A obra que poderá ser vista em São Paulo foi encomendada e elaborada em tempos de paz. Mas foi em tempos de guerra, no contexto da política da boa vizinhança entre Brasil e Estados Unidos, que Portinari consagrou sua arte.
Em 1939, sua estreia nos EUA, o pintor participou com três painéis do pavilhão brasileiro da Feira Mundial de Nova York. Os painéis “Jangadas do Nordeste” e “Cena Gaúcha” hoje pertencem ao acervo do Itamaraty em Brasília. O terceiro, “Cenas de São João”, foi incorporado ao Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e destruído por um incêndio em 1958.
O Estado de S. Paulo - 12/2/1940
O Estado de S. Paulo - 24/10/1940
O Estado de S. Paulo - 01/8/1941
No mesmo período, outra obra que estava nos EUA, “Morro do Rio”, despertou interesse de Alfred Barr, diretor do MoMA e foi incluída na exposição “Art in our Time”. A obra de Portinari foi a única de um sul-americano exposta na mostra que reuniu obras dos séculos 19 e 20.
Quando Barr, diretor do MoMA, escolhe Portinari, o artista brasileiro alçava vôo próprio. Até então, ele era visto pelos opositores de Getúlio Vargas como um pintor oficial do Estado Novo.
Em 1940 é convidado a pintar murais para ornamentar as paredes da Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso Americano, em Washington. Os murais foram inaugurados há 70 anos, em 12 de janeiro de 1952.
São quatro os murais que contam a história da colonização das Américas pelos europeus, “Descobrimento”, “Desbravamento da Mata”, “Catequese” e “Descoberta do Ouro”.
Em 1941 é lançado o livro “Portinari, His Life and Art”, pela University of Chicago Press. Em Washington, expõe na Howard University Gallery of Art. No ano seguinte retrata a mãe do magnata Nelson Rockefeller.
Time - 3/1/1949
Time - 16/5/1949
Para o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, em artigo para “O Jornal” de 1942, os três anos de conquista dos EUA significavam grande mudança na imagem do Brasil: “o brasileiro de hoje não se sente mais, em Nova York ou na Europa, o indivíduo de nação clandestina ou vaga que se sentia nos fins do século passado e no começo do atual quando as nossas celebridades (...) eram indistintamente classificadas como ‘sul-americanas.”
Freyre ainda provoca os críticos de Portinari, argumentando que ele era, para os que sofrem do “complexo de humildade colonial”, um remédio “semelhante ao de certas vitaminas que corrigem deficiências patológicas.”
Janeiro de 1956
Pesquisa e Texto: Carlos Eduardo Entini
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