Ministro da Ciência e das Universidades do Reino Unido, David Willetts é o ponta de lança de uma campanha internacional para garantir que estudantes estrangeiros continuem sendo bem recebidos por lá, apesar das restrições de acesso adotadas pelo primeiro-ministro conservador David Cameron. Prova disso, segundo Willetts, é o empenho em ampliar o acordo para receber brasileiros no âmbito do Ciência Sem Fronteiras, que ocupou lugar central na passagem do ministro e de Cameron por Brasília, na sexta-feira.O giro das autoridades britânicas, que incluiu encontros com a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, levou à ampliação, para 10 mil, do número de brasileiros que receberão bolsas para estudar no Reino Unido nos próximos quatro anos. Resta saber como conciliar a atração de estrangeiros, mesmo "legítimos", com a promessa do governo de limitar a 100 mil o número anual de imigrantes. Em 2011, só nas instituições de ensino, o país recebeu 400 mil estrangeiros.O senhor assinou acordos com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) saudados como inovadores pela delegação britânica. O que eles têm de especial? Compartilhamos a revisão por pares em um processo único, no qual cientistas e pesquisadores dos dois países, reunidos em um só comitê, decidem se os projetos apresentados merecem ser apoiados. Isto é muito pouco usual para nós e evidencia um alto nível de confiança entre as duas partes.O acordo em relação ao programa Ciência Sem Fronteiras não se choca com a determinação do governo Cameron de reduzir o número de imigrantes? O Ciências Sem Fronteiras é uma parte importante tanto da minha agenda aqui quanto da do primeiro-ministro. Chegamos a um acordo que amplia para 10 mil o número de brasileiros que vão estudar no Reino Unido nos próximos quatro anos. Em setembro já recebemos 600 estudantes e outros 700 chegarão ao longo do semestre.O senhor não enfrenta oposição na costura de acordos como esse por causa das políticas de restrição à imigração? Vou deixar claro que não há limites para a entrada de estudantes legítimos na Grã-Bretanha; eles são bem-vindos. É claro que precisam ter as devidas credenciais acadêmicas e o domínio necessário do idioma. Aliás, identificamos no Ciência Sem Fronteiras que alguns dos brasileiros inscritos têm a qualificação acadêmica, mas não dominam o idioma. Por isso, criamos com o governo brasileiro um programa de treinamento em língua inglesa, que vai durar de três a seis meses e será dado na Inglaterra. Mas o senhor não enfrenta pressão interna no governo para limitar o acesso de estrangeiros? A questão é que o Reino Unido teve abusos de estrangeiros que buscavam escolas de fachada para ficar no país ou não tinham o domínio necessário do inglês, o que dificultava sua avaliação e certificação. Mas alunos com qualificação acadêmica e proficiência em inglês são aceitos em qualquer instituição britânica de ensino superior.O senhor lançou um programa que exige a divulgação gratuita on-line de trabalhos científicos financiados com dinheiro público. A alegação é de que a livre circulação de conhecimento ajuda o país a crescer. O raciocínio não se aplica à educação? Oferecer conteúdos gratuitos on-line, como complemento ao ensino tradicional, não fará o PIB de qualquer país crescer? Sim. Uma das grandes mudanças que veremos é a guinada para o aprendizado on-line. Fala-se disso há anos, mas agora chegamos ao estágio em que as mídias sociais são tão interativas e a geração jovem está tão familiarizada com elas que haverá uma explosão da educação on-line. Concordo que será um modelo misto, porque as pessoas ainda vão precisar ter uma experiência presencial.
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