O adolescente de 14 anos que matou uma aluna cadeirante a tiros e golpes de faca na manhã de segunda-feira em uma escola de Barreiras pegou a arma do pai, um policial militar de Brasília que havia se mudado neste ano para a cidade do oeste baiano. O revólver, calibre 38, estava carregado com seis balas e, segundo o PM, teria sido encontrado pelo jovem debaixo do colchão, onde costumava guardá-lo. De acordo com a Polícia Civil, ele entrou pelo portão principal como os demais alunos, embora estivesse sem farda – o jovem trajava roupas pretas e capuz.
A suspeita é de que o adolescente, horas antes de cometer o crime, teria passado em frente à unidade de ensino. Ele havia avisado sobre o ataque quatro horas antes por meio de uma publicação feita em seu perfil no Twitter, que foi banido da plataforma com a repercussão do caso. Quando chegou à entrada principal do Colégio Municipal Eurides Sant’Anna, por volta das 7h20, o atirador já empunhava a arma. Um guarda da unidade de ensino percebeu a entrada dele e correu para buscar ajuda, já que um disparo foi feito em sua direção.
No momento do ataque, pelo menos 40 dos cerca de 400 alunos que estudam no período matutino estavam na quadra de esportes em guarda, já que o colégio tem gestão compartilhada com a Polícia Militar. A arma do atirador falhou duas vezes, possibilitando que os adolescentes corressem e buscassem abrigo nos fundos da quadra ou na rua. A cadeirante Geane da Silva Brito, de 19 anos, estava no pátio e foi baleada e atingida com golpes de faca.
Segundo o delegado Rivaldo Almeida Luz, que ouviu o pai do menor ontem, o policial militar afirmou que escondia a arma e que o jovem não tinha acesso a ela. O adolescente foi descrito pelos familiares como um garoto tranquilo, porém bastante introspectivo. Sem amigos, ele lamentava o fato de ter se mudado para Bahia e deixou isso claro ao postar em suas redes sociais discursos de ódio contra a cidade de Barreiras e a Região Nordeste do Brasil.
“O pai disse que guardava a arma debaixo do colchão de uma cama e que o garoto não tinha acesso, mas não acredito nessa versão. Ele é um garoto bastante introspectivo que, nos últimos meses, passou a ficar muito tempo nas redes sociais. Os pais não sabiam os tipos de conteúdos que ele consumia na internet”, disse Luz.
O colégio não tem câmeras de segurança, mas os investigadores buscam imagens de residências vizinhas. As aulas foram suspensas até o dia 3 de outubro. O atirador havia sido matriculado na unidade de ensino no período vespertino em maio deste ano, mas acumulava faltas.
O adolescente também foi baleado durante o crime. O tenente coronel Fábio Santana, da Polícia Militar, afirma que os policiais que trabalham na escola estavam desarmados e que os tiros que acertaram o menor possivelmente partiu de uma pessoa que passava nas imediações no momento do ataque. Ela ainda não foi identificada. O jovem foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado para o Hospital Geral do Oeste. Ele passou por uma cirurgia e o quadro de saúde é considerado estável.
Abaixo, relembre outros ataques em escolas brasileiras:
Saudades (SC), 2021
O ataque em Saudades, no oeste de Santa Catarina, deixou cinco pessoas mortas na manhã de 4 de maio de 2021, quando um rapaz de 18 anos invadiu um creche do município com um facão de 68 centímetros. Ele matou duas funcionárias da unidade e três bebês menores de 2 anos.
Cortejo fúnebre partiu do Módulo Esportivo (local do velório) e rumo ao cemitério municipal de Saudades, onde as vítimas foram sepultadas.
Salvador (BA), 2002:
Um estudante de 17 anos matou uma colega e feriu outra a tiros no Colégio Sigma, no Bairro de Piatã. O rapaz teria pegado um revólver calibre 38 do pai e escondido a arma na mochila. Os disparos foram feitos depois que a professora pediu para ele fazer um exercício.
Taiúva (SP), 2003
Em 27 de janeiro, um estudante de 18 anos disparou 15 tiros contra cerca de 50 estudantes no pátio da Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, em Taiúva, interior do Estado. Ele usou a última bala do revólver calibre 38 para atirar na própria cabeça e morreu. O episódio não deixou vítimas fatais além do rapaz.
Realengo (RJ), 2011
Considerado à época como o maior massacre em escolas brasileiras até então, a tragédia em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, deixou 12 crianças mortas. O crime foi cometido por um ex-aluno de 23 anos que levou dois revólveres à Escola Municipal Tasso da Silveira e disparou contra os alunos, todos de 13 a 15 anos. Depois de invadir duas salas de aula, ele foi atingido na barriga pela polícia e disparou um tiro na própria cabeça.
São Caetano do Sul (SP), 2011
Um estudante de apenas dez anos atirou na professora e se matou em seguida na Escola Municipal Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC paulista. Ele usou uma arma do pai, um guarda civil municipal. De acordo com colegas e funcionários da escola ouvidos na época, o menino era muito estudioso, inteligente e calmo.
João Pessoa (PB), 2012
Dois jovens chegaram à Escola Estadual Enéas Carvalho, em Santa Rita (Região Metropolitana de João Pessoa), em uma moto e invadiram o pátio. Eles usavam uniforme da escola. Um deles atirou contra um adolescente de 15 anos. O atirador disparou outras cinco vezes, atingindo duas garotas. Uma delas, de 17 anos, foi baleada no braço direito. A outra, levou um tiro no pé esquerdo. De acordo com a polícia, o motivo do crime teria sido ciúme.
Suzano (SP), 2019
Um ataque na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, deixou dez mortos, incluindo os dois atiradores, e 11 feridos. Os autores do massacre, Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e G.T.M., de 17, eram ex-alunos da instituição. Um dos atiradores acabou matando o comparsa e depois cometeu suicídio.
Em um caso de violência extrema em março, dois ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, mataram cinco estudantes e duas funcionárias da unidade
Goiânia (GO), 2017
Um adolescente de 14 anos matou a tiros dois colegas e feriu outros quatro em uma sala de aula do Colégio Goyases, em Goiânia, em 20 de outubro de 2017. Filho de policiais militares, ele usou a arma da mãe, que havia levado à escola particular escondida na mochila. Segundo a Polícia Civil, o rapaz sofria bullying e o crime foi premeditado.
Medianeira (PR), 2018
Um estudante de 15 anos do ensino médio pegou uma arma e atirou nos colegas em uma escola estadual da pacata cidade de Medianeira, a 60 quilômetros de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná. Tinha uma lista para livrar os amigos - no fim, dois acabaram baleados. O atentado aconteceu no Colégio Estadual João Manoel Mondrone. Segundo a polícia, o autor do ataque seria alvo de bullying na escola.
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