Não bastasse estudantes de Petrolina (PE) afirmarem que o tema da redação vazou antes do início do segundo dia de provas do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), muitos candidatos - e professores - da cidade, localizada na divisa com a Bahia, reclamam da frágil fiscalização feita durante a realização das provas.A estudante Edilézia de Souza Castro, que prestou o exame na Escola Polivalente, conta que não foi barrada a entrada de telefones celulares, relógios, lápis e borrachas nas salas de aula - como determinava o edital do exame. "Um celular tocou dentro da sala durante a prova", reclama. "O fiscal não tirou o telefone do dono nem excluiu o candidato, só pediu para ele desligar o aparelho."Em alguns locais de exame, a única determinação dos fiscais foi para que os aparelhos fossem desligados e a bateria, retirada. "Como as peças continuavam com seus donos, houve uma festa de celulares nos banheiros das escolas", afirma a proprietária do Curso Pré-Vestibular Tema, Vera Lúcia Medeiros, com base nas conversas de seus alunos. Uma estudante de 19 anos que pediu para não ser identificada admite ter usado o celular em um banheiro da Escola Polivalente para tirar uma dúvida com uma tia, professora de matemática. "Ela não entendeu quando viu que quem estava ligando era eu." Ela justificou o uso do aparelho por ter sabido que outras pessoas haviam adotado a técnica no primeiro dia de provas. "Não era justo que eles pudessem fazer as coisas assim e eu não."Segundo a professora da rede estadual Selma Maria Alves, que trabalhou no Enem como fiscal de sala na Escola Moisés Barbosa, o número de fiscais volantes (que acompanham estudantes nas idas a banheiros, por exemplo) caiu muito neste ano. "Antes, tinha detector de metais nas escolas, revistas antes de os estudantes entrarem e depois de saírem dos banheiros. Neste ano não teve nada disso."Investigação. A Superintendência da Polícia Federal em Juazeiro (BA), que concentra as investigações sobre o suposto vazamento do tema da redação, admitiu ontem que o processo de entrevistas de testemunhas do caso pode ser demorado. Até a tarde de ontem, ninguém havia sido ouvido. O estudante Eduardo Ferreira Affonso Júnior, de 21 anos, apontado por professores e colegas como o responsável pelo vazamento na cidade, havia dito que queria prestar depoimento "o quanto antes", para esclarecer a situação. No entanto, ele aguarda a convocação para depor. Apesar das denúncias, a PF sequer instaurou inquérito.
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