A história terrível de Maria do Carmo

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Por Agencia Estado
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O cirurgião plástico Farah Jorge Farah, de 53 anos, era um homem educado, religioso, discreto, que vivia aconselhando os vizinhos, amigos e pacientes a freqüentar, como ele, a Igreja Adventista do 7º Dia, para fugir da violência. Mas, no fim da tarde deste domingo, no quarto de uma clínica psiquiátrica, Farah mostrou o outro lado de sua vida. Um lado assustador, assassino, que deixou impressionados policiais experientes. Ele contou para a sobrinha Tânia Maria Homsi, de 35 anos, que dopara, matara e esquartejara Maria do Carmo Alves, de 46, uma dona de casa que fora sua paciente e com quem mantinha um tumultuado romance. Falando com dificuldade por ter tomado dose excessiva do calmante Tofrenil, Farah entregou as chaves de seu Daewoo 94 para a sobrinha. "O carro está no meu prédio. Olhe no porta-malas a loucura que eu fiz", disse. Tânia foi ao edifício da Rua Salete, 320, em Santana, onde o tio ocupava a cobertura. O carro estava na garagem do 1º subsolo. Como o cheiro de formol e água sanitária no porta-malas era forte, ela decidiu procurar o 13º Distrito Policial. Lá, contou a história e levou uma equipe de investigadores ao prédio. Em cinco sacos pretos, os policiais viram o corpo esquartejado de Maria do Carmo. Os peritos abriram os sacos e se impressionaram. Faltavam as mãos e as vísceras. "Além de esquartejar, Farah tirou a pele do tórax, dos seios e do lado esquerdo do rosto", disse o delegado Ítalo Miranda Júnior, do 13º DP, que autuou o médico por homicídio, ocultação de cadáver e vilipêndio. Maria do Carmo foi vista entrando no consultório de Farah, na Rua Alfredo Pujol, em Santana, no fim da tarde da sexta-feira. A polícia e os peritos acreditam que o crime tenha sido cometido na madrugada de sábado. "Ele teve todo o tempo possível para matar, limpar o consultório, separar o corpo e achar que estava cometendo o crime perfeito", informou o delegado. O policial e os peritos estiveram no consultório e no apartamento de Farah. Revistaram tudo e não encontraram as mãos, as vísceras e as peles tiradas do corpo de Maria do Carmo. "Achamos no consultório muitos galões de água sanitária, vidros de formol, calmantes fortes. No apartamento, encontramos a carteira de identidade de Maria do Carmo e um anel que o marido dela não reconheceu", explicou. Pernambucana de Cupira, Maria do Carmo era casada com João Augusto de Lima, porteiro da Transportadora Minas-Goiás. Ela conheceu o médico há seis anos, ao ser encaminhada pelo convênio para atendimento com Farah, por causa de problema que tinha na virilha. Depois de várias consultas, Maria do Carmo foi submetida a uma cirurgia e Farah resolveu o problema. "Ela ficou agradecida ao doutor e vivia falando nele", disse o marido. Só que Maria passou a freqüentar o consultório em Santana, bairro onde ambos moravam. Os dois se encontravam em uma igreja em Moema, também freqüentada por Lima. Após alguns meses, Lima disse que a mulher perguntou ao médico se poderia fazer uma lipoaspiração. Ele queria saber se o marido tinha dinheiro para pagar porque o convênio não cobria. "Eu falei para ela que a gente era pobre e não tinha dinheiro para a tal operação. Ela dizia que o doutor era amigo e resolveria tudo." A insistência em ser submetida a uma cirurgia plástica e os telefonemas de Farah para Maria do Carmo provocaram a separação do casal. Depois de vários meses, porém, Lima e Maria do Carmo se reconciliaram. A insistência de Maria do Carmo em telefonar constantemente para o consultório e para a casa do médico acabou irritando Farah. Ele apresentou três queixas contra ela em dois distritos policiais. A última foi feita em 18 de agosto, por "perturbação no trabalho". Farah afirmou em seu depoimento que vivia sendo importunado por ela, no consultório, no celular. Confirmou que haviam sido namorados e freqüentado a mesma igreja. Disse ainda que Maria do Carmo não se conformava com a separação deles. Na sexta-feira, Lima saiu de casa, na Rua Pedro Arbues, em Santana, para trabalhar, pouco antes das 5h30. Maria do Carmo estava dormindo. Às 10 horas, ela telefonou para a transportadora e disse ao marido que iria primeiro no banco pagar uma conta e, à tarde, passaria no consultório do médico. Lima chegou em casa à noite e não encontrou a mulher. "Esperei até de madrugada e nada de ela chegar. Liguei para a Polícia Militar perguntando se tinha algum acidente e fui para a delegacia apresentar queixa de desaparecimento", afirmou. Sabendo das intenções da mulher com o médico, Lima foi ao consultório de Farah na Alfredo Pujol, por volta das 11 horas. Bateu com insistência na porta e, depois de uma hora, foi atendido por Farah. "Perguntei se tinha visto minha mulher e se sabia onde ela estava. Ele me olhou meio esquisito e disse que não." Lima sentiu forte cheiro de água sanitária. "Estava impregnado, era muito forte." Farah, ainda segundo o marido de Maria do Carmo, fechou a porta do consultório e, descendo as escadas com ele, amparado por uma bengala, perguntou o que poderia fazer para ajudá-lo. "Eu disse que estava desesperado, precisava de ajuda e ele me deu um papel com o número do seu celular. Falou para eu ligar se precisasse." O porteiro viu quando Farah saiu de carro. "Eu nem imaginava que minha mulher estivesse morta no porta-malas daquele carro." Farah saiu do consultório e foi para sua casa. O momento em que entrou na garagem está registrado na fita do circuito interno de tevê do edifício. Esse material já em poder da polícia. No fim da tarde de sábado, o médico foi visto saindo de casa pelo porteiro. Pegou um táxi e se dirigiu à clínica psiquiátrica Granja Julieta, na zona sul da cidade. Antes, foi atendido pelo médico Antonio Hélio Vieira Filho, que autorizou sua internação e prescreveu o calmante Tofrenil. Na madrugada desta segunda, o delegado Miranda tentou efetuar a prisão de Farah na clínica. A direção do estabelecimento, no entanto, entregou a ele um atestado informando que Farah estava em processo de tratamento, sem condições de ter alta "devido ao risco agudo de suicídio". O policial destacou dois investigadores para vigiar Farah e exigiu que ele ficasse o tempo todo algemado. No começo da tarde, Miranda solicitou aos juízes do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo) a transferência de Farah para o Hospital Penitenciário. Mandou cópia do inquérito instaurado com os depoimentos do marido de Maria do Carmo, da sobrinha do médico, dos investigadores, peritos e delegados que presenciaram o encontro do corpo e realizaram os exames. A juíza Ivana David Boriero ficou de responder em 24 horas se autoriza a transferência. Maria do Carmo não tinha filhos. Farah também não tem. Ele sofria de fortes dores nas costas e dizia aos amigos que eram provocadas por um câncer em tratamento.

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