Brasileiros protestam contra xenofobia na Universidade de Lisboa

Em reunião estudantil, em 20 de abril, aluno português ofendeu brasileiros chamando-os de ‘burros’

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Por Luciana Alvarez
Atualização:

LISBOA - Cerca de 50 estudantes brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa se reuniram na tarde desta terça-feira, 16, para protestar contra a xenofobia de um colega e também o que consideram a falta de ação dos grupos estudantis e da própria administração da faculdade. Durante uma reunião estudantil em 20 de abril, um aluno português teria criticado estudantes brasileiros chamando-os de “burros” e dizendo que “mereciam levar com uma pedra”, em referência a um caso de 2019, quando um grupo satírico de alunos portugueses ofereceu pedras para serem atiradas contra brasileiros. Apesar da repercussão à época, ninguém foi punido.

O imbróglio atual começou durante uma Reunião Geral dos Estudantes, enquanto um grupo de brasileiros estava redigindo uma carta para ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegaria à capital portuguesa no dia 22 de abril. O português Hélder Semedo teria passado a ofender os redatores do documento. “Ele disse que a gente queria só fomentar xenofobia relembrando essa “brincadeira”. Foi horrível ouvir ele dizendo que foi uma brincadeira”, contou a brasileira Clara Chagas, estudantes de mestrado e uma das organizadoras do ato desta terça. O texto da carta a Lula citava o episódio de 2019.

Estudantes brasileiros da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa protestaram contra a xenofobia Foto: Luciana Alvarez/ESTADÃO

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Além da fala de Semedo, os brasileiros reclamaram que as ofensas ficaram inicialmente fora da ata da reunião, o que dificultaria a responsabilização do colega. Eles conseguiram organizar mais uma Reunião Geral e retificaram o documento. No registro oficial agora consta que Semedo teria pedido a palavra e ironizado o conteúdo da carta dizendo: “Lula, é só para dizer que Portugal é um país péssimo, que somos super maltratados e mesmo assim somos tão burros que continuamos a ir para lá”. Teria dito ainda que “as pessoas que escreveram isto acho que de facto mereciam levar com uma pedra”.

Apenas na sexta-feira, dia 12 de maio, a UL anunciou ter aberto um processo disciplinar para investigar o ocorrido. Procurada pela reportagem sobre as razões da demora, a universidade não respondeu.

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Semedo, que também exerce um cargo eletivo de conselheiro na Universidade de Lisboa, reafirmou à reportagem que considera o ato de 2019 “uma brincadeira de mau gosto”, mas garantiu que suas críticas foram apenas à carta ao Lula em si, não às pessoas. “Houve uma extrapolação daquilo que disse”, afirmou. Também disse sentir-se injustiçado por ser considerado xenófobo. “Tenho família em Angola, em Cabo Verde, e minhas tias são brasileiras”, contou.

Recentemente, a Faculdade de Direito tem lidado com uma série de denúncias de más condutas também por parte dos professores. No ano passado foi criada uma ouvidoria que, em menos de duas semanas, registrou 50 denúncias contra docentes, sobretudo casos de assédio moral e sexual. Mas houve cinco de xenofobia - tanto contra brasileiros, como contra estudantes de países africanos de língua oficial portuguesa.

A xenofobia em Portugal não está restrita ao ambiente acadêmico. De 2021 a 2022, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial apontou um aumento de 505% nas denúncias de xenofobia contra brasileiros. O fenômeno se dá num momento em que a quantidade de imigrantes vindos do Brasil cresce em Portugal. Em 2022, o número de estrangeiros subiu no país pelo sétimo ano consecutivo, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. A comunidade que mais cresce é a brasileira, com um aumento de 21% em 2022 em relação ao ano anterior.

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