‘Caminhada solo foi subsídio para construção de uma rede preta e potente’; leia artigo

Uma das primeiras mulheres negras a ocupar o posto de CEO no segmento de luxo no País, Rachel Maia afirma que portas estão sendo abertas para as novas gerações

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Por Rachel Maia

Enquanto mulher negra, fui pioneira em muitas áreas e projetos que impactam minha trajetória profissional e, consequentemente, pessoal. Fui da base ao topo e, por muitas vezes, este caminho se fez de forma solitária, sem semelhantes ao meu lado.

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Afinal, acredite, há um peso em ser a única mulher negra a ocupar alguns espaços que considero estratégicos e catalisadores, ao mesmo tempo em que a falta de diversidade beneficia uma estrutura que não está preocupada em configurar o perfil considerado o ideal. Muito menos dialogar com intersecções que são indissociáveis.

Na contramão daquilo que é imposto, para nós, mulheres negras, recalculei a rota e contrariei as estatísticas, porém, tanto quanto um valor inegociável, a lenda da mulher negra única precisava acabar. E, convenhamos, apesar de muita coisa ter avançado, a curtos passos, eu diria, muitas de nós ainda carregam nas costas o discurso de representar o todo. Como se fôssemos todos iguais, sem intersecções ou especificidades que nos tornam tão únicas.

A empresária Rachel Maia foi uma das primeiras mulheres negras a ocupar o cargo de CEO no segmento de luxo no País Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Na falta de melanina nas corporações e nas tomadas de decisões, a premissa maior sempre foi e ainda é abrir caminhos para que tantas outras mulheres negras possam ocupar cargos de liderança, que galguem em suas carreiras, que sejam capacitadas, escutadas e que tenham oportunidades. Que não sejam apenas estatísticas, mas que possam fomentar e impulsionar os ínfimos 3% de mulheres negras em cargos de alta liderança.

Aqui, portanto, o valor do pioneirismo ganha uma nova perspectiva, essa caminhada solo foi subsídio para que hoje uma rede preta e potente pudesse ser construída e fomentada, ainda que muitos passos precisem ser avançados. Nunca foi sobre glamour, mas, sim, sobre movimentação, constância, oportunidades, formações e milhares de pares que fazem, de fato, acontecer. Hoje, não mais sozinha, olho para o lado e vejo parceiras e aliadas que travam batalhas para o extermínio da herança colonial que nos coloca na invisibilidade e no silêncio.

Vejo que, urgentemente, as portas e janelas estão sendo abertas para novas gerações. Estamos avançando em coletivo e nos colocando na linha da frente para as adversidades que gerações, como a minha, tiveram que fazer a travessia.

No entanto, o nosso desafio segue o mesmo, ainda que outras proporções, para a projeção palpável de um cenário em que os nossos corpos negros, no mundo corporativo, não seja uma surpresa ou uma utopia, uma inconformidade ou uma negativa, mas sim uma potência e uma realidade certeira. Em um futuro próximo, preto e abundante, de todas nós, mulheres pretas.

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* Rachel de Oliveira Maia é fundadora e CEO da RM Consulting, consultoria focada nas melhores práticas de ESG e Governança Corporativa, e do Instituto Capacita-me. É presidente do Conselho de Administração do Pacto Global e conselheira independente na Vale e CVC Corp, embaixadora do ODS 5 (equidade de gênero) do Pacto Global da ONU Brasil. Foi CEO de importantes empresas no segmento de luxo, como a Pandora Brasil, Tiffany & Co e Lacoste Brasil.

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