Alunos são primeira geração em universidade

Em programa da Unicamp para oriundos da rede pública, apenas 10% têm pais com ensino superior

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Por Tatiana Favaro e CAMPINAS

Dos 120 estudantes de escolas públicas que ingressaram no Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 90% são a primeira geração de suas famílias a entrar em uma faculdade. O dado é da Pró-Reitoria de Graduação. O Profis começou neste ano com dois grandes objetivos: oferecer aos melhores alunos da rede pública a oportunidade de entrar em uma universidade de excelência e lhes possibilitar uma formação antes de ingressar em um curso superior. Os participantes foram selecionados por meio de sua nota no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) e concluirão o curso de 1,6 mil horas em dois anos. Depois disso, terão acesso a um dos cursos de graduação."Há duas vertentes importantes: a introdução da formação geral, uma tendência mundial e novidade no País, e a inclusão social, que nos trouxe índices surpreendentes", afirmou o pró-reitor de Graduação, Marcelo Knobel. "Os dados até agora indicam que, de fato, os alunos que ingressaram no Profis têm um perfil completamente diferente dos que são aprovados no vestibular tradicional."Enquanto 48% dos inscritos nos vestibulares da Unicamp de 2008 a 2010 tinham os pais ou responsáveis com curso superior completo, 9,7% dos estudantes do Profis têm a mesma condição. Os pais de outros 35,3% fizeram o ensino médio.A porcentagem de pretos e pardos (38,8%) também é maior entre os inscritos no Profis do que nos vestibulares (15,8%). Retrato. Segundo levantamento da universidade, mais da metade das 94 escolas estaduais públicas de Campinas não tem nenhum aluno matriculado na Unicamp. Em 2010, 14.950 candidatos - 26,1% dos inscritos no Vestibular Unicamp 2011 - haviam feito todo o ensino médio na rede pública."Quem é bom aluno em uma escola possui potencial para ter bom desempenho em qualquer outra. Muitos dos estudantes da rede pública nem chegavam a se inscrever no vestibular da Unicamp", afirmou o reitor, Fernando Costa. "Procuramos os bons alunos que estavam excluídos, mas não inventamos isso (modelo do Profis)", diz Costa, ao lembrar exemplos de universidades internacionais que têm métodos semelhantes.Segundo o reitor, o projeto-piloto está sendo avaliado para identificar gargalos. Em algumas áreas, sobretudo matemática, há uma deficiência grande vinda do ensino médio, e os alunos estão estudando para saná-la. "Sabemos que é um sacrifício, mas eles se sairão bem. E esse modelo servirá de estímulo para que outras instituições façam algo semelhante, e o governo possa fazer isso de maneira abrangente, para o Estado todo."

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