A Justiça francesa e a canônica abriram uma investigação contra 10 bispos e ex-bispos em casos de crime sexual, incluindo um cardeal que admitiu um comportamento “repreensível” com uma menor há 35 anos, anunciou o presidente da Conferência Episcopal, Éric de Moulins-Beaufort, nesta segunda-feira, 7.
“Há 35 anos, quando era pároco, me comportei de forma reprovável com uma menina de 14 anos. Meu comportamento necessariamente causou consequências graves e duradouras a esta pessoa”, escreveu Jean-Pierre Ricard, ex-bispo de Bordeaux, em mensagem lida por Moulins-Beaufort durante entrevista a jornalistas.
O cardeal, de 78 anos, assegura, ainda, que se colocou à disposição da Justiça, tanto civil quanto canônica, e que pediu “perdão” à vítima.
“Foi aberta uma investigação preliminar para verificar os elementos desta ‘revelação’”, indicou à AFP o promotor de Marselha, Dominique Laurens, admitindo que “nenhuma denúncia” foi apresentada até o momento.
Outro dos bispos investigados é Michel Santier, a quem as autoridades do Vaticano aplicaram sanções em 2021 por “abusos espirituais resultando em “voyeurismo” a dois homens adultos” na década de 1990. O silêncio sobre sua sanção causou grande revolta nas últimas semanas entre católicos e grupos de vítimas.
No total, dez ex-bispos são acusados, oito deles por abusos, como Ricard e Santier, e dois por denunciar as agressões. Um décimo primeiro, Pierre Pican, morreu em 2018 e foi condenado por não denunciar os fatos, segundo a Conferência Episcopal francesa (CEF).
Sem entrar em detalhes, o presidente da CEF apontou a “grande diversidade de situações em relação aos atos cometidos ou de que são acusados”.
Os 120 membros da CEF se reúnem desde a quinta-feira em Lourdes para trabalhar em “propostas concretas” para melhorar a comunicação e a transparência sobre as medidas canônicas adotadas contra os religiosos acusados de agressão sexual. Há um ano, a França conheceu o alcance devastador dos casos de pedofilia no seio da Igreja Católica. Uma comissão independente estimou que cerca de 216 mil menores foram vítimas de sacerdotes e religiosos na França entre 1950 e 2020. /AFP
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