BRASÍLIA - O presidente Michel Temer apoia a criação do Ministério da Segurança Pública, mas avalia que é difícil adotar a ideia agora por causa das restrições impostas pelo ajuste fiscal. Mesmo assim, dias depois do massacre que deixou pelo menos 93 mortos em presídios do Amazonas e de Roraima, Temer quer incentivar o debate sobre o assunto e vai receber nesta quarta-feira, 11, deputados da "bancada da bala", que lutam para tirar do papel Ministério da Segurança.
Favorável à criação da pasta, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também recebeu nesta terça ogrupo, que compõe a Frente Parlamentar de Segurança. Maia conversou com os deputados no Palácio do Planalto, pois assumiu interinamente a Presidência, após a viagem de Temer a Portugal.
"Pode ser um Ministério da Segurança ou uma secretaria com mais poder do que aquela que existe hoje, na Justiça. Esse assunto precisa ser tratado de forma menos emergencial e mais rotineira, até porque o estrangulamento financeiro dos Estados tem de ser pensado de forma coletiva. O que não se pode é responsabilizar o presidente pela crise no sistema penitenciário", argumentou Maia, que concorre à reeleição.
A ideia de uma pasta para fazer a interlocução com os Estados sobre a questão da segurança e tratar de um sistema mais eficaz de inteligência para combater o crime não é nova. Na campanha de 2010, o então candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, hoje ministro das Relações Exteriores, sugeriu a criação do Ministério da Segurança Pública. Vice na chapa liderada por Dilma Rousseff, Temer chegou a apoiar a proposta, criticada pela petista.
"Esse Plano Nacional de Segurança Pública é perfumaria. Se você quiser alterar um sistema fracassado, falido, tem de botar o dedo na ferida. Não adianta falar que vai comprar equipamentos, porque não vai resolver. A matança vai continuar, porque, enquanto não forem adotadas medidas estruturais contra o crime organizado, não vamos chegar a lugar nenhum", disse o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública.
Além de Fraga, Maia recebeu Capitão Augusto (PR-SP), Aluisio Mendes (PTN-MA) e Major Rocha (PSDB-AC), todos da "bancada da bala". Para eles, o programa anunciado pelo governo, com previsão de investimentos de R$ 2,2 bilhões em 2017, é insuficiente. A reportagem do Estado revelou nesta terça que, para acabar com o déficit atual de 250 mil vagas no sistema penitenciário, seria necessário um investimento de pelo menos R$ 10 bilhões.
O governo tenta investigar se há ligações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com facções criminosas brasileiras e o tráfico de drogas no País.
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