Braskem: peritos de Brumadinho e Mariana vão avaliar se havia segurança nas minas a pedido da PF

Empresa foi alvo de operação da Polícia Federal que investiga atividades que levaram ao afundamento do solo na capital alagoana; companhia diz que está à disposição das autoridades

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Por Géssika Costa
Atualização:

A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, 21, operação que investiga a Braskem por sua operação nas minas de extração do sal-gema em Maceió. O objetivo é apurar se havia insegurança na atividade econômica, que foi desenvolvida na capital alagoana entre 1976 e 2019 e causou o afundamento do solo, segundo o Serviço Geológico Brasileiro. Aproximadamente 40 mil moradores de cinco bairros tiveram de ser removidos por causa do problema.

No bairro do Bebedouro, perto das minas da Braskem, moradores foram retirados por causa do risco do afundamento do solo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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A operação envolve o cumprimento de 14 mandados judiciais de busca e apreensão, dos quais 11 em Maceió, dois no Rio de Janeiro e um em Aracaju. Não foram divulgados os nomes nem os locais alvo da operação e o processo corre em segredo de Justiça.

A empresa diz que está à disposição das autoridades e afirma que vai colaborar com a investigação. Segundo a PF, técnicos que atuaram na avaliação dos rompimentos das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), em Minas Gerais, vão colaborar na investigação.

De acordo as investigações, há indícios de que as atividades de mineração desenvolvidas no local não seguiram os parâmetros de segurança previstos. Esses parâmetros visavam a garantir a estabilidade das minas e a segurança da população que residia na superfície. A Braskem, por sua vez, tem afirmado que não havia sinais de problema na área até cinco anos atrás, quando apareceram as primeiras rachaduras.

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Além disso, a PF diz que foram identificados indícios de apresentação de dados falsos e omissão de informações relevantes aos órgãos públicos responsáveis pela fiscalização da atividade. Os investigadores, porém, não detalharam quais eram esses elementos.

“A gente quer entender o que de fato aconteceu dentro da cadeia de comando da empresa”, afirmou o delegado Marcelo Franca, que está à frente da investigação “Para isso, conseguimos apreender documentos e aparelhos eletrônicos que irão subsidiar as conclusões do nosso trabalho”, disse.

Empresa diz colaborar com as autoridades

‘’A Braskem está acompanhando a operação da PF nesta manhã e informa que está à disposição das autoridades, como sempre atuou. Todas as informações serão prestadas no transcorrer do processo”, informou a empresa pela manhã, em nota. A empresa diz que, por se tratar de inquérito que corre em sigilo, não pode se manifestar sobre detalhes das investigações em curso.

Como mostrou o Estadão no início do mês, pesquisadores de Alagoas apontavam desde 2010 em publicações científicas os riscos ligados à operação da Braskem na região. Questionada pela reportagem, a empresa afirmou que o monitoramento não apontava problemas até 2018.

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“Antes de 2018, não existiam indicativos de trincas ou rachaduras sobre as quais houvesse suspeita de relação com a atividade de extração de sal. De acordo com os estudos técnicos realizados nos últimos quatro anos, conduzidos por diversos especialistas nacionais e internacionais das diferentes áreas das Geociências, foi evidenciado que a subsidência é complexa”, diz a Braskem.

“Ao tomar ciência em 2019 de que a subsidência estava acontecendo na região, a companhia interrompeu definitivamente a extração de sal-gema nessa região e iniciou as ações para mitigação de riscos e reparações”, acrescenta a companhia.

Em outra nota, divulgada no final da tarde, a Braskem informou que, desde a abertura do inquérito conduzido pela Polícia Federal, em 2019, “integrantes e ex-integrantes da Braskem já foram chamados a prestar esclarecimentos e compareceram nas datas marcadas” e “sempre que solicitados, documentos e relatórios em poder ou de conhecimento da empresa também foram prontamente enviados”. A empresa diz que “vem agindo com diligência e transparência, como sempre atuou”.

A companhia afirmou ainda que, durante o período em que fez a extração de sal-gema em Maceió, empregou técnicas disponíveis e apropriadas, “sempre acompanhadas e fiscalizadas pelos órgãos públicos competentes e com as licenças de operação correspondentes”.

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