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Por que Vélez ainda está lá?

Técnicos brigam com olavistas, que brigam com militares, que brigam com evangélicos....Disputas para todos os gostos no MEC e anúncios polêmicos não foram suficientes (ainda) para tirar o ministro da Educação do poder

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Foto do author Renata Cafardo

Caro leitor,

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Você deve estar se perguntado por que o ministro da Educação ainda está no cargo. Há mais de 20 dias, Ricardo Vélez Rodríguez mostra seu enfraquecimento para quem quiser ver. O estopim foi um pouco antes, em 25 de fevereiro, quando o Estado revelou que o ministro havia mandado um e-mail para todas as escolas do País pedindo que o slogan da campanha de Jair Bolsonaro fosse lido e que as crianças fossem filmadas cantando o Hino Nacional. A história exacerbou uma disputa que começara já nos primeiros dias da gestão entre diversos grupos (já se falou em três, quatro e até cinco) no Ministério de Educação (MEC).

Há a turma dos seguidores do professor de filosofia pela internet Olavo de Carvalho, guru dos bolsonaristas. Eles são os principais rivais do chamado grupo técnico, que veio principalmente do Centro Paula Souza, órgão do governo de São Paulo que administra as faculdade de tecnologia e escolas técnicas. O grande representante dos paulistas era Luiz Antonio Tozi, que encabeçou um choque de gestão no MEC e tentou colocar freio na ânsia ideológica de “olavistas”, mas acabou demitido poucos dias depois a pedido do presidente. Foi chamado de "tucano". Bolsonaro ouviu conselho do próprio Olavo, que lá dos Estados Unidos xingou muito e pediu a cabeça de Tozi depois que alguns de seus ex-alunos haviam sido colocados pra fora.

Há também os militares, que se dividem entre dois grupos, o que confunde ainda mais. O presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Marcus Vinícius Rodrigues, e o do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Carlos Decotelli, participaram do grupo que fez a transição no MEC e reunia militares da reserva. Eles trouxeram seus homens de confiança para os dois órgãos e trabalham independentente do que acha o ministro.

Já o coronel Ricardo Roquetti é do grupo dos militares da ativa e chegou indicado pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). Aproximou-se rapidamente de Vélez - se conheciam do passado na Escola Superior do Exército - e deixou “olavistas” enciumados. Roquetti tentou blindar Vélez das influências dos "olavistas" e também foi vítima do filósofo da Virgínia. Vélez teve de demiti-lo. E, por último, há os evangélicos, que em geral jogam no time dos técnicos. A última baixa foi justamente dessa turma, com a saída de Iolene Silva, evangélica que havia sido anunciada para secretária executiva pelo ministro, mas não agradou ao Planalto - e nem à bancada evangélica. 

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O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez Foto: ERNESTO RODRIGUES/ESTADÃO

Em meio a tantas disputas e com um ministro que pode cair a qualquer momento, é impossível que as coisas andem no MEC. Como mostrei na minha coluna, editais não estão sendo assinados, políticas não são finalizadas. Poucas medidas surgiram até agora, todas polêmicas. A minuta de um decreto sobre alfabetização foi criticada ao dar preferência ao método fônico para ensinar crianças a ler e escrever no País, revelada pelo Estado antes que o governo divulgasse oficialmente. Especialistas disseram que é uma forma antiga e muito tecnicista de ensinar. Em seguida, o Inep criou uma comissão de três pessoas para analisar se as questões do Enem ofendem "tradições ou costumes nacionais”. Ministério Público Federal e partidos de oposição já pedem explicações do órgão, acusado de ‘abuso de poder’ e de instaurar censura no maior vestibular do País.

O Inep também decidiu que não vai mais avaliar este ano a alfabetização das crianças, medida também noticiada com exclusividade no blog, causou grande polêmica e mostrou mais uma vez as disputas dentro do MEC. Integrantes da ala técnica do ministério foram surpreendidos com a informação. Pelo contrário, vinham garantindo em eventos na comunidade educacional que nada mudaria nas provas nacionais.

O que se diz é que Vélez segue sentado na sua cadeira no 8º andar do ministério porque o governo não encontrou ainda um substituto com bom perfil, mas que também ajude a aprovar a reforma da Previdência. Como o Estado revelou, não pode sequer nomear mais ninguém para sua equipe. Evangélicos tentaram indicar nomes, "olavistas" também, e militares correm por fora. Cada dia surge um nome novo, não há consenso no Planalto. E a educação segue em ponto morto.