Governo retoma exigência de visto para turistas dos Estados Unidos, Austrália, Canadá e Japão

Regra foi alterada pelo então presidente Jair Bolsonaro em 2019; na época, a proposta era dobrar o número de turistas no País

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Por Beatriz Bulla e Caio Possati
Atualização:

O Itamaraty encaminhou às embaixadas da Austrália, Canadá, Estados Unidos e Japão informação de que vai retomar o princípio de reciprocidade diplomática. Isso significa que, assim como esses países exigem vistos de cidadãos brasileiros no processo de entrada, cidadãos dessas quatro nações terão de apresentar o mesmo documento ao desembarcarem no Brasil.

Governo alegou princípio da reciprocidade para exigir visto novamente dos americanos Foto: Marko Djurica/Reuters

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A retomada da exigência passa a valer em 1º de outubro. Em março de 2019, o então presidente Jair Bolsonaro formalizou a dispensa do visto para turistas australianos, canadenses, americanos e japoneses. A medida foi tomada após encontro com o republicano Donald Trump, que estava à frente da Casa Branca.

Na época, a justificativa era aumentar a presença de turistas no Brasil - elevar o patamar de visitas de 6,7 milhões para 12 milhões ao ano até o ano passado. A expectativa, por óbvio, não levava em conta a pandemia da covid-19, que interrompeu o turismo por pelo menos dois anos.

Após a divulgação da medida na imprensa, Bolsonaro reagiu nas redes sociais. “Menos empregos e desestímulo ao setor hoteleiro”, escreveu o ex-presidente.

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Para Gustavo Mônaco, professor de direito internacional da USP e do Mackenzie, o governo brasileiro tomou uma atitude adequada considerando que os outros estados - Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália - não trataram o Brasil com reciprocidade quando o País liberou a exigência do visto para as quatro nações.

“Princípio da reciprocidade é um princípio basilar do direito internacional. Os estados são soberanos e possuem, entre si, relações coordenadas, ou seja, não se subordinam um ao outro”, disse o professor. “Um estado precisa tratar o outro da mesma forma que o outro lhe trata. Tratamento igual para situações iguais”, explicou.

O setor de turismo brasileiro reagiu contrário à medida. Marina Figueiredo, vice-presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), definiu a nova regra como “um grande retrocesso”. “Estamos dando passos enormes para trás. Quando a gente fala de receber os turistas, a gente precisa criar um ambiente que facilite que as pessoas venham para o país, e não fechar as portas ainda mais”.

Ela entende que turismo nacional já sofre por problemas, como a segurança pública, que tornam o Brasil um destino menos atraente para os estrangeiros. “Turismo não é só hotel e transporte, mas toda uma cadeia de serviços que pode ser prejudicada com a exigência dos vistos. Inclusive o turismo interno”, afirma.

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Wilson Luis Pinto, presidente Executivo da Confederação Nacional do Turismo (Cntur), também afirma que a entidade “não viu com bons olhos” a medida, e reconhece que o turismo vai sentir os impactos da mudança. Porém, ele pondera e acredita que o Brasil não deixará de ser uma opção para os viajantes de fora. “Quem decidiu que quer vir para cá, vai vir”, afirmou.

O presidente da Cntur diz acreditar que governo brasileiro tomou uma medida calculada, com base em dados, e ciente das perdas e dos ganhos com a nova determinação: “No fim, o mais interessado em se beneficiar é o Governo Federal”, disse. E acrescentou ainda que é importante considerar também o princípio de reciprocidade. “Eu, como brasileiro, não acho justo passar meses na fila, pagar uma taxa para ter um visto, e o americano poder comprar uma passagem e vir para o Brasil”.

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