Cinco anos depois, situação no Iraque 'é desesperadora'

Anistia Internacional e Cruz Vermelha denunciam falta de condições de vida e violência no país

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Por Da BBC Brasil
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Em uma situação "desesperadora", milhões de iraquianos vivem sem acesso a água tratada, saneamento básico ou atendimento à saúde, cinco anos após a invasão americana de 2003, afirmam nesta segunda-feira, 17, dois relatórios divulgados por organizações internacionais. Segundo a Cruz Vermelha, que descreveu a situação humanitária no Iraque como "uma das mais críticas do mundo", famílias iraquianas gastam até um terço de sua receita mensal de pouco mais de R$ 250 apenas para comprar água limpa. Veja também: Cruz Vermelha alerta para falta de recursos básicos no Iraque Ocupação do Iraque Dois em cada três iraquianos não têm acesso a água potável, completou um segundo relatório divulgado pela Anistia Internacional. De acordo com a Anistia, cerca de oito milhões de iraquianos - quase um terço da população de 27 milhões de habitantes - precisam de ajuda humanitária para viver. Os relatórios são divulgados na semana em que se completam cinco anos da invasão do Iraque, na madrugada de 19 para 20 de março de 2003. "Para as pessoas que precisam de água limpa, que precisam de acesso à saúde, a situação está pior do que nunca. Foram décadas de guerras e sanções, o que significa que não houve investimentos suficientes no sistema de saúde e em saneamento", disse à BBC o porta-voz da Cruz Vermelha em Washington Michael Khambatta. Ainda de acordo com a Cruz Vermelha, hospitais iraquianos se ressentem da falta de profissionais e medicamentos, e oferecem apenas 30 mil leitos, menos da metade dos 80 mil necessários. Direitos humanos O relatório da Cruz Vermelha é complementado por outro, da Anistia Internacional, que avalia como "desesperadora" a situação humanitária no país em guerra. "Milhares de pessoas foram mortas ou incapacitadas, e comunidades que antes viviam em harmonia foram precipitadas para o conflito aberto. Para muitas mulheres, agora sob risco de ataque por militantes religiosos, as condições até deterioraram em comparação com o período de Saddam Hussein", disse o relatório. De acordo com o relatório, mesmo na relativamente tranqüila região do Curdistão, no norte do Iraque, a melhoria econômica não foi acompanhada de mais respeito pelos direitos humanos. "Prisões arbitrárias, detenções e torturas continuam a ser registradas mesmo nas províncias do Curdistão", afirmou o diretor da Anistia Internacional para Oriente Médio e África, Malcolm Smart. "O governo de Saddam Hussein era sinônimo de abuso de direitos humanos, mas sua substituição não representou nenhum alívio para o povo iraquiano." Segundo o relatório, o número de mortos desde o início do conflito permanece incerto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que até junho de 2006 as mortes chegavam até 150 mil. Naquele ano, 35 mil pessoas morreram, afirmou a Anistia, citando a ONU. Apesar disso, os Estados Unidos afirmam que a segurança no Iraque está melhorando. As taxas de violência têm caído em até 60% desde junho do ano passado - embora o próprio comandante das tropas americanas no país, general David Petraeus, ressalte a volatilidade da situação. Visita surpresa Nesta segunda-feira, o general deve se encontrar com o vice-presidente americano, Dick Cheney, que chegou em Bagdá para uma visita surpresa. O vice-presidente americano, que dá início a um giro de dez dias pelo Oriente Médio, deve se encontrar com o primeiro-ministro iraquiano, Nouri Maliki, e outros políticos iraquianos. Depois Cheney visitará Omã, Arábia Saudita, Israel, Cisjordânia e Turquia. É a terceira visita dele ao Iraque, onde atuam 160 mil soldados americanos. Quase 4 mil já morreram desde o início do conflito. Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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