Chuva recorde deixa 12 mortos, alaga vias e afeta transporte no Rio; prefeitura decreta emergência

Capital e cidades da Baixada sofreram os efeitos de um temporal que caiu entre a noite do sábado e a madrugada do domingo. Autoridades pediram que moradores evitem o deslocamento

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Atualização:

As fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro entre sábado, 13, e domingo, 14, deixaram ao menos 12 pessoas mortas, além de um rastro de inundações e alagamentos em vias com efeitos sobre o transporte público. Autoridades orientaram moradores para evitar o deslocamento ao longo do dia. Bairros da Baixada Fluminense e da zona norte da capital foram os principais afetados, em especial Pavuna, Ricardo de Albuquerque, Acari e Irajá.

O prefeito Eduardo Paes decretou situação de emergência na cidade “devido aos impactos e aos danos provocados pelas chuvas”, conforme divulgação feita pela gestão municipal durante a tarde deste domingo. “Com a declaração de situação de emergência, fica autorizada a mobilização de todos os órgãos municipais para atuarem nas ações de respostas necessárias à redução dos efeitos causados pelas chuvas”, destacou a prefeitura.

Onde aconteceram as mortes pela chuva no Rio?

  • Em Ricardo de Albuquerque, um homem foi vítima de um desabamento provocado por um deslizamento de terra, na madrugada deste domingo, na Rua Moraes Pinheiro.
  • Em Acari, uma mulher adulta foi encontrada morta na Rua Matura, 279, possivelmente vítima de afogamento.
  • Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, outra vítima feminina foi resgatada em um rio, próximo à Rua General Rondon. Na mesma cidade, um homem foi à obito por afogamento na Rua Patricia Cristina, em Vila São Luis.
  • Em São João de Meriti, também na Baixada, um homem foi vítima de uma descarga elétrica na Rua Neuza. Na mesma cidade, autoridades registraram um afogamento. Uma terceira vítima foi confirmada nesta segunda-feira, em São Mateus.
  • Em Comendador Soares, próximo à passarela da Rua Bernardino Melo, outro homem foi resgatado sem vida por militares, com sinais de afogamento.
  • Em Belford Roxo, outra morte foi registrada.
  • Em Duque de Caxias, houve três mortes. Um homem foi vítima de descarga elétrica na Rua Marquês de Paranaguá e outro morreu pela mesma razão na Rua Dona Alice Viterbo, em São Bento. A terceira vítima foi uma mulher atingida por um soterramento na Estrada de Botafogo.
Pedestres e veículos de todos os tipos enfrentaram zona de alagamento na Avenida Brasil, altura do bairro do Irajá, zona norte do Rio de Janeiro, neste domingo, 14, em decorrência de fortes chuvas. Foto: FAUSTO MAIA/THENEWS2

A corporação segue nas buscas por uma vítima feminina adulta que teria desaparecido após a queda de um veículo no Rio Botas, na altura da Rua Doze, no bairro Andrade Araújo, na noite de sábado. Nas últimas 24 horas, os bombeiros atenderam a mais de duzentas ocorrências relacionadas á chuva, entre elas, salvamentos, inundações, desabamentos e queda de árvores.

O que explica a chuva forte no Rio?

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Heráclito Alves, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explicou que temporais no Sudeste entre a noite de sexta-feira e a noite deste sábado já estavam previstos desde a semana passada. Na sexta, a chuva forte deixou dois mortos em São Paulo.

Ele detalhou que uma frente fria avançou pelo País e se associou a uma área de baixa pressão. “O resultado disso é a formação de nuvens de temporais e muita chuva. Além disso, tivemos temperaturas muito altas ontem, o tempo muito abafado, o que ajudou ainda mais a intensificar as chuvas”, disse.

“Hoje já temos redução das chuvas. Porém, qualquer chuva que ocorra em um ambiente já encharcado pode ser perigosa. Então ainda estamos em uma situação de estado de atenção”, acrescentou. Segundo Alves, a tendência é de redução das chuvas ao longo da semana.

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Temporal fez prefeitura acionar o ‘estágio 4′

O Centro de Operações da prefeitura do Rio acendeu o alerta de “estágio 4″ na madrugada deste domingo, por volta das 3h, em reação aos “elevados acumulados pluviométricos em 24 horas”.

O alerta significa que “uma ou mais ocorrências graves impactam a cidade” ou “há incidência simultânea de diversos problemas de médio e alto impacto em diferentes regiões”. Isso faz com que os danos e impactos comecem a extrapolar a capacidade de resposta imediata das equipes - a escala vai até o 5, quando essa capacidade é extrapolada de forma “relevante”.

Às 7h40, o prefeito Eduardo Paes (PSD) publicou um vídeo atualizando a situação da cidade. “A região da zona norte, Avenida Brasil, a bacia toda do Rio Acari, Irajá, Jardim América, Anchieta, Ricardo (de Albuquerque), com problemas ainda, mas estamos priorizando. Montamos uma base de comando na Pavuna.”

“O que pedimos para as pessoas, principalmente nessas áreas, é evitar se deslocar. Avenida Brasil interditada”, disse na oportunidade.

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  • A estação meteorológica de Anchieta atingiu o acumulado de 259,2 milímetros de chuva no período de 24 horas, o recorde em toda a série histórica do Sistema Alerta Rio (desde 1997) naquela estação meteorológica. O acumulado foi aproximadamente 40% maior do que a média histórica de janeiro naquela região - em apenas um dia choveu 138,4% da média de janeiro.
  • O mesmo cenário foi observado em Irajá: 123,6% da média de janeiro. Em Madureira, foram quase 10% a mais que a média mensal - 109,7% da média de janeiro.

“Em função do deslocamento de uma frente fria estacionária sobre o oceano, o município do Rio foi atingido por uma chuva com caráter contínuo a partir da tarde de sábado. Os núcleos de chuva apresentaram uma característica com lento deslocamento pelos bairros da cidade”, explicou o Centro de Operações.

Neste domingo, segundo o Alerta Rio, essa frente ainda influenciava o tempo no município. O céu ficou nublado e havia previsão de chuva fraca a qualquer momento.

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Homens observam um carro na água e a destruição causada por fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro Foto: Bruno Kaiuca/AFP

Ocorrências

No momento da atualização do nível da emergência, o Centro de Operações informou que haviam 12 bolsões d’água abertos, enquanto 13 já haviam sido resolvidos. Em relação a alagamentos, 16 estavam ativos e quatro haviam sido solucionados. Haviam seis ocorrências de queda de árvore e outras três já tinham sido atendidas.

A Defesa Civil Municipal acionou 29 sirenes em 16 comunidades a partir da 00h30, e os pontos de apoio foram abertos. Os moradores precisaram se dirigir até eles.

Equipes da prefeitura atendem áreas mais afetadas pelo temporal Foto: Prefeitura do Rio de Janeiro/Divulgação

Transporte

  • A Supervia, responsável pelos trens, precisou fechar a estação Osvaldo Cruz, por causa de pontos de alagamentos nas linhas 1 e 2, conforme informou o Centro de Operações.
  • O Metrô Rio informou que o entorno das estações da linha 2 foi afetado. “O alto volume de água, principalmente no bairro de Acari, impossibilitou a abertura completa do sistema.”

“A concessionária começa a operar provisoriamente na linha 2 entre as estações Colégio e General Osório/Ipanema. As estações Pavuna, Engenheiro Rubens Paiva, Acari Fazenda Botafogo e Coelho Neto estão temporariamente fechadas.”

A Avenida Brasil chegou a ficar totalmente interditada em razão do alagamento que tomou todas as faixas da via. No início da tarde, a prefeitura divulgou que a pista foi totalmente liberada. “Ainda assim, o município segue em Estágio 4 e a recomendação para evitar deslocamentos pela cidade continua”, disse a gestão municipal às 13h.

Estado do Rio

De acordo com o governo do Estado do Rio, os bombeiros atenderam a mais de 150 ocorrências relacionadas às chuvas nas últimas 24 horas. Tratam-se de salvamentos de pessoas, inundações e alagamentos, cortes de árvores e desabamentos e deslizamentos.

“Mesmo de férias, estou coordenando as secretarias e sigo em contato com as prefeituras para lidar com as intensas chuvas. A força-tarefa do governo do Estado já está em andamento”, publicou o governador Cláudio Castro (PL), no X (antigo Twitter).

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