Bet Esportes da Sorte é suspeita de lavar dinheiro do jogo do bicho, diz polícia; dono é preso

Relatório de investigação identifica indícios de uso do site de apostas para esconder origem do recurso ilícito; defesa do dono da empresa diz ter demonstrado regularidade das atividades

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Foto do author Marco Antônio Carvalho
Atualização:

Um relatório da Polícia Civil de Pernambuco mostra que os investigadores suspeitam que a bet Esportes da Sorte faça a lavagem de dinheiro de origem ilegal oriundo do jogo do bicho no Estado. Essa hipótese tem origem em relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que mostraram indícios diretos de atuação suspeita por parte da empresa.

O proprietário da bet, Darwin Henrique da Silva Filho, foi preso nesta quinta-feira, junto da mulher Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

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O proprietário da bet, Darwin Henrique da Silva Filho, foi preso nesta quinta-feira, junto da mulher, Maria Eduarda Quinto Filizola. A defesa do casal afirma ter demonstrado a “regularidade e a legalidade das atividades profissionais” e diz que foi pedida a revogação das prisões (leia mais abaixo).

A empresa de apostas é um dos alvos da Operação Integration, deflagrada nesta quarta-feira, 4, que também prendeu a influenciadora digital Deolane Bezerra, que diz ser vítima de injustiça.

O relatório da polícia data de 7 de junho de 2023 e embasou um pedido à Justiça para quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas à administração da Esportes da Sorte. Deolane não é citada nesse documento.

Além de Darwin Filho, o relatório também descreve as atividades de Darwin Henrique da Silva (o pai), que teria atuação no jogo do bicho pela Banca Caminho da Sorte, conforme o relatório. Procurada pela reportagem, a defesa de Darwin Silva não foi localizada.

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Os investigadores listam as suspeitas coletadas até aquele momento no relatório, assinado pelo delegado Paulo Gustavo Gondim Borba Correia de Souza.

Apreensão em banca do Recife originou investigação

É descrito que o início da investigação se deu em 1º de dezembro de 2022, quando houve a apreensão de R$ 180,1 mil em espécie na sede da Banca Caminho da Sorte no bairro Afogados, no Recife, “configurando a contravenção penal do jogo do bicho”.

Dinheiro foi apreendido em 2022 na banca Caminho da Sorte, no Recife Foto: Polícia Civil/PE

“Dos documentos apreendidos, destaca-se um caderno com o nome da Rayssa, o qual há anotações diárias das apostas e dos prêmios pagos do jogo do bicho e do futebol (Esportes da Sorte), canhotos de aposta com o timbre da banca Caminho da Sorte e Esportes da Sorte, contabilidade de algumas lojas físicas da Esportes da Sorte, tudo demonstrando a relação umbilical entre as duas modalidades tipificadas como contravenção penal (jogo do bicho e jogo de azar)”, descreve o relatório policial. O documento não identifica quem é Rayssa.

Na banca do bicho, relataram os policiais, havia a opção de apostas em jogos esportivos. No site da Esportes da Sorte, os agentes ressaltam que havia a informação de que é um site operado pelo HSF GAMING N.V, registrado em Curaçao.

“Tal situação é uma burla contra a legislação brasileira, pois o site de apostas afirma que é hospedado em Curaçao, ilha caribenha próxima à Venezuela, pertencente à Holanda, um paraíso fiscal, mas que na verdade a Esportes da Sorte é de Recife, os clientes podem apostar em toda loja física da banca de bicho Caminho da Sorte e o CTO e criador da HSF GAMING N.V, nasceu na capital pernambucana e aqui reside”, acrescentou o relatório.

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A partir daí, os investigadores se aprofundaram sobre o funcionamento da bet. O relatório destaca uma notícia que descreve uma suposta atuação de Darwin Henrique da Silva em Fortaleza, detalhando que ele teria levado à capital cearense uma nova modalidade de jogo do bicho informatizado e aumentou a premiação aos apostadores.

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A apuração então se voltou a relatórios do Coaf sobre CPFs e CNPJs ligados aos alvos centrais e seus parentes. Ao longo de 92 páginas, o delegado descreve operações com indícios de prática de lavagem de dinheiro para dissimular a origem do recurso movimentado pelas empresas.

“A situação tem relevante gravidade e justifica, num primeiro momento, a decretação da medida ora pleiteada (quebra de sigilo fiscal) contra os investigados que integram uma associação criminosa, voltada para a exploração ilegal do jogo do bicho, apostas esportivas, dentre outras sob a categoria de jogos de azar, os quais juntamente com os co-investigados, promoveram, constituíram, financiaram e integraram, pessoalmente e por interpostas pessoas e empresas, organização criminosa e ‘exercem liderança ou posição de destaque na organização’, circunstâncias todas a recomendar, mais uma vez a quebra de sigilo fiscal”, reforçou o delegado Paulo Souza no relatório.

A polícia diz haver ainda indícios suficientes de que o dinheiro “oriundo do jogo do bicho (Caminho da Sorte) e jogos de azar esportivo e cassino (plataforma Esportes da Sorte) esteja sendo lavado nos diversos patrocínios que a plataforma celebrou contrato, ultrapassando a casa das dezenas de milhões de reais, bem como em imóveis e carros de luxo e outras empresas de propriedade dos investigados e pessoas físicas próximas a eles”.

Na Série A do Campeonato Brasileiro, Corinthians, Grêmio, Athletico-PR e Bahia recebem investimentos da empresa. O time feminino do Palmeiras também é patrocinado pela Esportes da Sorte. Além destes, a marca também apoia Ceará, da Série B, Náutico e ABC, da Série C, e Santa Cruz, da Série D. O patrocínio com o Corinthians foi assinado em julho, com um total de R$ 309 milhões por três anos de contrato.

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Os times de futebol não são acusados de crimes. Procurados pela reportagem para comentar a operação contra a patrocinadora, os clubes dizem acompanhar os desdobramentos para entender as investigações (leia mais abaixo).

A documentação apreendida na fase inicial da investigação abriu outras frentes de apuração. Na operação deflagrada na quarta-feira, 4, foram apreendidos, por exemplo, duas aeronaves e dois helicópteros avaliados em R$ 127 milhões; cinco automóveis de luxo avaliados em R$ 24,4 milhões; 37 bolsas femininas de luxo; 16 relógios de luxo. Além disso, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 2,1 bilhões em ativos.

“A ilegalidade da organização está ‘linkada’ com os jogos não autorizados legalmente. As várias células da organização criminosa também operavam no ramo de bets, mas o básico, de origem, a gente ressalta que diz respeito aos jogos não autorizados pela legislação brasileira. As bets eram utilizadas, além de outras empresas, na lavagem do dinheiro oriundo desse ramo ilegal de jogos”, disse na quarta-feira o delegado-geral de Pernambuco, Renato Rocha.

Atividades da Esportes da Sorte são legais, diz defesa

Em nota, o escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão informa que “Darwin Filho e sua esposa se entregaram espontaneamente à polícia civil de Pernambuco hoje pela manhã, já prestaram depoimento e se encontram à disposição das autoridades”.

Todos os questionamentos da polícia, segundo a defesa, “foram devidamente explicados e as dúvidas sobre as atividades da empresa Esporte da Sorte foram sanadas, demonstrando-se a regularidade e a legalidade das atividades profissionais”.

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O escritório impetrou pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de Pernambuco e aguarda a análise do pedido de revogação das prisões.

Em carta aberta divulgada na noite desta quinta, Darwin Filho disse que sempre foi “muito vocal no intuito de contribuir com o debate favorável à regulamentação das apostas esportivas de cota fixa e jogos online no Brasil”.

“Como representante do Esportes da Sorte, sempre colaborei com a atuação das autoridades e das investigações. Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de entretenimento”, escreveu.

“Sigo colaborando com todas as investigações, inclusive ficando surpreso com a ausência de motivos que levaram a uma medida tão rigorosa, quanto a que a mim foi aplicada. Dado que sempre me coloquei à disposição das autoridades. De qualquer forma, irei cumprir os ritos legais e observar todas as nuances jurídicas”, acrescentou Darwin Filho.

A reportagem não conseguiu localizar os responsáveis pela defesa de Darwin Henrique da Silva.

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À reportagem, o Corinthians comunicou que está acompanhando o caso pela imprensa e não tem nada a comentar no momento. O assunto da patrocinadora foi encaminhada para o departamento jurídico do Palmeiras. Procurado, o clube alviverde também afirmou que não vai se manifestar.

Bahia e Grêmio não vão fazer comentários por enquanto e buscam entender a investigação, assim como Náutico e Santa Cruz. ABC e Ceará foram procurados, mas não retornaram a reportagem até a sua publicação.

O Athletico-PR limitou-se a dizer que tomou conhecimento da operação policial e que “buscará a completa apuração dos fatos junto à empresa e às autoridades antes de qualquer posicionamento”. /COLABORARAM BRUNO ACCORSI, ISABELA MOYA, FABIO GRELLET E MURILLO CÉSAR ALVES

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