cidade, mas não faz propaganda dessa paixão. "Não fizemos campanha do tipo ?venha ao centro?, porque o centro assusta as pessoas", justifica. Questão de marketing, acredita o executivo do BankBoston. O centro é menos inseguro que os bairros mais sofisticados. Tem trombadinhas, batedores de carteira, delitos de multidão, mas poucos seqüestros e assaltos à mão armada. "O problema é que, além de ser seguro, tem de parecer seguro", observa Marco Antônio. A multidão de camelôs que atravancam as ruas irritam os comerciantes. Conseqüência da crise, todos reconhecem, mas concorrência desleal, porque não pagam impostos. Além disso, sujam as calçadas e aumentam a poluição visual. "A Polícia Militar proíbe cartazes, mas não retira os ambulantes", reclamam. Basta ver o tumulto da Rua Direita ou da Rua Dom José de Barros, de um lado e do outro do Vale do Anhangabaú. A Associação Viva o Centro tenta integrar os usuários do centro, especialmente os lojistas, num trabalho de zeladoria e de fiscalização da ação da Prefeitura. "Em seis anos, instalamos 43 ações locais, estimulando comerciantes e moradores a se unirem em organizações não-governamentais (ONGs) para cuidar do centro, que foi dividido em 50 microrregiões", informa Marco Antônio. Segurança, limpeza de calçadas, iluminação, desentupimento de bueiros, orientação sobre retirada de placas, tudo isso está em pauta. "Tentamos convencer os comerciantes a acabar com a poluição visual, mas não temos poder de polícia", diz o diretor da Associação Viva o Centro. Esse trabalho ficará mais fácil, acredita Marco Antônio, quando a sede da Prefeitura se mudar para o prédio do Banespa, antiga residência da família Matarazzo, no Viaduto do Chá. "Belezas e problemas ficarão aos olhos da prefeita Marta Suplicy", diz o executivo, apostando na força de uma fiscalização direta. "Já houve uma redução enorme de anúncios", revela o engenheiro Walter Bellintani, supervisor de Uso e Ocupação do Solo da Subprefeitura da Sé. As obras de revitalização se estendem da Praça do Patriarca à Praça Roosevelt, passando naturalmente pelo quadrilátero da antiga Cidade Nova, entre o Teatro Municipal e a Praça da República. A fiscalização começa com uma visita de técnicos, que apontam irregularidades e dão prazo de 30 dias para a retirada de cartazes, placas e fachadas falsas. Só depois vem a multa - inicial de 500 Ufirs (R$ 532, em novembro), ou o dobro, um mês depois, em caso de desobediência. Se não der certo, o pessoal da Prefeitura arranca o material e cobra o custo do serviço.
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