A população brasileira está envelhecendo cada vez mais rapidamente. Nova etapa dos resultados do Censo 2022 divulgada nesta sexta-feira, 27, revela que o porcentual de pessoas com 65 anos ou mais no País chegou a 10,9% da população – uma alta recorde de 57,4% frente aos números de 2010, quando os idosos representavam 7,4% do total.
Os novos números, recortados por idade e sexo, mostram também que a idade mediana da população (a idade que separa a metade mais jovem da população da mais velha) aumentou seis anos desde 2010, chegando a 35 anos em 2022. O índice de envelhecimento também aumentou: são 55 idosos para cada grupo de 100 crianças. Em 2010, este índice era 30.
Por outro lado, o total de crianças, de 0 a 14 anos, recuou entre 2010 e 2022, de 24,1% da população para 19,8%, uma queda de 12,6%. Em 1980, para se ter uma ideia, os mais jovens eram 38,2% e os mais idosos apenas 4%. Ou seja, a pirâmide demográfica brasileira se parece cada vez menos com uma pirâmide e vai adquirindo um formato mais similar ao de uma ânfora, indicando que a grande maioria da população, atualmente, é de meia idade.
Este fato evidencia a tendência do início do fim do bônus demográfico (quando a proporção de jovens, a população economicamente ativa, é maior do que a de idosos e crianças, elevando as chances de ganhos no PIB). Esse movimento começou há cerca de 50 anos e começa a perder seus efeitos a partir de 2030 ou mesmo antes, quando a maior parcela da população já será de idosos, aumentando a pressão sobre os gastos de saúde e previdência social.
“Esse meio da nossa pirâmide, mais inchado, é o bônus demográfico, um grupo etário enorme com possibilidade de produção”, explicou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do IBGE. “A medida que essas pessoas envelhecem, que esse grupo vai se tornando idoso, não vem um novo grupo tão grande assim para substituí-lo uma vez que a base da pirâmide já é mais estreita. Ou seja, teremos um grupo menor tendo que produzir muito mais para sustentar uma parcela maior de idosos.”
As regiões Norte e Nordeste são as mais jovens do País: 25% e 21% da população, respectivamente têm até 14 anos. As regiões mais velhas são Sudeste e Sul, com porcentuais de idosos de 12%. A idade mediana também reflete essa situação; ela é de apenas 26 anos em Roraima e chega a 38 no Rio Grande do Sul.
Em junho deste ano, o IBGE divulgou os primeiros números do Censo. Em 2022, o País contava 203 milhões de habitantes e registrava também o menor crescimento populacional em 150 anos. De 2010 a 2022, a taxa média de crescimento anual da população foi de 0,52%, a primeira abaixo de 1% e a menor registrada desde o primeiro levantamento populacional feito no País, em 1872.
A queda acentuada da taxa de fecundidade é a principal explicação para o envelhecimento populacional. Uma outra explicação seria a migração de brasileiros em idade reprodutiva para o exterior.
Até a década de 1940, o País registrava altas taxas de fecundidade e mortalidade, mas os frequentes avanços da Medicina permitiram o aumento da expectativa de vida. Com a redução dos níveis de mortalidade e a manutenção dos altos índices de fecundidade, o ritmo do crescimento populacional aumentou.
“Apresentou seu maior pico na década de 1950, com taxa média de crescimento anual de 2,99%. No começo dos anos 1960, inicia-se lentamente o declínio dos níveis de fecundidade e, a partir dos anos 1970, já é possível verificar a redução do crescimento populacional”, informa o relatório do Censo.
Para se ter uma ideia, em 1960, o número médio de filhos por mulher era de 6,28. A taxa de fecundidade vem caindo consistentemente, alcançando, em 2010, 1,9. A taxa de fecundidade do Censo 2022 ainda não foi divulgada, mas estimativas do próprio IBGE indicam que, este ano, ela chegaria a 1,7.
“Em 1940, quando a população era de 41 milhões de pessoas, o desenho era o da pirâmide clássica, com a população mais jovem bem maior”, afirmou Izabel Guimarães Marri.
“Essa estrutura se mantém até o final da década de 80, quando começa a cair significativamente o número médio de filhos por mulher. A pirâmide, então, começou a ficar cada vez mais estreita. Agora temos uma estrutura populacional já não tão jovem e em franco envelhecimento.”
A queda da fecundidade é fortemente relacionada a fatores econômicos e de gênero. Numa sociedade rural menos desenvolvida, o custo de um filho é baixo e os benefícios de ter muitos filhos são altos (porque eles podem trabalhar no campo e amparar os idosos). Já numa sociedade urbana, industrial, o custo dos filhos é bem mais alto. As pessoas acabam optando por ter menos filhos e dar a eles mais qualidade de vida.
A questão de gênero ganha cada vez mais peso nessa equação, segundo especialistas. Cada vez mais mulheres optam por se dedicar à carreira e adiam a gravidez e têm menos filhos. Muitas escolhem não ter filhos. A escassez de serviços gratuitos de apoio à maternidade, como creches, também contribui para a decisão.
Mais mulheres
Os novos números do Censo revelam também que o Brasil está cada vez mais feminino. Em 2022, 51,5% da população brasileira (104.548.325) eram mulheres, contra 48,5% (98.532.431) de homens – cerca de seis milhões de mulheres a mais. Segundo os demógrafos, as chamadas causas externas, como acidentes graves e violência urbana, que vitimam muito mais homens do que mulheres, explicam essa diferença.
A razão de sexo, o número de homens para cada cem mulheres, passou de 96, em 2010, para 94,2 em 2022. O sudeste tem a menor proporção de homens, com uma razão de sexo de 92,9 em 2022. Por outro lado, a maior razão de sexo está na região norte, 99,7. Foi o primeiro censo que mostrou um número de mulheres maior que o de homens nesta região.
“Na verdade, nascem mais homens do que mulheres e eles são maioria até os 24 anos”, explicou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do IBGE. “Mas eles também morrem muito mais do que elas em acidentes e por conta da violência.”
A proporção de homens, em média, diminui à medida que aumenta o porte populacional dos municípios. Nas cidades de até 5 mil habitantes, são 102,3 homens para cada 100 mulheres. Essa razão cai para 88,9 nos municípios com mais de 500 mil habitantes.
A nova rodada de divulgação do Censo 2022 fez um ajuste nos números divulgados em junho e revelou uma população de 203.080.756 habitantes, 18.244 mil pessoas a mais do que na primeira apuração.
O número já tinha chamado a atenção de especialistas em junho, por ser muito abaixo do esperado. Em 2018, o próprio IBGE havia estimado que seríamos 214 milhões de brasileiros em 2022. Em dezembro do ano passado, uma nova estimativa do instituto já reduzia bem este número, para 207 milhões, ainda assim, mais alto do que o apurado. O ajuste anunciado nesta sexta não chegou a ser significativo.
“A pandemia (de covid-19) bagunçou nossas hipóteses divulgadas em 2018, quando prevemos uma redução de fecundidade menor”, explicou Marri. “O número de nascimentos já tinha caído em 2016 por conta da zika. Em seguida, tivemos um aumento, mas um pouco menor do que esperávamos. Nos anos da pandemia tivemos ainda menos nascimentos do que tínhamos previsto e a mortalidade também teve um impacto grande não previsto na revisão.”
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