Ciclone no Rio Grande do Sul: fenômeno causa fortes chuvas, ventanias, alagamentos e deixa 11 mortos

Mais de 625 pessoas foram resgatadas pelos bombeiros; temporal também provocou transtornos em Santa Catarina

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Foto do author Renata Okumura
Por Renata Okumura , Stephanie Araújo e Luciano Nagel
Atualização:

O ciclone extratropical que se formou na madrugada desta sexta-feira, 16, na região nordeste do Rio Grande do Sul causa fortes chuvas, ventanias e alagamentos no litoral norte do Estado, região metropolitana e Serra Gaúcha. Ao menos 11 pessoas morreram.

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul já havia alertado na quinta-feira, 15, para chuvas intensas e volumosas com risco de enxurrada nas regiões, com possibilidade de enchente nos rios Caí e Sinos, no nordeste do Estado. Segundo o governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), mais de 625 pessoas foram resgatadas.

Ciclone causou estragos na cidade de Taquara, no Rio Grande do Sul Foto: Ruan Nascimento/Prefeitura de Taquara

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De acordo com a Defesa Civil, uma das vítimas é um homem que estava desaparecido na cidade de São Leopoldo, no Vale dos Sinos. O veículo onde ele estava caiu em um córrego e o corpo foi localizado pelos bombeiros. Na mesma cidade, um jovem de 23 anos morreu ao ser atingido pela descarga elétrica de um raio. Uma pessoa também morreu em Maquiné, no litoral norte gaúcho. Um homem de 60 anos foi encontrado morto na cidade de Novo Hamburgo, vítima de afogamento.

Em pronunciamento nas redes sociais, Leite disse que o Estado está trabalhando para aumentar a equipe de bombeiros para realizar os resgates – são 200 profissionais atualmente, mas novos 80 estão se formando neste momento e devem começar a trabalhar ainda nesta sexta. Também atuam junto à Defesa Civil cerca de 800 policiais da brigada militar.

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A previsão é de mais 40 a 60 milímetros de precipitação nas próximas horas na região. Por isso, a Defesa Civil orienta que a população das regiões afetadas permaneçam em suas casas caso estejam em segurança. “Se for necessário deixar o local, que a movimentação seja feita com segurança, buscando apoio da Defesa Civil de seu município, bem como informações sobre abrigos e serviços de saúde”, afirma a instituição. Especialmente pessoas que vivem às margens de rios Caí e Sinos devem deixar suas casas.

“Este é o momento de protegermos as vidas, nos danos materiais nós focamos depois”, disse Leite em seu pronunciamento. Aqueles que já foram retirados de locais de risco devem permanecer afastados até que a Defesa Civil emita comunicado dizendo que a situação está normalizada.

Algumas regiões do Estado também estão sofrendo de falta de energia por conta da chuva. Sobre elas, Leite afirmou que a maioria deve ter a rede elétrica restabelecida até o final desta manhã.

Ciclone atinge e provoca transtornos em cidades do Sul do País. Foto: Reprodução/TV Globo

Em vídeo ao vivo feito pelo Facebook, o prefeito de Maquiné, no norte gaúcho, João Marcos Bassani dos Santos, alertou em tom de desespero para que moradores saíssem de suas casas devido às fortes chuvas causadas por um ciclone extratropical que atinge o Estado. “Estou pedindo, implorando, saiam”, disse, ao afirmar que não existem equipes do Corpo de Bombeiros suficientes para atender a demanda. “Antes que seja tarde.”

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O prefeito alertou ainda para que as pessoas procurassem lugares mais altos e reforçou a mensagem de que a preservação da vida é mais importante que os bens materiais.

Em São Leopoldo, na região do Vale dos Sinos, as fortes chuvas fazem com que moradores deixem suas casas. O bairro Santos Dumont é um dos mais atingidos pelas inundações. As famílias que residem no local foram abrigadas em um galpão. A prefeitura trabalha para realocar essas pessoas em um espaço para acolhimento emergencial.

Na casa de Juliana Stefanini, onde moram oito pessoas, a água chegou à altura do peito. A família foi obrigada a deixar o imóvel e ainda buscava um local de abrigo na manhã desta sexta. Os vídeos mostram também o local onde um carro foi levado pela enxurrada para um córrego, no bairro Rio Branco.

Uma segunda pessoa desapareceu no município de Portão, segundo a prefeitura. A cidade registrou alagamentos e quedas de barreiras.

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Já em Sapucaia do Sul, dezenas de famílias foram desabrigadas devido aos alagamentos em certos pontos do município. As pessoas estão sendo acolhidas no auditório da Escola Vanessa Ceconet.

No município de Forquetinha, a ponte da Vila Storck foi interditada devido às condições climáticas. Segundo informações da prefeitura, os motoristas que vêm do Bairro Conventos, em Lajeado, em direção ao município, devem fazer um desvio pela ERS-421.

Na BR-386, a PRF alerta para tomar cuidado com a presença de água na pista. Em alguns pontos, como na região de Linha Perau, em Marques de Souza, e ao longo do trecho em obras, os motoristas devem estar atentos para evitar a aquaplanagem. Na RSC-453, que leva a cidade de Imigrante, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) recomenda que os motoristas tenham cautela devido ao risco de pedras que eventualmente podem cair das encostas dos morros. Na cidade de Lajeado, em Alto Conventos, um córrego transbordou, causando transtornos e invadindo propriedades rurais.

Segundo MetSul Metereologia, empresa local, algumas cidades registraram durante madrugada um volume de chuva que chegou a mais de 230 milímetros, como foi o caso de Maniqué.

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“As consequências do ciclone ainda estão sendo avaliadas, contudo, a projeção dos modelos matemáticos se concretizou com situação mais grave entre a Serra o Litoral Norte e parte da Grande Porto Alegre”, afirma a MetSul.

Conforme a empresa de meteorologia, os volumes de chuva foram excepcionais e em muitas regiões choveu apenas em um dia o que deveria chover de um a dois meses inteiros. “O curto espaço de tempo em que a chuva excessiva ocorreu explica em parte a dimensão dos danos e a rapidez das inundações no Nordeste gaúcho.”

Ciclone extratropical provoca estragos e deixa moradores desabrigados em cidades do Sul do País.  Foto: Divulgação/PMPG

Locais mais afetados pelas fortes chuvas

De acordo com os dados da rede do Instituto Nacional de Meteorologia e do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, divulgados pela MetSul, o maior acumulado de 24 horas (até as 3h desta sexta-feira) foi registrado em Maquiné com 262 mm.

Em seguida aparecem: Bom Princípio (189 mm), Gravataí (188 mm), São Leopoldo (182 mm), Itati (175 mm), Alto Feliz (166 mm), Sapucaia do Sul (163 mm), Três Forquilhas (162 mm), São Sebastião do Caí (158 mm).

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“Em Porto Alegre, o maior acumulado em 24 horas ocorreu no bairro Cristal com 105 mm, com 97 mm no bairro São João, Protásio Alves 72mm, Agronomia 63 mm, Cidade Baixa 61 mm. A média histórica do mês de junho é de 130,4 mm”, afirmou a empresa de meteorologia.

Rajadas de vento

O ciclone também gerou vento de intensidade moderada a forte, com picos elevados em todo o nordeste e leste do Estado. “A maior rajada foi registrada em Tramandaí com 102 km/h às 23h da quinta-feira. A estação do Inmet na zona sul da capital registrou 77 km/h às 2h. No Jardim Botânico, o vento atingiu 66 km/h por volta da 1h desta sexta-feira. Em São José dos Ausentes, as rajadas chegaram a 71 km/h”, disse a MetSul.

Mais cedo, a empresa de meteorologia afirmou também que estações registraram rajadas de vento ao redor de 70 km/h em Porto Alegre no começo desta sexta-feira.

Segundo a Defesa Civil as chuvas intensas e volumosas teriam risco de enxurrada nas áreas em vermelho do mapa. Foto: Divulgação/Defesa Civil do Rio Grande do Sul

O governador Eduardo Leite (PSDB) se pronunciou pelo Twitter e afirmou que as equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar estão mobilizadas para atender os lugares mais afetados. “Acompanho a situação junto às nossas forças de segurança”, disse.

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Situação ainda é de atenção

Embora o período crítico em termos de chuva e vento forte tenham passado, o cenário é de risco e alerta ainda em partes do Estado, de acordo com a MetSul. “Isso porque seguirá chovendo ao longo desta sexta-feira que também terá tempo com ventania. O solo está saturado de água e segue o risco de escorregamentos em trechos de serra e encostas”, alerta. Além disso, toda essa água irá escoar pelos rios cujas nascentes estão no nordeste gaúcho. Há risco de subida de rios e provável cheia.

“Nas próximas horas desta sexta-feira, o ciclone extratropical tende a se afastar, contudo, ainda influencia as condições do tempo na metade leste do território gaúcho.”

No fim de semana, conforme a MetSul, o ar seco e o ar frio dominam as condições do tempo no Estado com expectativa de sol. “No amanhecer, a previsão é de frio com baixas de temperatura. O sábado, 17, poderá começar com variação de nuvens, especialmente na faixa leste, mas depois o tempo fica firme. No domingo, 18, o tempo fica ensolarado com frio pela manhã em grande parte das regiões”, projetou.

O presidente Lula se manifestou sobre a situação no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Gostaria de manifestar minha solidariedade com a população que está sofrendo com as fortes chuvas e um ciclone que passou pela região. A situação é grave, hospitais, casas, escolas e equipamentos públicos inundados. Estamos atentos para dar o apoio aos governos estaduais e prefeituras.”

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Prefeituras suspendem aulas

Nesta sexta-feira, cerca de 20 cidades do Rio Grande do Sul optaram por cancelar as aulas nas escolas das redes municipais devido aos problemas ocasionados pelo temporal das últimas 24 horas.

No litoral norte do RS, Tramandaí, Capão do Canoa, Torres, Cidreira, Osório e Terra de Areia também optaram pelo cancelamento das aulas devido às fortes chuvas e inundações. Na região metropolitana de Porto Alegre, cidades como Canoas, Gravataí, Alvorada, Viamão e Cachoeirinha, cancelaram as aulas durante o turno da tarde.

Em Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) orienta aos diretores das 98 escolas que avaliem pontualmente a situação de cada instituição e suspendam as aulas, caso necessário.

População registra locais com fortes chuvas

Pelas redes sociais, moradores, jornalistas e portais locais também relataram e publicaram vídeos de enchentes e fortes ventos em diversos pontos do Estado durante a noite.

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O Estadão entrou em contato com a Defesa Civil para obter informações sobre os prejuízos que a chuva desta madrugada causou, mas ainda não obteve retorno.

Veja onde há interdições em estradas do Rio Grande do Sul

  • ERS 446 Km12 - Carlos Barbosa - Bloqueio total - Queda de Barreira. CSG no local, há risco de novos deslizamentos.
  • ERS 239 Km 43 - Parobé - Bloqueio pista lateral - Queda de Barreira.
  • ERS 494 Km 07 - Três Cachoeiras - Queda de ponte. Não há possibilidade de passagem em ambos os sentidos.
  • ERS 030 Km 68 - Santo Antonio da Patrulha - Bloqueio parcial.
  • ERS 484 Km 00 - Maquiné - Bloqueio parcial - Queda de barreira.
  • ERS 484 Km 14 - Maquiné - Bloqueio parcial - Queda de barreira.
  • ERS 122 Km 33 - Bom Princípio - Bloqueio parcial - Água sobre a pista, aproximadamente 10cm - Possível trânsito.
  • ERS 122 Km 35 - Bom Princípio - Bloqueio parcial - Água sobre a pista. Aproximadamente 10cm - Possível trânsito.
  • ERS 122 Km 38 - São Vendelino - Bloqueio parcial - Água sobre a pista. Aproximadamente 10cm - Possível trânsito.
  • ERS 452 km 08 - Feliz - Bloqueio parcial - Água sobre a pista. Aproximadamente 10cm - Possível trânsito.
  • ERS 452 km 16 - Vale Real - Bloqueio parcial - Água sobre a pista. Aproximadamente 10cm - Possível trânsito.
  • VRS 373 Km 03 - Gramado - Bloqueio total - Água sobre a pista.
  • ERS 235 Km 11 - Gramado - Bloqueio total - Arvore sobre a pista. Equipe da EGR no local para desobstruir.
  • ERS 474 km 12 - Santo Antonio da Patrulha - Bloqueio total - Ponte interditada.
  • ERS 474 km 2 - Santo Antonio da Patrulha - Bloqueio total - Ponte interditada. Ponte desmoronou parcialmente com queda de veiculo, há risco de novas quedas.
  • ERS 389 km 34 - Xangri-la - Rodovia em meia pista. Cedeu o asfalto.
  • ERS 124 km 7 - Pareci Novo - Rodovia em meia pista. Rio Cai está invadindo a rodovia.
  • ERS 389 km 83 - Rolante/Riozinho - Rodovia bloqueada.
No Estado catarinense, as fortes chuvas causaram deslizamentos de terra em Joinville, Praia Grande e em São Francisco do Sul. Foto: Divulgação/PMPG

Ciclone extratropical também provoca transtornos em Santa Catarina

No Estado catarinense, as fortes chuvas causaram deslizamentos de terra em Joinville, Praia Grande e em São Francisco do Sul. Não há registro de vítimas.

Por meio das redes sociais, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), disse nesta sexta-feira que ficou mais tranquilo ao ver o sol nascer, depois de uma quinta-feira bastante chuvosa. No entanto, apesar da melhora do tempo, o Estado permanece em alerta em razão do solo ainda encharcado que pode causar deslizamentos de terra.

“Comecei o dia mais alegre ao ver o sol voltar ao nosso Estado, depois de tanta preocupação por causa da chuva”, publicou ele.

No dia anterior, na quinta-feira, ele afirmou que o alerta, em razão das chuvas, era muito alto para a cidade de Praia Grande, onde ao menos 70 pessoas ficaram desabrigadas, por causa de alagamento. Já para São João do Sul, o risco era muito elevado para deslizamento.

Em Tubarão, 19 idosos foram retirados de uma casa de repouso, por causa de alagamento. Em Pescaria Brava, Laguna e Jaguaruna foram registrados alagamentos pontuais. Já em Balneário Rincão, o nível da água subiu bastante, assim como em Forquilhinha.

Aulas também foram suspensas em cidades do Sul do Estado, como Araranguá, Balneário Gaivota, Ermo, Jacinto Machado, Praia Grande, Passo de Torres, Timbé do Sul e Turvo.

Na quinta-feira, a Defesa Civil do Estado catarinense alertou para tempo instável em Santa Catarina, com chuva persistente e volumosa para o litoral, Vale do Itajaí, áreas do meio-oeste e planalto sul. Atenção também para chuva intensa e volumosa entre a Grande Florianópolis e o litoral sul. /COLABOROU JOSÉ MARIA TOMAZELA

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