Em março de 2019, dois atiradores invadiram e mataram cinco alunos, duas funcionárias e o tio de um deles antes de se matarem na Escola Estadual Professor Raul Brasil, município de Suzano, em São Paulo. Além das vítimas e da tristeza de suas famílias, o massacre deixou também lições de como proceder após situações como a vivida na última semana, no interior do Espírito Santo.
Entre as iniciativas mais lembradas do caso paulista está a implantação do Plano Conviva, projeto criado pela Secretaria da Educação com o propósito de restabelecer parte da normalidade prejudicada após o massacre, por meio de ações integradas nas áreas de educação, segurança e assistência psicossocial.
Em coletiva concedida à imprensa na tarde desta quarta-feira, 30, o governo do Estado do Espírito Santo apresentou seu planejamento feito para a chamada “Sala de Situação”, onde as secretarias de Educação, Segurança Pública, Saúde e da Assistência trabalharão de maneira integrada na redução de danos causados pelo crime que matou quatro pessoas e deixou outras nove feridas, em Aracruz.
Ao lado dos demais secretários das pastas integradas, Vitor de Angelo (Educação) revelou estar em contato direto com Rossieli Soares, titular da Educação em São Paulo à época do massacre em Suzano.
Segundo ele, desde seu primeiro contato com o caso de Aracruz, a interlocução com o colega paulista vem sendo feita e servirá de base para, junto com outros profissionais, solucionar problemas relativos à reintrodução de alunos, professores, funcionários e comunidade aos espaços atingidos pelo atirador.
“É um trabalho de ressignificação do espaço para que, posteriormente, a comunidade Escolar possa decidir ela mesma qual finalidade dar ao lugar. Não cabe ao secretário dizer como as escolas serão novamente ocupadas, mas aos próprios usuários. Existem aqueles que não vão querer retornar por agora, os que precisam concluir o ano escolar e tudo isso está sendo levado em conta neste momento”, disse.
Separado em quatro fases de atuação, o plano apresentado pelos secretários tem início no próximo dia 2 de dezembro, quando será feita uma preparação para a acolhida de alunos, professores e funcionários, que retornam às atividades no dia 5.
A alguns quilômetros do local da entrevista coletiva, em Coqueiral de Aracruz, quem hoje passa em frente os portões da Escola Primo Bitti já consegue ver um trabalho de revitalização do lugar com jardinagem, cobertura dos buracos de balas nas paredes e até a mudança da sala dos professores, que passou para outro espaço dentro da unidade.
Apesar de toda a preparação, o calendário estudantil não é a maior prioridade do governo na gestão da crise instaurada. Os secretários integrados deixaram claro que em um primeiro momento o objetivo principal da Sala de Controle é organizar o atendimento aos envolvidos, que têm um canal reservado para serem atendidos. “É preciso estabelecer o nosso público direto e a abrangência das ações que teremos em todas as áreas”, explicou o secretário de Educação, encabeçando a coletiva.
Inicialmente, as duas escolas atingidas e também a Escola Municipal de Ensino Fundamental Coqueiral, localizada na vizinhança, serão o foco das ações do plano. Em seguida, vai ser a vez das demais escolas da rede pública (incluindo municipais e federais), familiares de atingidos, e, por último, os profissionais que atenderam a ocorrência e que vêm tendo contato com as vítimas.
Inquérito busca apurar motivações do crime
O inquérito que busca apurar as motivações do crime e o possível envolvimento de outras pessoas nos dois anos de preparação a que se submeteu o atirador de 16 anos segue em segredo de justiça. Entretanto, novas tentativas de entender onde o adolescente buscou informações sobre como atirar ou dirigir serão feitas com o fim da investigação inicial do crime.
De acordo com o secretário de Estado da Segurança Pública no Espírito Santo, coronel Márcio Selante, a partir da próxima semana se encerrará a primeira fase da investigação, onde a Polícia Civil deixará a encargo da Vara da Infância o destino do atirador. Apesar disso, Selante dá garantias de que a busca por explicações e possíveis colaboradores irá continuar.
“É preciso dar continuidade, sim, ao processo para entender se houve ou não a participação de outras pessoas. Entretanto, a prioridade neste momento é trazer de volta a paz social, o que não é uma ação somente da polícia, mas integrada com outras áreas”, disse o secretário.
Além do andamento da investigação, Selante destacou a importância da presença policial na comunidade em um primeiro momento e disse que espera estabelecer uma frente de trabalho, já nos próximos dias, para todo o ano de 2023.
“O nosso foco é Aracruz até o fim do ano. Posteriormente faremos um planejamento para atuação no próximo ano, com a presença da patrulha escolar, de visitas tranquilizadoras, teremos o avanço do Proerd e palestras de orientação aos profissionais da educação”, concluiu.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.