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Brasil tem 64 roubos ou furtos de carros e motos por hora, diz IBGE

No ano passado, foram 564 mil veículos alvo de crimes; após queda de crimes patrimoniais na pandemia, País tem visto alta desse tipo de ocorrência

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

Mais de meio milhão de veículos (564 mil) foram furtados ou roubados no Brasil ao longo de 2021, segundo estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – isso equivale a um quinto do que foi produzido no ano passado. São 64 carros e motos subtraídos por hora no País. É a primeira vez que o instituto coleta e divulga dados sobre os crimes dessa forma. O objetivo é medir também a violência que não é comunicada à polícia.

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Dados de ocorrência de furto e roubo são compilados pelas secretarias estaduais de Segurança Pública. Mas historicamente não há um balanço nacional sobre esse tipo de violência. Tradicionalmente, quem faz essa compilação é o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma entidade privada, com base em registros policiais.

Desta vez, as equipes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, com apoio do Ministério da Justiça, investigou a ocorrência de roubos e furtos, Os dados foram apurados junto a moradores de 15 anos ou mais, nos 12 meses anteriores à data da entrevista. Mostram que, em 2021, 4,4 milhões de domicílios brasileiros tinham ao menos um morador que tinha sido vítima de furto (4% do total de domicílios do País) ou roubo (2%).

Cheguei à conclusão que, com moto grande, não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’ vai ser roubada  Foto: MARCELO CHELLO / ESTADAO

Foram 342 mil furtos de veículos (192 mil carros e 150 mil motos) e 222 mil roubos (117 mil carros e 105 mil motos). Conforme a definição do IBGE, “enquanto o furto se caracteriza pela ausência de violência ou ameaça à vítima, o roubo é definido pela sua presença, seja com ou sem o uso de armas”.

Segundo o coordenador do Laboratório de Análise da Violência (LAV-UERJ), Doriam Borges, o número de roubos e furtos de veículos vinha caindo desde 2017 e, com a pandemia, sofreu uma queda ainda mais significativa, devido sobretudo à alteração das rotinas. Agora, como mostram os novos números, voltaram a subir.

“Este aumento está ligado, claro, à volta da maior circulação de pessoas nas ruas, mas existe também uma questão econômica”, afirma o especialista. “O desemprego elevado e o alto valor da cesta básica tem influenciado a dinâmica da criminalidade, uma vez que as classes menos favorecidas estão sem recursos.”

A pesquisa mostrou que o uso de arma, não necessariamente de fogo, foi maior nos roubos de veículos, como carro (95%) e moto (86,2%). No roubo de bens fora do domicílio, o uso de arma ficou acima de 80%, enquanto nos roubos de domicílio e bicicleta, os porcentuais foram menores, 60,5% e 63,3% respectivamente.

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Professor teve duas motos roubadas em um ano

Foi o caso do professor João Marcelo Brás, que teve duas motos novas roubadas num intervalo de apenas um ano. Nas duas vezes, houve uso de arma de fogo.

“Foram duas motos em seguida, ambas novas... Depois disso, desisti de ter moto”, contou ele. “Numa das vezes estava na rua e fui cercado por outra moto, da outra vez, estava chegando em casa e seguraram o portão automático.”

Brás agora usa uma scooter.

“A moto é uma necessidade para que eu consiga cumprir os meus compromissos, não dá para ficar um dia sem. Às vezes eu tenho que sair às 18h de uma universidade e para ir para outra sala de aula, do outro lado da cidade. Ou seja, tenho que atravessar São Paulo em 45 minutos”, explicou. “Agora estou usando uma scooter, que seria menos visada.... Mesmo assim, recentemente, houve uma tentativa de furto.”

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A grande maioria das pessoas que tiveram veículo furtado ou roubado (entre 80% e 91%) deu queixa à polícia ou à Guarda Municipal. Entre os que preferiram não registrar a ocorrência, as principais alegações foram “falta de provas”, “pouca confiança no trabalho da polícia”, “medo de represálias”, entre outros.

Com João Marcelo Brás não foi diferente.

“Da primeira vez, a moto nem foi achada. Da segunda, acharam e chegaram a prender um sujeito uma semana depois do roubo; o que foi outra dor de cabeça porque expõe demais a gente”, contou. “Acabei vendendo a moto. Cheguei à conclusão que, com moto grande, não é uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’ vai ser roubada. É uma tensão constante, andar sempre em fuga, sempre suspeitando de tudo. Não vale o risco.”

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Após uma queda de crimes patrimoniais durante a fase mais aguda da pandemia, quando governos locais impuseram isolamento e distanciamento social para frear o avanço da covid-19, vários Estados têm visto um aumento de roubos e furtos nos últimos meses.

A alta de roubos e furtos de veículos, incluindo bicicletas, tem causado prejuízos às seguradoras e dificultado o fechamento de novos contratos para a oferta de proteção financeira contra esse tipo de crime.

Ao todo, segundo o IBGE, 1,8 milhão de pessoas foi vítima de algum tipo de roubo em 2021. A maior parte das vítimas sofreu roubo de bens fora do domicílio (67,8%), seguido de roubo do próprio domicílio (23%).

O roubo de veículos e bicicletas vitimou uma proporção bem menor de pessoas, 12,4% e 3,0% respectivamente. Uma pessoa pode ter sido vítima de mais de um tipo de roubo no período de 12 meses anterior à entrevista.

Outros itens muito citados em roubos fora de casa foram telefone celular (83,7%), dinheiro (36,3%), documentos (23,4%), cartão de débito ou crédito ou cheque (18,5%) e jóias, bijuterias e relógios (10%).

Já dentro de casa, os bens mais roubados são telefone celular (64%), dinheiro (31,2%), jóia, bijuteria ou relógio (19,2%), cartão de débito ou crédito ou cheque (14,9%), roupa ou calçado (12,2%) e computador ou tablet (7,9%).

“A pesquisa é um relato preciso de um cenário que todos, infelizmente, percebemos: a crise da segurança pública”, afirma o coordenador de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança, David Marques.

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“1,8 milhão de pessoas vítimas de roubo é um número altíssimo; e, dentre os que não procuraram a polícia, 27% não o fizeram por não acreditar numa resposta. Enquanto a segurança pública não for concebida como um direito fundamental, ela segue sendo um óbice à cidadania.”

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