Por que Balneário Camboriú reduz a faixa de areia depois de alargar a praia?

Local teve engorda que atingiu até 70 metros de largura, mas agora passa por novas obras para construção de calçadão e inclusão de faixa de vegetação costeira

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Foto do author José Maria Tomazela

Depois de engordar sua praia principal até atingir 70 metros de largura usando areia retirada do mar, a prefeitura de Balneário Camboriú, um dos principais destinos turísticos de Santa Catarina, constrói um calçadão. A nova estrutura engolirá 15 metros da faixa de areia.

Conforme a prefeitura, a obra já estava prevista quando a praia foi alargada, em 2021. O Instituto do Meio Ambiente (IMA) do Estado autorizou a obra, mas exigiu que o impacto ambiental seja compensado com o plantio de vegetação costeira.

Revitalização do 1º trecho do novo calçadão da Praia Central de Balneário Camboriú entra na fase final. Foto: Vinicius Alves/PMBC

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O alargamento de praias tem sido adotado por outras cidades brasileiras, como Florianópolis e Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, cuja obra inclui um muro no encontro do rio com o mar. A crise climática tem aumentado os problemas de avanço da maré e erosão costeira.

Por outro lado, especialistas dizem que a estratégia tem vida útil curta e veem riscos para os próximos anos, como a criação de “degraus” na areia e danos à biodiversidade marinha.

O novo projeto de Balneário Camboriú prevê que o calçadão se estenderá ao longo de quase toda a Avenida Atlântica, de 6,6 quilômetros de extensão, mas ainda não foi definido o cronograma completo. A faixa de calçada para o trânsito de pedestres terá largura média de seis metros e iluminação própria, lixeiras, bicicletários e espaço para quiosques.

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A atual faixa com árvores será preservada e ganhará paisagismo. Está prevista também uma ciclofaixa e uma área para exercícios aeróbicos e corridas.

O primeiro trecho do calçadão, com 230 metros, está praticamente pronto e fica na Barra Sul, entre as ruas 4.400 e 4.600. A obra foi executada pela construtora do grupo FG como contrapartida pela construção de dois edifícios vizinhos à praia.

Uma lei municipal prevê a operação urbana consorciada, em que as construtoras investem em transformações urbanísticas nas imediações de seus edifícios, na orla de Balneário Camboriú. No trecho, o investimento é de R$ 13,6 milhões.

Prefeitura diz que obra já estava prevista quando praia foi alargada, em 2021. Foto: Vinicius Alves/PMBC

Conforme Stéphane Domeneghini, engenheira do grupo FG, a reurbanização inclui faixa de corrida e ciclovia e melhora a microbilidade urbana, oferecendo uma experiência mais agradável para ciclistas e pedestres. O projeto é assinado pelo arquiteto Índio da Costa.

“Além de um ambiente todo projetado, com iluminação tecnológica, há foco na sustentabilidade, com o plantio de espécies nativas, gerando um clima acolhedor”, disse, em nota.

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Após a entrega, a manutenção ficará por conta do município. A obra foi dividida em 18 trechos e parte será licitada pela prefeitura.

O primeiro trecho servirá de modelo para os demais, o que permitirá que o projeto seja readequado ao longo das obras. Nas redes sociais, moradores elogiaram a obra.

O vereador Eduardo Zanatta (PT) critica a falta de cronograma e de maior discussão sobre o projeto. “Não houve apresentação do projeto à Câmara. Como o primeiro trecho está sendo feito por uma construtora, imaginamos que o restante também será loteado para a execução por outras empresas. É uma obra problemática, pois é concreto sobre a areia”, disse.

Ele reconhece que, após o alargamento, a praia precisava ser reurbanizada, mas reclama da falta de uma discussão mais ampla.

O IMA informou que o projeto de alimentação artificial da Praia Central de Balneário Camboriú previa, além do alargamento da faixa de areia, revitalizar a orla e construir o calçadão, ciclovia e pista de corrida, além de rampas de acesso à praia e recomposição vegetal.

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Em maio, o instituto concedeu ao município a licença ambiental de instalação, que autorizou o início dos trabalhos. “Dentre as obras de infraestrutura, estão listadas intervenções paisagísticas, com o objetivo inicial de recriar a vegetação típica do litoral, resgatando a faixa de restinga e introduzindo nova arborização com espécies típicas do litoral catarinense”, disse, em nota.

A prefeitura informou que a ideia de fazer um trecho-piloto foi permitir que a população acompanhe a obra e valide as intervenções para que possam ser aplicadas em larga escala nos trechos seguintes, garantindo que as soluções atendam às expectativas da comunidade. “O projeto prevê transformar a orla da Praia Central em um grande parque linear”, disse.

Engorda da praia teve draga e rede de tubos de 2,2 km

O alargamento da Praia Central de Balneário Camboriú foi realizado para aumentar de 25 para 70 metros a faixa de areia. O objetivo, segundo a prefeitura, foi aumentar a proteção da orla contra o avanço das marés, proporcionando mais espaço para o lazer de turistas e moradores.

Embora esse não fosse um objetivo declarado pela prefeitura, a praia mais larga reduziu o sombreamento causado pelos edifícios altos construídos na orla.

As obras tiveram início em março de 2021, com a chegada dos tubos para transportar a areia removida do fundo do mar, por meio de uma draga, até a orla da praia. Uma rede de tubos com 2,2 quilômetros foi instalada levando a areia da draga até o local do engordamento.

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Ao autorizar o alargamento, o Instituto do Meio Ambiente exigiu que fosse recuperada a área de restinga da orla.

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