A maioria dos cientistas está feliz com os jornalistas e, ao contrário do que se acreditava, se sente muito confortável com a imprensa, revelou um estudo divulgado nesta quinta-feira, 10, pela revista Science. A reportagem diz que a investigação determinou que 57% dos cientistas estão "bastante satisfeitos" com sua relação com os jornalistas e somente 6% disseram estar "bastante insatisfeitos". Essa conclusão foi tirada através das respostas de 1.354 cientistas que trabalham em importantes campos de investigação vinculados à epidemiologia e às células-tronco no Reino Unido, Estados Unidos, França, Alemanha e Japão. Uma das perguntas básicas foi se os cientistas temiam que suas declarações fossem reproduzidas de forma errada, e se haviam conseguido difundir sua mensagem. A idéia de que os cientistas se fecham em uma "torre de marfim" e se encontram com a imprensa somente quando não podem evitar não se sustenta, disse Hans Peter Peters, do centro de estudos Forschungszentrum Jülich, da Alemanha. "Outro preconceito que deve ser erradicado é que os pesquisadores alemães têm dificuldade para se relacionar com os jornalistas e se sentem menos motivados para informar sobre suas pesquisas que seus colegas norte-americanos", acrescentou. Em termos mais gerais, o estudo determinou que a interação entre os meios de comunicação e os cientistas não está limitada às figuras de destaque da ciência. Quase dois terços dos pesquisadores que responderam ao questionário disseram terem sido entrevistados pelo menos uma vez nos últimos três anos. Quase um a cada três disseram que mantiveram contato com a imprensa ao menos cinco vezes no mesmo período. O estudo disse que 93% dos cientistas indicaram que um dos grandes fatores que ajudou seu contato com os jornalistas foi "conseguir uma atitude mais positiva do público em relação ao seu trabalho." Além disso, 46% disseram que o contato com a imprensa teve um impacto positivo sobre sua carreira, sendo que somente 30% manifestou um resultado negativo. Mas, por outro lado, um problema para os cientistas foi a falta de controle sobre o resultado de seus contatos com os meios de comunicação. Nove em cada dez indicou que o principal fator que inibia esse contato era o risco de que suas citações fossem usadas incorretamente. "Temos que nos perguntar por que essa relação é tão boa, dadas as conhecidas diferenças entre as culturas profissionais da ciência e do jornalismo, os conflitos de interesse e as mudanças que sofre a mensagem científica quando chega aos meios de comunicação", disse Peters. Steve Miller, pesquisador do Departamento de Estudos de Ciência e Tecnologia da Universidade de Londres e também jornalista, diz que quando cobre conferências científicas escuta, com freqüência, críticas de alguns que têm problemas com a mídia. "Por isso me surpreendo com o resultado da investigação de que quando os biomédicos estão sob a lupa do interesse público estão felizes com seus contatos com jornalistas", disse. "Isso demonstra que não se deveria acreditar nos contos de terror. Os jornalistas não comem os cientistas no café da manhã", disse.
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