FORTALEZA - O cearense José Arivelton Ribeiro, de 48 anos, nasceu surdo. Há quatro anos, sofreu um acidente de trabalho e perdeu o braço direito. Com a ajuda da internet, ele mesmo desenvolveu uma prótese com sucatas de alumínio e cabos de freio de bicicleta. Depois de ter sua história contada por um programa de TV local, José Ari passou a ser conhecido como o Homem de Lata, uma referência ao super-herói Homem de Ferro, personagem da Marvel de quem buscou inspiração.
Criado dentro de uma oficina, José Ari aprendeu com o pai o ofício de consertar aparelhos eletrônicos. Estudou até o ensino médio e se comunica por linguagem de sinais. Desde criança, gostava de ficar inventando coisas. Enquanto o irmão mais novo brincava, ele se divertia fazendo réplicas de carro, navio e avião.
Já adulto, subiu na laje de sua oficina para tentar corrigir uma queda de energia e acabou recebendo uma descarga elétrica. O braço direito necrosou e precisou ser amputado. De família com poucos recursos financeiros, José Ari não se deixou abater e buscou na rede de computadores ajuda para desenvolver um braço mecânico.
A primeira tentativa resultou em algo que mais parecia um gancho. A segunda já tinha um pouco mais "tecnologia". Era uma peça de 5 quilos feita com parafusos, ligas de borracha, panelas velhas e cabos de freio de bicicleta. José Ari tomou o braço do irmão como medida. E usava uma meia como proteção para evitar ferimentos.
Para mover os dedos, ele usava os ombros. Alongando os ombros, a mão abria. Curvando, a mão fechava. Apesar de ainda rudimentar, o invento lhe devolveu o gosto de voltar a fazer atividades como cortar pão, pegar uma chave e dirigir seu carro.
Em 2015, José Ari teve sua experiência contada no programa Gente na TV, da TV Jangadeiro/SBT. Este ano, voltou ao programa para mostrar uma nova prótese desenvolvida por ele e que foi inspirada, segundo contou o irmão, José Rusivelton, no filme do Homem de Ferro. No novo invento, o cearense usou correntes de motocicletas e dois tipos de motores: um usado para subir baixar janelas de carro e outro de uma parafusadeira. "Eu comprei uma parafusadeira, e ele, sozinho, desmontou, pegou o motor e aplicou no braço biônico", conta Rusivelton, orgulhoso.
O exemplo e a força de vontade de José Ari já foi mostrado como motivação em palestras para universitários de Fortaleza. Ele já ganhou duas próteses elétricas de uma empresa de Sorocaba (SP). E também uma quantia em dinheiro que está usando para criar uma prótese ainda mais avançada que as anteriores. "A tendência é de a gente aperfeiçoar ainda mais", diz o irmão.
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