Depois da morte de João Alberto Silveira Freitas, vítima de espancamento por profissionais de segurança em uma unidade do Carrefour, na cidade de Porto Alegre (RS), o Carrefour terminou a sexta-feira passada com alta de 0,49% na Bolsa. Depois de um fim de semana de protestos virtuais e presenciais contra a varejista, porém, nesta segunda-feira, a reação do mercado foi diferente. Para especialistas, a baixa 5,35% com a qual as ações terminaram o dia de hoje teve mais a ver com a crise de imagem do grupo do que propriamente com a morte de João. A queda foi a maior do Ibovespa.
"A resposta das bolsas, chega como resposta à população. Esses movimentos foram essenciais. A resposta vem acompanhada do grito da sociedade", diz o professor do programa de Mestrado Profissional em Comportamento do Consumidor na ESPM, Fábio Mariano Borges. Ele diz que o mercado ainda está longe de tomar a decisão de não investir em determinado papel exclusivamente por um fato que denota racismo estrutural. "Vivemos em uma sociedade racista, machista e homofóbica. Os investidores também fazem parte de dessa sociedade racista", diz. Para ele, fatos como esse precisam ser digeridos pelo investidor, daí o escândalo não ter interferido no papel logo na sexta-feira.
O analista de renda variável da Warren Igor Cavaca vai no mesmo sentido em dizer que, a princípio, o cálculo do mercado foi de que o caso não causaria tanta mobilização. No entanto, com a repercussão do fim de semana, essa interpretação mudou. "Para o investidor, o ponto de decisão vai ser como isso irá afetar a imagem e a lucratividade de determinada empresa", diz.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.