ANÁLISE-Minério intensificará retomada, mas terá volatilidade

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Por SABRINA LORENZI
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A recuperação dos preços do minério de ferro deve se intensificar nos próximos meses, com impulso da demanda chinesa de um lado e da oferta menor pela commodity de outro, avaliam analistas e representantes do setor. Mas esse processo de retomada do mercado será permeado por muita volatilidade até que se encontre um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, afirmou à Reuters José Carlos Martins, diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, a maior produtora global de minério de ferro. "Quem não tiver nervos de aço --ou de ferro-- e competitividade de custos vai ter que mudar de ramo", disse o executivo. O preço do minério de ferro na China voltou a cair abaixo de 100 dólares por tonelada nesta quarta-feira, após romper esse nível na terça-feira pela primeira vez desde meados de agosto, segundo um índice referencial. O Steel Index indicou o valor do minério com 62 por cento de teor de ferro nesta quarta-feira em 98,10 dólares por tonelada, queda de 2,10 dólares ante terça-feira. O minério de ferro havia subido mais de 15 por cento entre sexta-feira passada e a terça-feira, após a China anunciar um bilionário pacote para estimular obras de infraestrutura. O preço do produto, que lidera a pauta de exportação do Brasil, deve continuar volátil até que a China reduza o nível de estoques do produto, num processo que pode ser concluído até o final do ano, esperam especialistas. "Ainda não houve ajuste de estoques na cadeia chinesa, mas vai acontecer, vai diminuir... Vai ser difícil o preço saltar para 140 dólares a tonelada como no ano passado, mas sim para cerca de 120 dólares em dois ou três meses a partir deste processo de ajuste", avalia o analista Marcelo Aguiar, do Goldman Sachs. Bancos de investimento e analistas consultados pela Reuters esperam que o preço do minério entre novembro e dezembro supere ou se mantenha na casa dos 100 dólares por tonelada. E as expectativas para 2013 são mais otimistas. PRODUÇÃO MENOR Além do pacote chinês aprovado na sexta-feira passada, o mercado aponta queda na produção de minério da China, após o período de baixa nos preços. "O pacote chinês só veio acelerar o processo de retomada porque esperávamos que os produtores de alto custo deixassem o mercado, com preços voltando para 110/120 dólares por tonelada", afirmou o analista Leonardo Alves, da Safra Corretora. A Safra Corretora ainda está revisando suas estimativas para o preço do minério, mas Alves antecipa que deverão ficar em 100 dólares para último trimestre, atingindo 110 dólares em 2013 e 2014. "Devemos basear nossas estimativas em uma estabilidade nos preços no final do ano. Apesar de acreditar que é possível uma retomada (maior)... preferimos ser conservadores", acrescentou. Já o Bank of America Merrill Lynch projeta 130 dólares por tonelada até o final do ano. Aguiar, do Goldman, avalia que a melhora do preço nos últimos dias "só reforça a visão construtiva do mercado de minério de ferro". O especialista também aposta na redução da oferta do produto como fator de estímulo do preço, mas pondera que os fundamentos da demanda não mudaram, com expectativa de uma procura menos robusta por minério. A queda no preço do minério de ferro para mínimas em quase três anos ao final de agosto, a cerca de 86 dólares por tonelada, está forçando muitas mineradoras de grande porte na China a cortar produção, o que deve reduzir a oferta em um mercado marcado por estoques quase recordes no país. A saída de produtores chineses menos eficientes do mercado havia sido prevista pela Vale. Em entrevista à Reuters no dia 30 de agosto, Martins disse que os preços voltariam a subir com a oferta refletindo a saída do mercado de fornecedores com maior custo de produção. As ações da maior produtora de minério de ferro subiam 0,44 por cento às 16h, enquanto o Ibovespa tinha alta de 0,35 por cento. Já o analista do BTG Pactual, Edmo Chagas, avalia que os preços subiram por conta do pacote (de infraestrutura) da China. E, na sua opinião, continuarão aumentando. Ele avalia que a alta vai continuar e que o preço vai se recuperar para um patamar de 110/120 dólares por tonelada no último trimestre. (Reportagem de Sabrina Lorenzi)

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