Ah, como era gostoso o clássico

Um corintiano e um palmeirense relembram jogos entre seus times no Pacaembu. Eram sempre dias de festa

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Foto do author Almir Leite

Ah, como era gostoso ir ao Pacaembu assistir aos clássicos entre Corinthians e Palmeiras nos anos 60 e 70! Para começar, era garantido que o jogo seria bom. Além disso, prevalecia o clima de harmonia. Torcer era prazeroso, divertido. Lavava a alma, mesmo quando se tinha a chateação de ver o time perder.O corintiano Wilson Baldini (aparece primeiro apenas porque seu time é o mandante hoje) e o palmeirense José Roberto Pasquinelli recordam bem daqueles tempos em que, via de regra, o cavalheirismo era mais importante que a paixão clubística. Tanto que as torcidas das duas equipes assistiam à partida misturadas, lado a lado."A gente podia assistir ao jogo sossegado. Cada um torcia para o seu time. E depois, amigo, o que via em campo era futebol", diz Wilson, hoje com 77 anos. "Hoje é só pancadaria e briga." Roberto, como é conhecido, acrescenta outro detalhe que mostra como era harmonioso o convívio naqueles tempos. "A gente (palmeirenses e corintianos) montava juntos os fogos de artifício ao redor do campo", conta o torcedor de 61 anos. "Quando os times entravam, era aquele foguetório e a maior fumaceira. Demorava 5, 10 minutos para a nuvem de fumaça se dissipar."Os dois torcedores presenciaram partidas que ainda estão bem vivas na memória. Roberto lembra de um jogo em 19 de novembro de 1967, um domingo à tarde, em que o atacante palmeirense Tupãzinho acabou com a pose do goleiro corintiano Barbosinha. "A turma do lado de lá falava que o Barbosinha era o Gato Preto (pela maneira como pulava nas bolas) e coisa e tal. Veio o jogo, o Tupã enfiou dois gols de falta da intermediária e acabou com a fama do goleiro."O Palmeiras ganhou o jogo por 2 a 0 e o Corinthians, então já na fila de títulos, deu adeus às chances de ser campeão paulista naquele ano.Wilson não esquece dos dérbis em que Luisinho, o pequeno polegar corintiano, só faltava fazer chover. "Ele era um jogador excepcional. Recordo uma vez em que um zagueiro gringo do Palmeiras, um tal de Luiz Villa, falou muito antes do jogo. Na partida, o encheu ele de drible. Teve um lance em que sentou na bola antes de driblá-lo." Outro de seus ídolos era Cláudio Cristóvão Pinho. "Aquele jogava uma bola enorme.""Hoje, Wilson e Roberto não estarão no Pacaembu. Aliás, relutam em ir aos jogos de seus times. A violência os afugenta. Situação bem diferente daqueles anos dourados, em que ir ao estádio não continha riscos ? a camaradagem era tanta que torcedor de um time chegava até a dividir o lanche com o do outro. "Eu já morava na Freguesia do Ó (bairro da zona norte paulistana) e, às vezes, ao fim do jogo ia do estádio em casa à pé. Descia a avenida Pacaembu e ia embora. Nunca teve problema"", relata o palmeirense. "Antigamente eu ia ao Pacaembu, e a outros estádios na quarta e no domingo. Não tem mais graça"", conta o corintiano.Hoje, seus times voltam ao Pacaembu. Eles, porém, ficarão em casa.

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