Ataque em escola: o que fazer com adolescentes que cometem ou planejam violência?

Jovem que matou professora a facadas deve ficar três anos internado na Fundação Casa; para especialistas, no entanto, internação tem caráter mais punitivo do que educativo

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

RIO - O menino de 13 anos que matou uma professora e deixou outros quatro feridos na Escola Estadual Thomazia Montoro, zona oeste de São Paulo, na última segunda-feira, ficará internado na Fundação Casa, que abriga jovens infratores. Pela gravidade do crime, a expectativa é de que o adolescente deve ficar internado pelo prazo máximo, de três anos. Mas o que é necessário para recuperar esse e outros jovens que cometem ou planejam atos de violência? Especialistas dizem que atuar só na lógica punitivista não é a solução.

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O comportamento violento do jovem responsável pelo ataque desta semana já havia sido denunciado à polícia um mês antes, por pais de alunos de outro colégio onde ele havia estudado, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. No boletim de ocorrência, é relato que o adolescente publicava vídeos e mensagens simulando violência.

De acordo com especialistas, se ficar comprovado que o jovem tem algum problema mental, como neurose ou psicose, por exemplo, o primeiro passo é tratá-lo. No entanto, dizem, embora alguns agressores com esse perfil de fato apresentem alguma patologia, nem todos têm algum problema desse tipo. E, para esse grupo, o caminho é o acompanhamento psicológico e a reeducação.

“O problema é que o sistema de reeducação de jovens infratores é um fracasso. É muito mais punitivo do que reeducativo. Não reeduca, não permite desenvolvimento adequado”, afirma a professora Ângela Soligo, do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp.

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Acolhimento é a recomendação dos especialistas Foto: Carla Carniel/Reuters

Segundo a professora, não se trata de “passar a mão na cabeça” do infrator, mas de tentar entender a gravidade do episódio. “Alguma lógica ele usou para tomar a atitude que tomou. E entender essa criança passa pelo diálogo, pela escuta, e também por entender o seu entorno”, diz ela.

“Além disso, do ponto de vista do sistema de proteção, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e do sistema educativo, o caminho é a reeducação. Não só dele, mas também da família, e a promoção de uma discussão constante na escola”, acrescenta a especialista da Unicamp.

Acolhimento

Professora do Departamento de Psicologia e Educação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luciene Tognetta concorda. “Salvo exceções em que há uma patologia por trás, esses meninos e meninas precisam de acolhimento, de uma rede de proteção (sistema de saúde, sistema de educação, promotoria pública, conselho tutelar, escola, família) que possa inseri-los na sociedade. Acompanhamento psicológico é sempre necessário, por isso essa rede de proteção precisa agir não só em função desse menino, mas também de todos que o rodeiam”, diz. “A família precisa não só de atendimento, mas também de ser orientada sobre como lidar com o menino.”

A advogada Cléo Garcia, especialista em justiça restaurativa, sugere ainda o uso de outros programas capazes de promover a desradicalização desses meninos, a exemplo dos oferecidos pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) para terroristas.

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Para ela, é difícil que instituições de internação de adolescentes, como a Fundação Casa, consigam desenvolver um programa de reeducação capaz de orientar, esclarecer, estimular o desenvolvimento do senso crítico, do debate, uma vez que a escola regular já tem dificuldades de exercer esse papel. “Há alguns programas conhecidos no mundo todo, alguns disseminados pela ONU, para desradicalização de terroristas, que traz as pessoas para diálogos, rodas de conversa, conscientização”, aponta.

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