O motorista de aplicativo que deixou na calçada uma jovem de 22 anos, na madrugada de domingo, 30, em Belo Horizonte (MG), foi suspenso preventivamente pela plataforma 99. Após o abandono, a jovem foi carregada por um suspeito até um local ermo e estuprada.
Segundo a empresa, a medida é preventiva até que a polícia esclareça os fatos e apure as responsabilidades. De acordo com a Polícia Civil, o motorista pode responder por omissão de socorro. Já o suspeito do estupro teve a prisão preventiva decretada.
Em nota, nesta quarta-feira, a 99 informou que lamenta o ocorrido após a conclusão da corrida. “A empresa esclarece que fez o bloqueio preventivo do motorista e que aguarda que a polícia esclareça fatos e responsabilidades, estando à disposição para colaborar com a investigação”, disse.
As empresas de aplicativo fornecem aos motoristas um guia com regras, orientações de segurança e comportamentos que os condutores precisam seguir.
Nesta quarta-feira, 2, o Ministério Público de Minas Gerais informou ter participado da audiência de custódia, realizada na noite de terça-feira, 1.º, em que pediu a conversão da prisão temporária do suspeito em prisão preventiva. O pedido foi aceito pela Justiça.
Foi decretado também segredo de Justiça no processo para preservar a imagem da vítima. O MP disse ainda que aguarda a conclusão do inquérito policial. Outras pessoas envolvidas no caso podem ser indiciadas.
O homem que foi filmado por câmeras de segurança carregando a jovem nos ombros foi identificado como Wemberson Carvalho da Silva, de 47 anos. Suspeito de estupro de vulnerável, com pena prevista de reclusão de 8 a 15 anos, ele está preso em cela separada no Presídio José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, na Grande BH.
O homem nega o crime. Na audiência, ele disse que apenas levou a jovem para um lugar mais seguro.
Show no Mineirão
De acordo com a investigação da Polícia Civil, na noite de sábado, 29, a jovem estava com amigos e colegas de trabalho em um show do cantor Thiaguinho, no Mineirão, onde consumiu bebidas alcoólicas.
No início da madrugada de domingo, como passava mal devido à embriaguez, um dos amigos chamou um motorista de aplicativo e a colocou no carro, informando o endereço dela. Ele compartilhou o link da corrida com um irmão da vítima.
Quando chegou ao endereço, no bairro Santo André, por volta das 3 da madrugada, o motorista do aplicativo constatou que a jovem estava inconsciente. Ele esperou cerca de 10 minutos para que ela acordasse, o que não aconteceu. Como não conseguiu contato com irmão dela nem pelo celular, nem pelo interfone do imóvel, ele decidiu deixá-la na calçada.
Com a ajuda de um motociclista que passava pela rua, o motorista a retirou do carro e deixou a jovem encostada em um poste. Ele voltou a tocar o interfone e, sem resposta, entrou no carro e foi embora.
O irmão alegou que dormiu durante o tempo que durou a corrida e não ouviu os toques do celular e do interfone. Segundo a família, ele havia tomado remédio contra a asma e estava sonolento.
Cinco minutos depois que o motorista partiu, imagens das câmeras instaladas na rua mostram quando um homem se aproxima da jovem, que a esta altura já estava caída ao chão. Ao vê-la desacordada, o homem levantou a mulher, colocou-a sobre o ombro e saiu caminhando pelas ruas do bairro com ela às costas.
Imagens das câmeras mostram o percurso de quase 15 minutos feito pelo suspeito pelas ruas do bairro, inclusive em trecho próximo de um campo de futebol. O mesmo homem foi visto saindo sozinho do local por volta das 7 horas, três horas e meia após o rapto.
A vítima foi encontrada por uma mulher, por volta das 7h30, desacordada, suja e com a calcinha abaixada no campo do Grêmio Mineiro. Ela foi atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e depois passou por exames Hospital Municipal Odilon Behrens, tendo sido constatado o estupro. Foram colhidas amostras de material genético para exames e ela recebeu um coquetel de medicamentos.
O caso está sob investigação pela Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual da capital mineira. Conforme a Polícia Civil, após a prisão do suspeito de estupro, que foi identificado nas imagens, a conduta dos outros envolvidos está sendo avaliada.
O motorista de aplicativo é investigado por crime de omissão de socorro, que tem pena prevista variando de seis meses de detenção a três anos de prisão, de acordo com o grau de gravidade da omissão. A identidade do motorista não foi divulgada.
A reportagem entrou em contato com o defensor que acompanhou o suspeito de estupro na audiência de custódia e ainda aguarda retorno.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.