Atualizada dia 6/11 às 14h16
Após o rompimento de duas barragens, na tarde desta quinta-feira, entre Mariana e Ouro Preto, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais afirmou, na manhã desta sexta-feira, 6, que há riscos em outra barragem. De acordo com o assessor de comunicação, major Rubem da Cruz, a corporação monitora uma terceira barragem na cidade de Mariana, que pode ter risco de rompimento.
Em entrevista à Rádio CBN, ele afirmou que uma vistoria foi realizada durante a madrugada e deve-se repetir na manhã desta sexta-feira. Ainda segundo ele, a hipótese de que um abalo sísmico de 2 pontos na escala Richter poderia ter causado os rompimentos está sendo investigada.
O prefeito de Mariana, Duarte Junior (PPS), disse que decretará estado de emergência no município, atingido por uma onda de lama depois que duas barragens da mineradora Samarco estouraram. Em entrevista ao Portal G1, o prefeito afirmou ainda que a prefeitura também alugará casas para os desabrigados.
A Prefeitura da cidade de Mariana divulgou pedido de ajuda nas redes sociais para receber donativos, como roupas, colchões, água mineral, produtos de higiene pessoal, e também, pratos, copos e talheres descartáveis. Os interessados em ajudar devem se dirigir ao Centro de Convenções do município. O governador do Estado, Fernando Pimentel (PT), e o minsitro da Integração Nacional devem chegar ao local na manhã desta sexta-feira.
Tragédia. Duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco romperam-se nesta quinta-feira, 5, por volta das 16h, entre Mariana e Ouro Preto, a 110 km de Belo Horizonte (MG). O distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, foi alagado. O Corpo de Bombeiros de Minas Gerais chegou a confirmar 17 mortes e 75 feridos na quinta-feira, mas na sexta pela manhã reviu os dados e informou que havia um morto e quatro feridos. A previsão dos bombeiros era de que o número de mortes chegasse a 40 - ainda havia desaparecidos e muitas pessoas a resgatar.
A tragédia deve transformar-se na mais grave na área ambiental do Estado. Até uma igreja histórica do século 18 e uma escola de ensino fundamental teriam sido atingidas. “Uma avalanche de lama destruiu casas, escola, igreja, posto de saúde e carros. Muitas famílias estão desalojadas e sem notícias de seus familiares. O resgate é difícil e somente com helicópteros é possível chegas às áreas destruídas”, relatou ao Estado o secretário de Saúde de Mariana, Juliano Duarte. “Muitos desabrigados estão alojados provisoriamente em uma escola. É uma das cenas mais tristes que já vi.”
Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador de Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, a situação é catastrófica. “Ainda não há condições de saber o número total de mortos”, disse. Uma avaliação completa só será possível na manhã desta sexta. O diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, confirmou o rompimento das Barragens de Fundão e Santarém. “O plano de emergência foi acionado e nós estamos dando toda a prioridade ao atendimento das pessoas e ao controle dos danos ambientais. As causas não podem agora ser confirmadas”, disse.
Nesta quinta, após o rompimento, a lama atingiu rapidamente o distrito de Bento Rodrigues, destruindo casas e encobrindo ruas e praças. Os serviços de energia elétrica e água foram afetados - não havia nem sinal de celular. Moradores das regiões de Paracatu e Paracatu de Baixo tiveram de deixar as casas, pois havia risco de serem atingidas pela lama de rejeitos.
Às 23 horas, ainda havia pessoas soterradas, conforme os bombeiros. Famílias estavam concentradas na frente do hospital de Mariana à espera de informações de parentes. Até o fim da noite, apenas os corpos das duas primeiras vítimas resgatadas - dois homens - haviam sido enviados para o Instituto Médico-Legal (IML) de Mariana para reconhecimento.
O bombeiro Adão Severino Junior, do efetivo de Mariana, disse que “a lama desceu como uma grande enxurrada, arrastando tudo, levando porcos, bois, gente e carro”. “Não tinha nada que resistisse. Teve casa que não sobrou parede.” Segundo ele, às 21 horas ainda escorria lama dos pontos altos. “Há gente escondida no mato, tremendo de frio e fome. Nosso pessoal não quer suspender as buscas, pois pode ter gente viva no meio da lama”, disse.
O assessor da prefeitura de Mariana, Douglas Couto, explicou à Rádio Estadão que todo o distrito de Bento Rodrigues foi atingido, mas que ainda não é possível saber a dimensão do desastre. Ele também relata que o local do acidente é de difícil acesso. Ouça:
Três helicópteros dos bombeiros e das Polícias Militar e Civil seguiram para a região. As buscas avançariam pela madrugada e os desalojados estavam sendo levados para um ginásio esportivo de Mariana. Os moradores ainda organizaram um ponto de apoio ali para recolher donativos. Nas cidades de Ouro Preto e Santa Bárbara, voluntários arrecadavam roupas, alimentos e água para as famílias que estão desabrigadas e para auxiliar as equipes de socorro.
Em nota oficial, o governador Fernando Pimentel (PT) afirmou ter recebido com “consternação a informação sobre o rompimento da barragem”. Ele enviou reforços e deverá visitar a região nesta sexta-feira. Já a presidente Dilma Rousseff foi informada do acidente pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e colocou o Exército, o Centro de Desastres e a Força Nacional à disposição para ajudar no socorro. O ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, também deve seguir nesta sexta-feira para Mariana.
Causas. O Ministério Público abriu inquérito para apurar as causas da tragédia. Para a imprensa, o promotor Ferreira Pinto destacou que “nenhuma barragem rompe por acaso, não é uma fatalidade”. A região atingida pelo acidente é alvo de exploração desde o período colonial. O início da alteração da paisagem data do século 18, com intenso desmatamento praticado por mineradoras em busca, principalmente, de ferro.
A análise é da própria Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do governo de Minas Gerais. As informações constam de um relatório oficial elaborado em 2013 pela pasta, que atendeu a um pedido da empresa Samarco para aumentar a capacidade de armazenamento de rejeitos da Barragem do Fundão. A outorga tinha validade de seis anos e previa o aumento da pilha de rejeitos com uma barragem de até 152,5 metros.
A secretaria relata que o desmatamento da região foi intensificado nas últimas décadas. “As matas de grande porte foram fragmentadas e substituídas por plantações de eucalipto”. / COLABORARAM DANIEL BRAMATTI E LUIZ VASSALLO
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.