Uma barragem da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, localizada em Brumadinho, se rompeu na tarde de sexta-feira, 25. A onda de rejeitos de minério de ferro atingiu a área administrativa da empresa e a comunidade da Vila Ferteco, deixando mortos, feridos e desaparecidos.
A barragem
O rompimento ocorreu na Barragem 1, que foi construída em 1976 e tem volume de 12,7 milhões de m³. Segundo a Vale, a barragem tinha encerrado as atividades há cerca de três anos, pois o beneficiamento do minério na unidade é feito à seco.
Vítimas de Brumadinho
No dia do desastre, o presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, disse que os funcionários seriam os mais afetados. Ele informou que cerca de 300 funcionários estavam no prédio administrativo e no restaurante da empresa, mas que 100 já tinham feito contato.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, afirmou que as chances de encontrar sobreviventes na região são mínimas.
Mas, mesmo com as dificuldades para o resgate, os bombeiros continuam as buscas na região afetada pelo desastre. O tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, disse que ainda está cedo para determinar uma data limite para o encerramento das buscas por vítimas.
A primeira vítima identificada foi a médica do trabalho Marcelle Porto Cangussu, de 35 anos. Ela trabalhava na Vale desde 2015. Algumas vítimas já foram identificadas e enterros começaram a ser realizados
A mineradora disponibiliza a lista de funcionários que ainda não fizeram contato após o desastre em sua página na internet e, diariamente, órgãos de Minas Gerais, como o Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e Polícia Civil, atualizam os dados sobre mortos e desaparecidos. Esgotados, parentes dos desaparecidos estão no local em busca de informações.
Hospitalizados
Vítimas resgatadas com vida foram encaminhadas para o Hospital João 23, em Belo Horizonte, e, até as 18 horas desta terça, 29, uma paciente do sexo feminino, de 15 anos, e um homem de 55 anos continuavam internados. Uma mulher de 59 anos que passou mal por causa do desastre também foi hospitalizada.
Três mulheres, de 22, 65 e 59 anos, e dois homens, de 33 e 19 anos, receberam alta. Um paciente de 55 anos e uma vítima de 43 anos foram transferido para outro hospital.
Causas
Ainda não se sabe o que causou o rompimento da barreira. Uma vistoria realizada em dezembro não apontou problemas em sua estrutura e a barragem era considerada de "risco baixo".
Bloqueios
A Justiça já decretou bloqueios de R$ 11 bilhões da Vale. Na própria sexta-feira, 25, dia do rompimento da barragem, o juiz de plantão da Vara de Fazenda Pública de Belo Horizonte, Renan Carreira Machado, determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão nas contas da mineradora.
A decisão foi concedida em tutela de urgência em resposta a uma ação do governo de Estadual de Minas Gerais, que havia acionado a Vale, pedindo sua responsabilização pelo desastre.
Depois, a Justiça mineira decretou um bloqueio de R$ 5 bilhões para a reparação de danos ambientais pelo rompimento da barragem. Neste domingo, a Justiça mineira deferiu liminar determinando um novo bloqueio de mais R$ 5 bilhões da mineradora para garantir a reparação dos danos às pessoas atingidas no município após o desastre.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Minas Gerais solicitou o bloqueio de R$ 1,6 bilhão da mineradora Vale à Vara do Trabalho de Betim (MG). O pedido tem o objetivo de assegurar o pagamento de eventuais indenizações às famílias das vítimas e dos sobreviventes da tragédia.
Suporte às famílias
O diretor Financeiro da Vale, Luciano Siani, anunciou nesta segunda-feira, 28, a doação de R$ 100 mil para cada família das vítimas fatais e desaparecidos. Ele esclareceu que o dinheiro será doado para “aliviar os problemas de curto prazo” dos atingidos e não será contabilizado como indenização.
Ações do governo
O presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto instituindo o Comitê de Gestão e Avaliação dos Desastres da Ruptura da Barragem do Córrego de Feijão. Ele também sobrevoou a região e anunciou parceria com Israel para localização de vítimas.
Ajuda internacional
Um grupo formado por 136 militares israelensesauxilia nas buscas por vítimas do desastre. Especializada em resgate durante catástrofes com uso de sonares a equipe trouxe material eletrônico e de escavação. Cães farejadores também acompanham o grupo.
Regiões vizinhas
Municípios cortados pelo Rio Paraopeba fizeram alertas para a população ribeirinha sobre o risco de inundações. Em Juatuba, agentes da Defesa Civil visitaram casas em áreas perto do rio orientar os moradores sobre a necessidade de deixar o local caso o nível da água suba. Ações semelhantes foram realizadas em Esmeraldas e Betim.
Evacuação
No domingo, 27, às 5h30, a sirene de evacuação foi acionada em Brumadinho por causa do risco de rompimento da Barragem 6. Moradores das comunidades Córrego do Feijão e Tejuco começaram a ser retiradas e o trabalho de buscas foi interrompido. À tarde, o risco diminuiu e as buscas foram retomadas.
Inhotim
O Instituto Inhotim foi evacuado após o desastre e suspendeu suas atividades. O local permanece fechado e ainda não informou a data de reabertura.
O museu disse que a decisão foi tomada em solidariedade aos atingidos pelo desastre em Brumadinho. "Estamos em contato com os órgãos competentes para entender os impactos do desastre e traçarmos, conjuntamente, medidas para minimizar os danos", informou a instituição, em nota.
Celulares
A Justiça Federal de Minas Gerais acatou pedido da Advocacia-Geral da União (AGU) e determinou às operadoras Vivo, Tim, Claro, Oi, Nextel, Algar Telecom e Sercomtel a entrega de dados sobre os sinais de aparelhos de clientes que estavam na região afetada pelo rompimento da barragem. As informações devem ser repassadas com urgência para os órgãos envolvidos no resgate e socorro das vítimas.
Licenciamento
Após reunião, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, disse que o governo tem a intenção de mudar o protocolo de licenciamento das barragens brasileiras. O ministro informou que, no encontro, chegou-se à conclusão de que “é importante e urgente” que as barragens que ofereçam mais riscos sejam submetidas a uma nova vistoria para que eventuais desastres possam ser evitados.
Durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou várias vezes que pretendia simplificar o licenciamento e “tirar o Estado do cangote do produtor”. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, também defendia ferramentas como o chamado autolicenciamento.
Furnas
A Hidrelétrica de Retiro Baixo, da estatal Furnas, já foi desligada duas vezes para evitar que uma eventual chegada da lama proveniente de Brumadinho afete as turbinas da usina. A hidrelétrica, que fica a 200 quilômetros de Brumadinho, havia sido desligada na sexta-feira, mas tinha sido religada na tarde de sábado. Ela foi desligada novamente na última segunda-feira, 28.
Animais
Animais presos na lama do rompimento da barragem foram sacrificados. A decisão de executar os animais foi confirmada ao Estado pelo chefe da Defesa Civil de Minas, que informou ainda que outra parte da equipe está empenhada em socorrer animais “em condições de serem retirados” da lama.
O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) informou que eutanásia com tiros em animais em Brumadinho foi técnica. Segundo a entidade, o procedimento pode ser indicado quando o "bem-estar do animal estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar a dor ou o sofrimento, os quais não podem ser controlados por meio de analgésicos, de sedativos ou de outros tratamentos".
Prisões
Engenheiros que atestaram segurança de barragem que se rompeu foram presos por suspeita de homicídio qualificado nesta terça-feira, 29. Outros três funcionários que prestaram serviço para a Vale também foram presos em Minas Gerais. Leia a íntegra da decisão.
O desastre deve colocar a Vale no alvo de três tipos de processos: administrativo, civil e criminal. Entenda mais aqui.
Saúde
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) emitiu um alerta para a população sobre os possíveis riscos à saúde pelo contato com os rejeitos de mineração provenientes da barragem.
A pasta monitora a situação dos bombeiros que atuam nas buscas pelas vítimas e recomenda que a população não consuma alimentos que tiveram contato com a lama, inclusive embalados e enlatados, evitem contato com a água do Rio Paraopeba atingida pelos rejeitos, tanto para ingestão quanto para recreação, e que não pesquem nem consumam os peixes do rio.
Em nota, a mineradora disse que o material não é tóxico. “O rejeito é formado por sílica, ou seja, basicamente terra, portanto, não é tóxico.”
Acompanhamento de bombeiros e voluntários
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, informou que pessoas que tiveram contato direto com a lama da barragem que se rompeu, como bombeiros e voluntários, serão submetidas a exame periódicos para avaliar se foram contaminadas por metais pesados.
Contaminação do Rio Paraopeba
As análises foram feitas nas águas do Rio Paraopeba com amostras coletadas entre os dias 25 (quando o acidente ocorreu) e 29. Foram encontrados valores até 21 vezes acima do aceitável de chumbo total e mercúrio total. Também foi constatada a presença de níquel, chumbo, cádmio e zinco, no dia 26, em um dos pontos de monitoramento. Diante dessa situação, o governo de Minas Gerais desaconselha o uso da água para qualquer finalidade até que a situação esteja normalizada.
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