A Justiça do Piauí autorizou nesta segunda-feira, 13, a soltura de uma mulher que estava presa desde o dia 23 de agosto do ano passado acusada de envenenar duas crianças, em Parnaíba, região norte do Estado. As vítimas, os meninos Ulisses Gabriel e João Miguel, de 7 e 8 anos, eram da mesma família que foi alvo de outro envenenamento, no começo de 2025, e que provocou a morte de quatro pessoas.
Os dois garotos morreram ao consumir cajus envenenados com uma substância chamada terbufós - a mesma usada no crime cometido no começo deste ano. A suspeita do envenenamento foi Lucélia Maria da Conceição Silva, de 52 anos, que era vizinha das crianças e foi indiciada por homicídio qualificado. Depois de cinco meses, o laudo pericial descartou a presença de veneno nos cajus que foram dados às crianças.
A decisão que soltou Lucélia foi dada pela juíza da 1ª Vara Criminal de Parnaíba, Maria do Socorro Ivani Vasconcelos. Segundo o delegado Abimael Silva, da Delegacia de Homicídios de Parnaíba, o resultado dos laudos foi encaminhado ao Judiciário e o Ministério Público defendeu a conversão da prisão de Lucélia em medidas cautelares. Silva explicou que a mulher não foi absolvida. “Ela ainda responde a ação criminal”, disse ao Estadão.
O advogado de Lucélia, Sammai Melo Cavalcante, disse à imprensa na porta da Penitenciária Gardênia Gomes Lima Amorim, em Teresina, que busca fazer justiça pela sua cliente. “Desde o primeiro momento ela se declarou inocente”, afirmou. “Foi um processo que, no meu entender, foi oferecida denúncia com fragilidade total de provas. Tanto é que isso desemboca no dia de hoje. Ninguém sabe o estado de espírito da Lucélia porque quebraram o espírito dela. Ela tinha direito à presunção de inocência”, disse o advogado.
De acordo com o delegado, o mesmo veneno encontrado veneno no estômago das crianças (terbufós) foi localizado na residência de Lucilélia, que alegava usar o produto para matar morcegos. “E também foram encontrados alguns cajus no lixo da casa dela, que também foram enviados para a perícia”, explicou Silva, à reportagem.
Sobre o tempo de espera para a conclusão dos laudos, Abimael Silva explicou que, durante o tempo entre a prisão de Lucélia e a sua soltura, foi desenvolvido no Piauí um laboratório de uso da polícia técnico-cientifica, que permitiu fazer a análise dos supostos cajus envenenados. “Porém, neste caso, o reagente do caju não tinha aqui. Teve de pedir do exterior e só chegou em dezembro, coincidentemente no período que teve o segundo crime”, afirmou.
Ulisses Gabriel e João Miguel são filhos de Francisca Maria Silva, que também morreu no começo do ano após novo caso de envenenamento. Além dela, seus dois filhos, Igno Davi Silva, de 1 ano e 8 meses, e Maria Lauane Fontenele, de 3 anos, e o irmão, Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, também não resistiram. O padrasto de Francisca Maria, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, é apontado como o principal suspeito do crime, e foi preso na última quarta-feira, 8.
Segundo as investigações, os assassinatos teriam sido premeditados por Francisco, que morava na casa junto com sua companheira, Maria dos Aflitos (mãe de Francisca Maria Silva), enteados e outros membros da família. Na noite de réveillon, um arroz foi preparado e deixado sobre o fogão.
Após a confraternização, Francisco permaneceu acordado sozinho, momento em que, segundo a perícia, teria adicionado ao alimento o veneno terbufós, substância altamente tóxica utilizada em pesticidas.
Uma criança de quatro anos segue internada no Hospital de Urgência de Teresina – HUT em estado grave. As outras vítimas, incluindo o próprio Francisco de Assis, foram hospitalizadas e já receberam alta.