Um pedacinho da história do Brasil pode ser adquirido no Rio por R$ 4,25 milhões. Uma casa que pertenceu ao Barão de Mauá e, posteriormente, serviu de moradia para o poeta Manuel Bandeira, para a pintora Djanira e diversos outros intelectuais e personagens das artes está à venda em Santa Teresa, na região central da cidade.
A casa é uma das tantas históricas residências do alto do morro e fica na Rua Paschoal Carlos Magno. Além de ter pertencido a Irineu Evangelista de Sousa, o Barão (e depois Visconde) de Mauá, no século 19, também abrigou a Pensão Mauá na década de 1940. Foi naquela época que recebeu grandes nomes da cultura brasileira.
Com o tempo, porém, veio a ociosidade. A casa está desocupada “há pelo menos duas décadas”, segundo Claudio André de Castro, diretor da Sergio Castro Imóveis, responsável pela venda. “Fica numa área boêmia, alegre, que atrai muitos jovens. E está na esquina da Fonseca Guimarães, que é a rua de residências mais valorizadas do bairro, algumas de altíssimo padrão”, explica Claudio.
De fato, a região é muito frequentada, especialmente por turistas. Na manhã de quinta-feira, quando a reportagem do Estadão esteve no local, um grupo de pelo menos dez franceses era acompanhado por uma guia. O tradicional Bondinho de Santa Teresa passa próximo à casa, e o entorno conta com um hotel, botecos tradicionais e lojinhas de todo tipo.
A casa que pertenceu ao Barão de Mauá tem três andares e área construída de mais de 500 metros quadrados. Há um amplo espaço na parte da frente e nos fundos da casa. Segundo a imobiliária, o terreno possui cerca de 1,5 mil metros quadrados. Atualmente, a casa pertence a uma empresa do ramo de hotelaria, que instalou câmeras no entorno e faz a segurança do espaço.
Segundo Cláudio, nos últimos anos apareceram potenciais clientes. “Teve um que queria abrir um centro gastronômico. A pessoa ia fazer o restaurante principal na casa, e pequenas choupanas no terreno. Teve também quem teve ideia de aproveitar a construção principal e fazer outras de vidro, mas nenhum avançou”, conta Claudio Castro.
Além da boa localização, o fato de ter pertencido a uma figura histórica e ter sido frequentado por tantas outras serve como chamariz. Para Castro, dois fatores principais impediram um desfecho até o momento.
O primeiro é a conjuntura econômica. “A economia do Rio foi muito prejudicada nos últimos anos, principalmente depois da pandemia. As pessoas estão procurando investir em imóveis já prontos. E esse é um imóvel que precisa de restauro, sem contar que quem adquirir provavelmente vai querer fazer algum tipo de construção baixa”, pondera.
De fato, do jeito que está a construção não tem condições de uso. É preciso uma ampla reforma, sobretudo interna. As escadas são firmes, mas o mesmo não se pode dizer dos assoalhos e divisórias. Restauros da fachada e do telhado dependem de aprovação de órgãos de patrimônio do município, uma vez que a casa foi tombada pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) há quase três décadas.
Essa, inclusive, seria a outra razão de a venda do imóvel estar demorando. “Assusta um pouco pelo desconhecimento das pessoas. Por ser um imóvel tombado, muitos têm medo de exigências dos órgãos de patrimônio”, diz o diretor da imobiliária.
Enquanto não ganha uma nova função, a casa que pertenceu ao primeiro grande industrial brasileiro e que foi frequentada por grandes nomes das artes serve ao menos como ponto turístico.
Um “espaço instagramável” foi feito na calçada ao lado da casa para quem quiser fazer selfies. Nele, consta um pouco da história e uma imagem do Barão de Mauá, um dos maiores empreendedores da história do Brasil. Criou, entre outros negócios, a primeira estrada de ferro do País, o primeiro estaleiro, a iluminação pública a gás na cidade do Rio de Janeiro e a primeira companhia de navegação regular do Rio Amazonas.
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