Brasileiros são presos e acusados de esquema de tráfico de pessoas nos EUA

Chelbe Willams, o irmão - Jesse James Moraes, e o sobrinho - Hugo Giovanni Moraes, são investigados pela Procuradoria do Distrito de Massachusetts

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Por Redação
Atualização:

Três brasileiros estão presos nos Estados Unidos, acusados de participar de um esquema de tráfico de pessoas, segundo a polícia americana. Dois deles, pai e filho, foram presos numa operação nesta terça-feira, 4, no estado de Massachusetts. Jesse James Moraes, de 64 anos, e seu filho Hugo Giovani Moraes, de 42, eram proprietários de restaurantes conhecidos na cidade de Woburn.

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Outro suspeito, Marcos Chacon, de 29 anos, que havia sido preso no dia anterior, é acusado de transferir documentos de identificação falsos. A polícia americana pediu também a prisão de Chelbe Williams Moraes, que vive em Minas Gerais, no Brasil, e é irmão de Jesse Moraes. Chelbe é apontado como o chefe do esquema – a defesa dele nega sua participação em tráfico de pessoas.

As prisões acontecem em um momento em que o Serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos registra aumento na migração ilegal provinda do Brasil. Em 2021, houve um recorde histórico na apreensão de brasileiros tentando entrar ilegalmente no país. Foram apreendidas 75.945 pessoas nessa condição. No ano anterior, tinham sido 46.280, sendo que em 2019 foram 17.938 apreensões e, em 2018, pouco mais de 1.800.

Este ano, o total de brasileiros recolhidos na fronteira chegou a 31.462 até o final de agosto, mês em que foram registradas 6.129 apreensões, segundo o serviço americano. Nos últimos anos, o Brasil tem oscilado entre o sexto e o décimo lugar entre os países que mais têm habitantes tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

O sonho de fazer a vida em território norte-americano abastece de vítimas uma rede de organizações criminosas que se dedicam a aliciar e explorar esses brasileiros, como a quadrilha presa nos Estados Unidos.

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A operação foi conduzida pelo Departamento de Imigração e Alfândega (ICE) que já vinha monitorando os brasileiros. Pai e filho são donos dos restaurantes Tudo na Brasa e The Dog House, em Woburn. Os agentes realizaram buscas nos dois estabelecimentos. Jesse James e Hugo passaram por audiência em um tribunal federal e ficaram presos.

De acordo com a procuradora federal Rachael Rollins, os dois homens e Chelbe cobravam em média US$ 20 mil – cerca de R$ 104 mil – para conseguir a entrada clandestina de brasileiros no país. “Uma vez que os indivíduos estavam nos Estados Unidos, Jesse Moraes e Hugo Moraes supostamente os empregavam em seus restaurantes em Woburn, retendo seus salários para pagar suas dívidas de contrabando”, disse. Segundo ela, a quadrilha oferecia documentos falsos aos brasileiros contrabandeados para que eles pedissem asilos ou obtivessem autorização de trabalho.

Chelbe, que já responde a processos no Brasil, também é acusado nos Estados Unidos de conspirar para induzir um estrangeiro a entrar e residir naquele país com fins de ganhos financeiros, além de lavagem de dinheiro. Caso sejam condenados, os brasileiros podem pegar até 10 anos de prisão, além de multas.

Em 2021, Chelbe foi preso no Paraguai, suspeito de ter fugido do Brasil com sua filha pequena, após perder a guarda da criança para a mãe dela, sua ex-companheira. O suspeito foi entregue às autoridades brasileiras. Ele já era investigado pela Polícia Federal por suspeita de aliciar brasileiros para entrar nos Estados Unidos sem visto, através da fronteira com o México.

Na época, Chelbe Moraes alegou que dirigia uma consultoria legalizada para orientar as pessoas que desejavam migrar para a América do Norte. A PF obteve autorização para realizar escutas telefônicas e obteve indícios de que ele operava como contrabandista de pessoas, aliciando brasileiros para “coiotes” mexicanos.

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Conforme a investigação, Chelbe orientava seus clientes a se passarem por turistas na chegada ao México, país que não exige visto de brasileiros. Em muitos casos eles eram obrigados a pagar propina para funcionários da imigração mexicana. Em seguida, eles eram levados para o norte onde passavam pela fronteira com a ajuda de coiotes mexicanos.

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Uma vez naquele país, o suspeito e os familiares providenciavam documentos falsos para os pedidos de asilo. Pessoas que comprovam perseguição por raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política em seu país podem obter asilo nos Estados Unidos. Enquanto o processo tramita, eles conseguem permanecer no país.

A Embaixada dos Estados Unidos no Brasil acompanha as ações da polícia brasileira contra as organizações criminosas para o tráfico de pessoas. Em 2021, segundo relatório da embaixada, as autoridades brasileiras reportaram terem iniciado 285 investigações de tráfico de pessoas, incluindo o tráfico sexual, contra 206 iniciadas em 2020. Já em 2019, foram abertas 2019 investigações.

Em 31 de agosto deste ano, a PF autuou em colaboração com o Serviço de Imigração americano para combater uma organização criminosa que especializada na prática do crime de promoção da migração ilegal, com sede em São Raimundo das Mangabeiras, no Maranhão. Duas pessoas foram presas e outras quatro são investigadas.

O grupo cobrava grandes quantias de dinheiro para introduzir as vítimas em território americano. A maioria das vítimas acabava presa, mas aquelas que conseguiam permanecer nos Estados Unidos eram submetidas a trabalho análogo à escravidão para pagar o restante da dívida.

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No último dia 28, a PF cumpriu dez mandados de busca e apreensão contra uma organização criminosa que promovia a entrada ilegal de brasileiros nos Estados Unidos, usando os serviços de ‘coiotes’ mexicanos. Estabelecida em Rondônia, a quadrilha tinha ramificações em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O líder da organização foi preso em Porto Velho (RO).

O advogado de imigração Felipe Alexandre, da AG Immigration, disse que os números mostram que, em 2021, houve forte crescimento na quantidade de brasileiros tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos, mas ainda não é possível dizer que é algo permanente. Ele lembrou que muitas pessoas que recorrem ao expediente ilegal, ou tiveram o visto negado ou não se qualificam para obter o ‘green card’.

Independentemente do motivo, segundo ele, é importante alertar que a travessia ilegal da fronteira é extremamente perigosa e acaba saindo mais caro do que um processo regular de obtenção do visto. Os relatos dão conta de que muitos brasileiros, quando são apanhados pelas autoridades, acham que têm direito a entrar nos Estados Unidos porque pagaram para os traficantes de pessoas. O advogado alerta que a pessoa que entra ilegalmente está sempre sujeita a ser deportada, além de não ter acesso a serviços que são oferecidos ao imigrante regular.

O brasileiro Chelbe Willams Moraes escreve em documento ao ser expulso do Paraguai. Foto: Arquivo/Cedida pela Diretoria Geral de Migração do Paraguai/via REUTERS Foto: Arquivo/Cedida pela Diretoria Geral de Migração do Paraguai/via REUTERS

Deixada para trás

Em setembro de 2021, a brasileira Lenilda dos Santos, de 49 anos, foi encontrada morta depois de ser abandonada pelo ‘coiote’ quando tentava cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos. A técnica de enfermagem estava extremamente exausta e não conseguia acompanhar o grupo que a acompanhava o ‘coiote’, por isso foi deixada para trás, sem água e sem comida, em pleno deserto. O corpo foi encontrado por agentes de fronteira.

A família de Lenilda, que mora em Ouro Preto do Oeste, interior de Rondônia, se mobilizou em campanhas pelas redes sociais para conseguir o dinheiro para o translado do corpo. Conforme familiares, a técnica de enfermagem já havia morado nos Estados Unidos dez anos atrás e chegou a ficar detida por três meses como imigrante ilegal, até ser deportada para o Brasil.

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No final de agosto do ano passado, ela decidiu voltar para aquele país, dessa vez com a ajuda de um ‘coiote’ e na companhia de três amigos de infância. Em mensagens trocadas com os familiares, ela contou que estava no deserto, muito cansada, mas com esperança de começar uma nova vida do outro lado da fronteira.

Defesa nega

Procurado pela reportagem, o advogado de Chelbe Moraes, Erlon Fernando Cruz, disse “no momento oportuno a defesa vai provar que não há elementos que evidenciem qualquer prática de crime pelo sr. Chelbe”. No último dia 30, o advogado entrou com habeas-corpus – ação para garantir a liberdade em caso de prisão injusta – perante o Tribunal de Justiça de Minas Gerais. O pedido ainda não foi julgado. O defensor disse que, em nome do sigilo profissional, não poderia confirmar se Chelbe está preso ou em liberdade.

A reportagem não conseguiu contato com os defensores dos outros suspeitos, presos nos Estados Unidos.

O Ministério das Relações Exteriores, por meio do Consulado-Geral em Boston, informou ter conhecimento da prisão dos brasileiros e se encontra à disposição para prestar a assistência cabível aos nacionais brasileiros, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local. “O Itamaraty vem procurando sensibilizar o público para os riscos envolvidos nas tentativas de ingresso irregular nos EUA. Alertas têm sido publicados no Portal Consular e veiculados nas mídias sociais do Ministério”, disse, em nota.

Informou ainda que a pasta elaborou cartilha intitulada “Riscos da Imigração Irregular para os Estados Unidos e México”, divulgada com o auxílio da Polícia Federal e de governos estaduais.

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A cartilha relata casos recentes de pessoas que perderam a vida na tentativa de entrar nos Estados Unidos, entre eles o caso da técnica de enfermagem de Rondônia. Os outros casos são de um casal que se afogou ao atravessar um canal, na fronteira, em março de 2021; outra mulher morta após ser abandonada pelos ‘coiotes’ em junho de 2021; um adolescente achado desacordado no deserto que morreu após ser socorrido de helicóptero, e um menino achado morto na região árida. Uma criança de 4 anos, abandonada no deserto, foi socorrida e sobreviveu, mas ficou vários meses detida.