Uma argentina de 92 anos que mantém o hábito de esquiar em Bariloche diz ser "normal" para ela o que faz e que ficou surpresa por ter virado notícia esta semana na imprensa de seu país. "Como sou velha, sou famosa. Mas não faço nada do outro mundo para aparecer nos jornais e nas televisões. Eu sou só uma esquiadora que tem mais de 90 anos", disse, rindo, à BBC Brasil. Zulma Blanco conta que aprendeu a esquiar aos 20 anos em Bariloche - também conhecida como "Brasiloche" pela forte presença de turistas brasileiros. Na época, os esquis eram duas tábuas de madeira, bem mais rústicos e menos eficientes do que os esquis atuais, produzidos de fibra, plástico e aço, e as luvas eram de lã e não de couro. "Era muito divertido e nunca vimos perigo no esporte que era improvisado", disse. Ela contou que pode passar horas esquiando na famosa montanha Cerro Catedral, mas hoje é mais exigente do que no passado: "Nós idosos temos mais frio e se os ventos estão fortes, não saio para esquiar. Gosto de esquiar quando tem sol", disse. Em dias nublados, ela prefere caminhar nas proximidades do lago Nahuel Huapi, em Bariloche. Aviadora No entanto, Zulma Blanco afirmou que as caminhadas não lhe dão a mesma "sensação" que o esqui. "Esquiar me dá a sensação de liberdade. Gosto de sentir que sou livre", afirmou. Quando era jovem, ela queria ser aviadora, mas morando na então pacata Bariloche e sem dinheiro e autorização dos pais para se mudar para Buenos Aires, o sonho tornou-se impossível. "Eu queria ser aviadora para poder voar de um país para o outro, para conhecer o mundo pilotando", disse. Ela contou que passou a realizar este anseio por conhecer o mundo através da leitura. "Na minha casa nunca teve muito dinheiro, mas muitos livros. E com eles conheci a África e Ásia, por exemplo. Ainda hoje, sou uma leitora apaixonada", disse. Ela já esteve no Brasil, México, Egito e Israel. "Adoro viajar e fiquei admirada com a beleza do Rio de Janeiro", afirmou. Oficial de Justiça aposentada, viúva, mãe de dois filhos, avó de cinco netos e com três bisnetos, ela disse que toda sua família pratica o esqui. "Meu bisneto mais novo tem três anos e adora esquiar. É mesmo um prazer", afirmou. A filha de Zulma, Viviana, de 58 anos, disse que também ficou surpresa com a repercussão com a notícia sobre a mãe. "Esquiar sempre fez parte de nossas vidas e da dela também", disse. 'Corrida Histórica' Zulma participou, no fim de semana, da "Corrida Histórica", realizada anualmente por um grupo de apaixonados pelo esporte. "Zulma esquia muito bem e há tempos participa da nossa corrida. O mais interessante é que ela sai de casa de ônibus (também em Bariloche) para esquiar e está sempre muito alegre", disse à BBC Brasil Carlos Viaene, um dos organizadores do evento. O mais jovem da competição tinha 60 anos e Zulma foi a mais idosa. "Fiquei surpresa de ver que muitos que esquiavam comigo quando éramos jovens estavam ali somente para assistir e não para esquiar", disse ela. Muitos dos participantes usaram esquis e luvas daqueles tempos em que Bariloche não fazia parte do circuito profissional do esporte e não possuía, por exemplo, teleféricos para levar os esquiadores até o topo da montanha. Saúde Zulma disse que não tem receitas de longevidade ativa. "Acordo às sete e meia da manhã, arrumo a casa, saio para esquiar, quando tem neve, ou para caminhar, e leio muito. Mas não gosto de celulares ou de computadores", disse. Ela come de tudo - incluindo carnes - e mantém a magreza da juventude. Sua pressão, disse, é normal, e seus movimentos também. Diante das câmeras de televisão da TN (Todo Notícias), de Buenos Aires, ela levantou a perna quase até a cabeça e agitou os braços sem sinais de dores do tempo. "Hoje em dia ao primeiro sinal de gripe, as pessoas correm para o médico. Eu não, prefiro evitá-los para que não me encontrem nada. Mas quando vou dizem que estou normal, com muita saúde. E assim espero continuar, e esquiando por muito tempo ainda", disse, rindo. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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