O empresário Abílio Diniz, um dos maiores líderes empresariais do Brasil, morreu neste domingo, 18, aos 87 anos. Figura frequente no noticiário econômico, ele também esteve nas páginas de polícia dos jornais quando foi alvo de um sequestro de repercussão internacional.
- Em 11 de dezembro de 1989, ele foi capturado perto da sua casa, no Jardim Europa, em São Paulo, por um grupo de integrantes do Movimento de Esquerda Revolucionária-Político (MIR-Político) e das Forças Populares de Libertação (FPL).
Os dois grupos eram originários de El Salvador, país da América Central, mas os integrantes vinham de diferentes países. Ao todo, dez pessoas estavam envolvidas no sequestro: um brasileiro, o cearense Raimundo Rosélio Costa Freire, dois canadenses, dois argentinos e cinco chilenos.
Sete dias em cativeiro
- Diniz ficou sete dias em cativeiro, sob o pedido de resgate de US$ 30 milhões. Ele foi encontrado pela polícia em um sobrado no Jabaquara, na zona sul da capital, e libertado após 35 horas de negociação e trocas de tiros entre a polícia e os sequestradores. Cerca de 200 policiais estiveram envolvidos na operação.
“Os dias em cativeiro foram os piores da minha vida”, disse Diniz, à época. O Estadão reportou todo o caso. A polícia conseguiu descobrir o paradeiro dele e desvendar o caso após prender um primeiro envolvido, chileno, que havia deixado seu número de telefone em uma oficina mecânica contratada para realizar reparos no carro utilizado no sequestro. Preso, ele cedeu informações às autoridades.
Os sequestradores afirmaram, à época, que a ação tinha fins políticos e que queriam dinheiro para financiar a guerrilha em El Salvador. Todos foram condenados a cumprir penas que variavam de 26 a 28 anos de prisão, que depois foram reduzidas pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.
Após a redução das penas pelo TJ-SP e a assinatura de tratados de transferência de presos, o grupo de estrangeiros foi enviado aos países de origem em 1998 e 1999, após fazerem uma greve de fome, e lá seguiram cumprindo o restante de suas penas. Em 2012, todos os chilenos envolvidos já estavam livres.
O brasileiro Raimundo Rosélio Costa Freire ficou dez anos preso pelo crime, mas voltou à prisão em 2012 por tráfico de drogas. Ele foi condenado a 28 anos pelo sequestro do empresário, mas teve a pena reduzida para 17 anos e, em abril de 1999, passou para liberdade condicional, morando em Fortaleza.
Após 13 anos longe do presídio, o brasileiro foi preso em flagrante quase dez quilos de cocaína e 13 gramas de maconha em um sítio na Praia de Barro Preto, no litoral leste do Ceará.
O fato de as guerrilhas envolvidas no sequestro serem de esquerda motivou a associação do grupo criminoso ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na época, materiais da campanha de Lula à Presidência da República chegaram a ser apresentados à imprensa como de posse dos sequestradores, mas o envolvimento do PT com o crime nunca foi comprovado.
Em 1989, Lula havia perdido a eleição para Fernando Collor. Ele se tornou presidente pela primeira vez apenas em 2003.
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