Brasil registra um estupro a cada dez minutos em 2021; total chega a 56 mil no ano

Dados reunidos pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública foram divulgados nesta segunda-feira. Número é 3,7% maior na comparação com 2020. 'Existe uma subnotificação imensa e o que conseguimos ver é a ponta do iceberg', aponta especialista

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O Brasil registrou 56.098 estupros de mulheres ao longo de 2021, de acordo com dados divulgados nesta segunda-feira, 7, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O número do ano passado é 3,7% maior em relação ao ano anterior e equivale a um caso a cada dez minutos no País. 

Os dados foram extraídos dos boletins de ocorrência das Polícias Civis das 27 unidades da federação e mostram que durante a pandemia de covid-19 (entre março de 2020 e dezembro de 2021) houve um aumento significativo dos casos de violência sexual contra meninas e mulheres, chegando a um total de 100.398 registros.

Denúncias em São Paulo podem ser feitas online ou registradas também em delegacias da Mulher Foto: Alexandre Carvalho/A2img/Governo de São Paulo

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"Existe uma subnotificação imensa e o que conseguimos ver é a ponta do iceberg. A gente já imaginava que a pandemia faria crescer a violência contra a mulher, porque isso ocorreu em outros países, e também tem uma vasta literatura que mostra que em momentos de crise existe aumento da violência contra a mulher", explica Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Ela lembra que o isolamento social contribuiu para o crescimento dessa violência e que um grande problema é que não é possível ter noção dos números reais, porque geralmente a vítima está em confinamento com o agressor e isso torna mais complicada a denúncia. Até por isso, a especialista acredita que o número possa ser até cinco vezes maior, algo acima de meio milhão de casos de violência sexual.

"A maior parte dos estupros são em crianças e adolescentes, ou seja, até 13 anos. A pandemia confinou essas pessoas em casa e elas ficaram sem escola, então não tinha nem acesso a um profissional da educação que poderia perceber que ela estava sofrendo algum tipo de violência. Acredito que esse número de 100 mil casos pode ser cinco vezes maior", desabafa.

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Como o levantamento foi feito para o Dia Internacional da Mulher, os dados não incluem estupros de pessoas do sexo masculino, incluindo meninos. Samira reforça que parte desses números se referem a crianças de até 9 anos, dando a dimensão do tamanho da violência sofrida no Brasil.

"O principal é a gente pensar no acolhimento dessas meninas e mulheres que sofreram violência. A gente sempre pensa na punição dos autores, mas também precisamos ter um atendimento multidisciplinar para essas pessoas que sofreram violência. O que o Estado fez com essas meninas e mulheres que denunciaram? Que acompanhamento está sendo ofertado? Temos casos horrorosos recentes", diz.

Com o retorno das aulas presenciais após um período longo de pandemia, os profissionais das escolas terão um papel fundamental na prevenção e na constatação de possíveis casos de violência sexual. "A escola já contribui muito, tem um papel crucial no ponto de vista da prevenção, na discussão sobre educação sexual. A gente tem estudos que mostram que boa parte desses casos é identificada por algum profissional dentro da escola", afirma.

País registra 2,4 mil feminicídios durante a pandemia

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou também que 2.451 mulheres foram assassinadas pela sua condição de mulher desde o início da pandemia, em março de 2020. Os dados preliminares indicam 1.319 feminicídios em 2021, com uma diminuição de 2,4% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, os especialistas apontam que é um número bem alto e que continua exigindo atenção das autoridades.

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"Os dados divulgados apontam para a urgência de implementação de políticas públicas de acolhimento, prevenção e enfrentamento à violência contra meninas e mulheres no Brasil. Apesar do leve recuo na incidência de feminicídios, os números permanecem muito elevados, assim como os registros de violência sexual", diz Samira.

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Em 2021, São Paulo registrou queda de 24% nos feminicídios e isso puxou a taxa nacional para baixo segundo o levantamento. Já o Estado do Tocantins teve um aumento de 144% de casos no período. "É cedo para tirar conclusões. Precisamos desconfiar dos lugares onde a redução foi muito expressiva, pois pode ter problema de registro de informação", diz Samira.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que, desde o início da atual gestão, tem intensificado as ações de combate à violência contra a mulher para reduzir essa prática e a subnotificação dos crimes. "Inclusive com campanhas para estimular a denúncia contra os agressores. Para acolher as vítimas desses crimes, estimular as denúncias e facilitar o registro das ocorrências, o número de DDM 24 horas foi ampliado de uma para 11 e foi criada a DDM Online, que permite o registro de crimes dessa natureza sem sair de casa", disse. 

A SSP-SP avisa que todas as delegacias paulistas são aptas a registrar casos dessa natureza, com profissionais devidamente capacitados e orientados que seguem o Protocolo Único de Atendimento. "Para mulheres com medida protetiva, há o SOS Mulher, aplicativo que prioriza o atendimento à essas vítimas, deslocando as equipes policiais mais próximas ao local da ocorrência. Essas políticas permitiram uma redução de 26% no número de feminicídios ao longo dos últimos dois anos no Estado. Em janeiro deste ano, o número de casos de estupro também caiu em todo o Estado. Uma diminuição de 20,7% na comparação com o mesmo período do ano anterior."