Cenário: Grupo de Nápoles foi ultrapassado pela ’Ndrangheta

Scotti era um dos principais homens da chamada Nuova Camorra Organizada, organização comandada por Raffaele Cutolo que desafiou o poder dos Casalesi, retratado pelo escritor Roberto Saviano no livro 'Gomorra'

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Foto do author Marcelo Godoy

Quando Pasquale Scotti chegou ao Brasil, há cerca de 30 anos, seus adversários na Camorra napolitana, por meio de Umberto Ammaturo, ligado ao clã dos Casalesi, dominavam a rota de tráfico de drogas do Brasil para a Itália. Scotti era um dos principais homens da chamada Nuova Camorra Organizada (NCO), a organização comandada por Raffaele Cutolo que desafiou o poder dos Casalesi, retratado pelo escritor Roberto Saviano no livro Gomorra. É conhecido em sua organização como “Engenheiro” ou “Pasqualino ‘O Collier”, por ter dado um colar à mulher do chefão Cutolo.

No começo dos anos 1980, a guerra de máfia entre as duas organizações rivais ensanguentou a região de Nápoles, deixando cerca de mil mortos. Em um desses crimes, Scotti teria feito concretar uma bailarina que havia denunciado a suposta ligação de sua organização com a morte, em 1982, do banqueiro Roberto Salvi. Salvi era presidente do Banco Ambrosiano, investigado no escândalo financeiro que envolveu o Banco do Vaticano e a loja maçônica P2. O banqueiro foi encontrado enforcado em uma ponte em Londres.

O italiano Pasquale Scotti Foto: Polícia Federal/Divulgação

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A guerra entre os grupos camorristas e os arrependidos aos poucos foram levando seus principais líderes para a cadeia, a exemplo do que acontecera com a Máfia, na Sicília. Dos oito foragidos mais importantes da Itália, segundo lista da Direção Central de Polícia Criminal do Ministério do Interior italiano, apenas dois eram camorristas - Scotti e Marco Di Lauro. A lista é um indicador da força atual dos principais grupos criminosos da Itália. A tradicional Cosa Nostra siciliana tem dois nomes entre os principais procurados: o capo Matteo Messina Denaro e Giovanni Motisi. Os sardos da Anonima Sequestri têm um nome na lista: Attilio Cubeddu. Os outros três pertencem à mais importante máfia da atualidade na Itália: a calabresa ’Ndrangheta.

Envolvidos com sequestros nos anos 1980, as ’ndrinas - como são chamadas as famílias da máfia calabresa - usavam as cavernas e encostas da região de Aspromonte, no sul da Itália, para esconder as vítimas mantidas acorrentadas em cativeiro por até mais de um ano. A cidade de Africo, localizada na região montanhosa, é o centro do poder de seu principal líder, Rocco Morabito, bandido mais procurado da Itália. Ele é procurado desde 1994, acusado de associação mafiosa e tráfico de drogas.

Trata-se de uma máfia diferente. Ela mistura misticismo - no ritual de iniciação, o novo mafioso deve jurar queimando uma imagem de São Miguel Arcanjo entre suas mãos -, ligações com extrema-direita, com o terrorismo neofascista, tráfico de drogas e armas, extorsões, contrabando e desvio de verbas públicas. Na América do Sul, a ’Ndrangheta teve, durante anos, como um de seus principais interlocutores Salvatore Mancuso, um dos líderes do grupo paramilitar de direita colombiano Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Mancuso acabou preso e extraditado para os Estados Unidos em 2008.

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O poder da ’Ndrangheta, porém, não parou de crescer. Além de Morabito, outros dois de seus líderes aparecem na lista do Ministério do Interior: Giuseppe Giorgio e Ernesto Fazzalari. Os dois são procurados desde os anos 1990 pela polícia italiana. Além de dominar as montanhas da Calábria, a ’Ndrangheta controla a planície de Gioia Tauro, onde está o maior terminal de contêineres do Mediterrâneo. O gigantesco porto, inaugurado em 1994, tornou-se mais um instrumento para a ’ndrinas multiplicarem seu poder. 

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