SÃO PAULO - O Museu de Cabangu é pouco conhecido, mas muito importante para a memória do País. Foi lá que Alberto Santos-Dumont nasceu, em 20 de julho de 1873, e se dedicou anos depois a uma de suas atividades mais inusitadas: a de fazendeiro e criador de gado holandês na Serra da Mantiqueira.
Maior celebridade internacional do Brasil na época, Santos-Dumont recebeu Cabangu de presente em 1918, em reconhecimento aos serviços prestados, após aprovação de uma lei no Congresso. E ali se refugiou durante algumas temporadas, até meados da década de 1920.
Conhecido pelos vizinhos como um homem calado e generoso, chamava a atenção entre outras coisas pelas roupas sempre engomadas e pelo hábito de hastear a bandeira nacional.
O inventor nasceu em Minas Gerais porque seu pai, o então engenheiro de obras de públicas Henrique Dumont, foi chamado para construir o trecho da ferrovia que corta as terras de Palmira. O município na região de Barbacena mudou seu nome para Santos Dumont uma semana depois de o inventor se suicidar, em 1932.
A morte deu início a uma verdadeira epopeia, que terminou com a abertura de Cabangu ao público apenas quatro décadas mais tarde.
Em 25 de julho de 1932, dois dias depois de Santos Dumont se matar, amigos da região foram até o local e encaixotaram todos os objetos e documentos do aviador que encontraram. Tinham medo de que a casa fosse assaltada e depredada. A primeira ideia era levar o acervo para a prefeitura, mas, como não havia espaço, o secretário-geral do município, Oswaldo Henrique Castello Branco, ofereceu um quarto da própria residência. Com nove filhos pequenos, sua primeira providência foi trancar o cômodo e proibir a entrada das crianças. Uma delas era Mônica Castello Branco, atual curadora do museu.
Em 1949, Oswaldo e outras pessoas da cidade criaram a Fundação Casa de Cabangu, para garantir o futuro do acervo. Zeloso, fez a mulher até assinar um termo: se ele morresse antes de o museu ser criado, ela não poderia ficar com as peças. Em 23 de outubro de 1952, acompanhou outros moradores e integrantes da Escola Preparatória de Cadetes do Ar numa visita a Cabangu.
Andaram quatro quilômetros pela linha da Central do Brasil até encontrar a casa de Santos-Dumont em ruínas. Depositaram flores em homenagem ao pai da aviação e patrono da Força Aérea Brasileira (FAB), lembraram seus feitos e renovaram a disposição por lutar por um museu. Em 1973, no centenário de nascimento do inventor, ele foi finalmente aberto. Por décadas sobreviveu em meio a dificuldades financeiras. Neste domingo, fechará as portas.
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