Censo: por que o Brasil ‘perdeu’ mais de 10 milhões de pessoas? Entenda cálculo do IBGE

Há cinco anos, o IBGE estimou que seríamos 214 milhões em 2022; segundo o novo censo, a população atual é de 203 milhões de pessoas; especialistas tentam explicar a diferença

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

O número final de brasileiros segundo a última contagem do Censo 2022 chamou a atenção de demógrafos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somos 203 milhões e não 214 milhões, como havia sido estimado pelo próprio IBGE há cinco anos. Explicações para uma diferença tão significativa não faltam. Vão desde a pandemia de covid-19, passando pelo aumento das migrações, até uma possível falha na taxa de cobertura do censo. A coleta nacional de informações sofreu com adiamentos de prazo e restrições orçamentárias.

“O IBGE ainda vai divulgar outros temas do Censo, incluindo migrações, renda e aglomerados subnormais”, lembrou o coordenador técnico do Censo, Luciano Duarte. “A partir desses resultados, será possível avançar nas explicações sobre as taxas de crescimento da população encontradas pelo Censo 2022.”

Crescimento da população brasileira de 1872 a 2022

Os demógrafos do IBGE responsáveis pela divulgação dos novos números lembraram ainda que, em 2015, não foi realizada contagem da população, conforme o previsto, o que pode ter interferido nas estimativas de população feitas três anos depois.

Em dezembro do ano passado, o próprio instituto calculou a população em 207,8 milhões. Essa prévia foi composta por dados iniciais do Censo, além de projeções Foto: FABIO MOTTA / ESTADÃO - 20/02/2019

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Em dezembro do ano passado, o próprio instituto calculou a população em 207,8 milhões. Essa prévia foi composta por dados iniciais do Censo, além de projeções.

“Estamos diante dos primeiros resultados do Censo. Neste momento nossos demógrafos estão debruçados sobre os números para entender se essa tendência (de queda do crescimento) se acelerou”, explicou o presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, ao apresentar os novos números.

“Fizemos o censo logo depois da maior crise sanitária do mundo, a pandemia. Precisamos de mais tempo para entender os efeitos demográficos. Precisamos ser cuidadosos em relação às conjecturas e esperar o trabalho dos demógrafos para entender melhor esse Brasil pós-pandemia.”

Para o sociólogo e demógrafo José Eustáquio Diniz, a pandemia não é suficiente para explicar um número tão baixo.

Por Estado

“Já sabíamos que não encontraríamos 214 milhões, sobretudo por conta da pandemia, que reduziu ainda mais as taxas de fecundidade e aumentou a mortalidade”, afirmou o especialista, que trabalhou por quase 20 anos como professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE. “Pelas minhas contas, a covid-19 provocou uma redução de 2 a 3 milhões de pessoas na população.”

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Mesmo com a pandemia, o crescimento vegetativo do Brasil entre 2010 e 2022, tendo como base os números de nascimentos e óbitos registrados pelo Ministério da Saúde, teria sido de 18 milhões, segundo Diniz. E ainda que se considere uma saída expressiva de brasileiros do País por conta da crise econômica, diz o demógrafo, o número total deveria chegar, pelo menos, a 207 milhões.

Crescimento e queda da população dos municípios

“Pode acontecer de o Censo não ter conseguido cobrir os 100% da população”, afirmou Diniz. “Nenhum censo cobre 100% da população, em geral, chega a 99%, 98%, mas pode ter sido um pouco menos. Enfim, os dados ainda são preliminares e não dá pra avaliar, preciso de informações complementares. Mas acho que o número foi subestimado, que a população é um pouco maior.”

O IBGE registrou 4,2% de ‘não resposta’ no Censo, que é quando as pessoas não são encontradas para serem recenseadas ou se recusam a responder o questionário. Nesses casos, no entanto, os demógrafos estimam o número de moradores dos domicílios, sem prejuízos para a contagem final.

Os problemas orçamentários que marcaram a condução do Censo também atrapalharam, na avaliação do próprio instituto federal. A coleta do Censo foi iniciada em 1º de agosto de 2022, planejada para se estender inicialmente até o fim de outubro do ano passado. Após uma série de dificuldades para contratar, pagar e manter recenseadores no trabalho de campo, o prazo foi prorrogado sucessivas vezes, terminando só em 28 de maio de 2023.

“Claro que o peso do orçamento faz diferença, porque você acaba pagando pouco o recenseador. Acaba sendo difícil contratar esses recenseadores e permanecer com eles em campo. Porque o mercado está mais competitivo, por isso o recurso tem peso importante”, disse Cimar Azeredo, presidente interino do IBGE.

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