Ataque a creche em Blumenau: Sociedade intolerante eleva risco desses casos, diz psiquiatra

Atos de extrema crueldade como da creche de Blumenau, embora associados a perfil individual do agressor, também levantam alerta sobre aumento de extremismo e de cultura da violência

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Atualização:

O Brasil tem um histórico de violências, com alto número de homicídios nas cidades, mas casos recentes de ataques em escolas são um novo capítulo do problema no País. Neste quarta-feira, 5, um atentado em uma creche de Blumenau (SC) terminou com quatro crianças mortas. Há menos de 10 dias, em uma escola da capital paulista, uma professora foi morta a facadas por um aluno de 13 anos, que feriu outros docentes e colegas.

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Segundo o psiquiatra Daniel Martins de Barros, colunista do Estadão, embora qualquer ataque do tipo deva considerar o perfil e os atos individuais do agressor, o meio violento em que ele está inserido pode contribuir para uma maior frequência de tragédias como as duas mais recentes.

“Sempre tem um comportamento individual, o sujeito com a sua história, predisposições, desenvolvimento, perfil psicológico e personalidade, mas estamos inseridos num meio social que influencia a forma de nos comportarmos”, afirma Barros, também professor da Universidade de São Paulo (USP).

Desde os anos 2000, o Brasil registrou 40 mortes em ataques a escolas. Nas décadas anteriores, não havia relatos desse tipo de crime. Nos Estados Unidos, sucessivos massacres em colégios assustam alunos, pais e autoridades.

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“No Brasil, estamos em uma sociedade que tem os maiores índices de violência no trânsito, contra mulheres, contra minorias, contra pessoas trans. Somos uma sociedade violenta. Então, vamos ter mais violência em todos os ambientes, inclusive nas escolas”, afirma o especialista.

Nesses casos, o cenário social pode funcionar como um gatilho para pessoas que já tenham, por questões individuais, maior predisposição a cometer atos violentos. “Tem indivíduos que vão estar mais suscetíveis e serão mais violentos. Outros estarão mais protegidos. Mas quanto mais violenta a sociedade, maior o número de indivíduos violentos. Há uma inter-relação entre o individual, o cultural e o social”, afirma.

Homem invadiu creche em Blumenau e atacou crianças com faca e machadinha Foto: Anderson Coelho/AFP

Ele diz que, embora nos casos mais recentes não seja ainda possível estabelecer as motivações ou gatilhos dos ataques, a crescente intolerância observada nos últimos anos no Brasil e no mundo ajuda a explicar o aumento de episódios do tipo.

“A sociedade está mais intolerante no Brasil e no mundo, o mundo está mais polarizado, e no Brasil não é diferente”, diz. “E a polarização e a intolerância são ingredientes de uma cultura beligerante, de hostilidade, extermínio do inimigo. Isso tudo alimenta uma sociedade mais violenta”, afirma o psiquiatra.

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Barros explica que é importante que o País perceba a complexidade da questão e as relações entre o aumento de ataques em escolas com a crescente cultura de violência para que possamos pensar em medidas preventivas mais estruturantes, e não somente pontuais.

“O principal ponto é trabalhar por uma cultura de paz, o que conversa com a questão do combate à intolerância. A desigualdade também alimenta uma sociedade mais violenta. Combater as bases do que está por trás disso é fundamental, para além de falar de segurança em escolas, de detector de metais em porta de escola - medidas que são tomadas de supetão, sem evidência de que funcionem, e que não atingem a base do problema”, afirma.

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